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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Dor de cabeça tem muitos tipos: diferencie a cefaleia comum da enxaqueca

A dor de cabeça atinge 96% das pessoas, ou seja, quase todo mundo já sofreu ou vai sofrer com esse problema um dia - iStock
A dor de cabeça atinge 96% das pessoas, ou seja, quase todo mundo já sofreu ou vai sofrer com esse problema um dia Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para o UOL VivaBem

30/04/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Dor de cabeça, também chamada de cefaleia, é todo desconforto sentido na região do crânio
  • Entre os vários tipos existentes, a mais comum é a enxaqueca, que geralmente é herdada
  • O maior risco de desprezar o incômodo é que ele leva ao uso excessivo de analgésicos e ao agravamento da dor, que poderá tornar-se diária
  • Para evitar as crises, os cuidados são para a vida toda

Conflitos familiares, falta de tempo para o lazer e o autocuidado, problemas no trabalho. Com tanta coisa para administrar no dia a dia, você pode ser mais um na estatística das pessoas que vivem tendo dor de cabeça desencadeadas pelo estresse.

Considerada uma das queixas mais comuns nos consultórios médicos, perdendo apenas para a dor lombar, a dor de cabeça, também conhecida como cefaleia, tem prevalência de 96%, especialmente entre as mulheres. Isso significa que praticamente todo mundo pode ter esse sintoma ao longo da vida. Um de seus tipos, a enxaqueca, chega a afetar 10% da população mundial.

Apesar de ter um impacto negativo na vida das pessoas, a dor de cabeça é considerada subdiagnosticada e subtratada. Uma das possíveis causas desse quadro é a banalização do sintoma dor de cabeça. Por parecer algo tão normal, as pessoas acabam se automedicando sem pensar em buscar ajuda especializada. Mas não deveria ser assim.

Como ela se manifesta?

Dor de cabeça é todo incômodo localizado na região craniana, ou seja, na testa, têmporas, e até na parte de trás do crânio. Qualquer sensação dolorosa nessa parte do seu corpo é considerada cefaleia.

Importante destacar que dor de cabeça não é uma doença, mas um sintoma que precisa ser investigado, caso se repita com frequência.

Por que isso acontece?

A origem da cefaleia tem causas variadas que podem ser um sinal de alerta para um distúrbio em qualquer parte do corpo, inclusive o cérebro. Potencialmente curável, uma vez tratada, a sensação desaparece. A dor de cabeça pode ser uma consequência de:

  • Gripe;
  • Meningite;
  • Sinusite;
  • Traumas Cranianos;
  • Tumores;
  • Problemas na região cervical;
  • Hemorragias cerebrais e meníngeas, entre outras.

A dor de cabeça também pode decorrer de algum problema relacionado ao sistema nervoso central (SNC). O mais comum é a enxaqueca. Incapacitante, ela é tida como uma disfunção herdada, já que acomete cérebros geneticamente predispostos. Nesse caso, a cefaleia será apenas um dos sintomas da doença.

Saiba diferenciar a dor de cabeça comum da enxaqueca

Dor de cabeça comum: entre os especialistas, ela é também definida como do tipo tensional. Geralmente, a dor comum tem intensidade leve a moderada e abrange toda a cabeça, conferindo-lhe uma sensação de peso ou pressão. Nessa hipótese, o incômodo passa com o uso de analgésico ou breve repouso.

Enxaqueca: a dor tem características próprias e sempre vem acompanhada de outros sinais, como os abaixo.

  • A intensidade é de média a forte;
  • A dor acomete um dos lados da cabeça, especialmente testa e têmporas, mas pode migrar para o outro lado ou ser bilateral;
  • A sensação dolorosa se manifesta como uma pulsação. É como se um coração batesse na cabeça;
  • Há maior sensibilidade à luz, sons, odores (perfumes, cheiro de alimentos, fumaça, cigarro etc.);
  • Pode ocorrer perda de apetite, enjoo ou vômito;
  • Percebe-se dificuldade de digestão, empachamento;
  • Sente-se vertigem, tontura ou sensação de desequilíbrio;
  • Observa-se ansiedade, irritação, cansaço e sonolência semelhantes ao que se vivencia quando se está em estado pré-gripal;
  • A compulsão por doces é notável;
  • Há queda da concentração e rendimento no trabalho, entre outros sinais.

Como as enxaquecas se dividem em dois tipos (com aura e sem aura), além de todos esses elementos, estarão presentes sintomas neurológicos como distorções visuais, isto é, o indivíduo enxerga pontos brilhantes, tem perda de campo visual: metade dele, apenas periférico ou mesmo perda total da visão por alguns momentos.

Os gatilhos da enxaqueca

Outra particularidade da enxaqueca é a identificação de gatilhos, ou seja, circunstâncias que podem "ligar" a dor. As mais frequentes são:

  • Cansaço;
  • Estresse;
  • Privação de sono;
  • Jejum prolongado;
  • Ciclos hormonais femininos;
  • Variações climáticas (extremo de clima --calor ou frio, bem como ambiente com ar-condicionado);
  • Consumo de álcool.

Quando procurar ajuda médica?

Se você conta três dias de dor de cabeça no período de um mês, ocasiões nas quais o uso de analgésico foi necessário, procure um neurologista imediatamente, conforme orientação é da SBCefaleia (Sociedade Brasileira de Cefaleia). A contagem pode ser assim: a dor se manifestou por três dias seguidos, ou um dia a cada semana.

"Se, durante um trimestre, você conta 15 dias ou mais de cefaleias no interregno de 30 dias, e isso se repete no espaço de um ano, já significa que a dor de cabeça é crônica, explica Thaís Villa, professora de neurologia e chefe do Setor de Cefaleias da EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo).

Aliás, as pessoas levam, em média, oitos anos para consultarem um especialista. "Isso porque quando o sintoma incomoda, ele nunca é levado a sério e as pessoas sempre encontram uma justificativa: é a TPM, um odor forte em determinado ambiente, o jejum prolongado. Aí, a alternativa para se livrar da dor é a automedicação", conta a professora da Unifesp.

"O problema é que o uso contínuo e repetido de medicações analgésicas é um dos principais fatores de agravamento ou piora das enxaquecas, e acabam fazendo que elas se tornem diárias", acrescenta Eliane Amaral Ghirelli, neurologista e professora da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

Como é feito o diagnóstico

O médico deve fazer um levantamento detalhado da sua história. Por meio de uma conversa ele buscará identificar as características da dor: frequência, duração, intensidade, local, além das situações em que ele se manifesta, piora ou melhora.

Esteja pronto para responder a ele se alguém de sua família tem sintoma semelhante, como é a sua rotina alimentar, o seu estilo de vida e as condições de trabalho, além de como enfrenta o estresse no dia a dia. Depois dessa conversa, vem o exame físico. Alguns médicos poderão observar as veias da cabeça e o pescoço, a articulação da mandíbula, dos ombros e a região cervical.

Se houver suspeita de que a origem da sua cefaleia seja enxaqueca, saiba que não há exame que defina um diagnóstico. Na verdade, é frequente que testes como ressonância magnética, encefalograma e tomografia apresentem resultados normais.

A enxaqueca é uma doença da função do cérebro, diferente de doenças de anatomia ou estruturais —como o aneurisma e o tumor — que têm evolução muito rápida (aguda) e levam a uma ação rápida em busca de uma solução. Já na enxaqueca, não. Como a função é daquela forma, as pessoas se acostumam a viver com a dor.

O que esperar do tratamento

Ele dependerá da causa da cefaleia. Como a situação mais comum é que se trate de um quadro de enxaqueca, o objetivo terapêutico é reduzir as crises.

Quando a dor está no auge, existem vários medicamentos específicos para o seu alívio, assim como opções profiláticas, ou seja, que previnem outro episódio e são de uso diário —alguns deles disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde). E até a toxina botulínica pode trazer alívio.

Além desses fármacos, há uma gama de estratégias não medicamentosas que incluem fisioterapia, acupuntura, nutrição e terapia cognitivo comportamental. No caso da enxaqueca, é preciso ter em mente que o cuidado será para sempre e que, para um controle consistente, o tempo de espera pode ser de um a dois anos.

O papel da dieta

Um determinado alimento pode ser um gatilho, mas isso acontece para a minoria e alguns especialistas afirmam que é um mito a ideia de que a enxaqueca tem causa alimentar. O que se observa na prática clínica é que a rotina de alguns pacientes é que é prejudicial, sendo comuns relatos de jejuns prolongados e hidratação inadequada, típicas situações desencadeantes de uma crise.

Principais alimentos, nutrientes e substâncias relacionados ao incômodo

- Cafeína: presente no café, chá-mate, chá-branco, chá-verde, chá-preto etc., refrigerantes e bebidas à base de cola, a substância pode ser retirada completamente da dieta e mesmo ser objeto de uma desintoxicação medicamentosa. Para algumas pessoas a retirada é gradativa e é admitido o consumo de café descafeinado.

- Adoçante à base de aspartame: encontrado em bebidas prontas, refrigerantes e iogurtes do tipo zero. Indica-se ler sempre a lista de ingredientes do produto para identificar se há o adoçante. O consumo não é proibido, mas deve ser limitado.

- Alimentos embutidos: presunto, peito de peru, linguiça, salsicha, entre outros, são ricos em nitrito, um oxidante do sistema nervoso e que pode desencadear a dor.

- Bebida alcoólica: quem tem enxaqueca, é sempre menos tolerante ao seu consumo.

O aconselhamento nutricional pode também incluir o consumo de vitaminas e minerais que têm sido relacionados à redução de crises, especialmente entre as mulheres. Magnésio, vitaminas B2, B6 e B12, coenzima Q10 e ômega 3, indicados em doses terapêuticas, têm sido aliados no tratamento e, em longo prazo, podem até ajudar a reduzir o consumo de medicamentos.

Se quiser incluir na dieta alimentos favoráveis, capriche na ingestão de vegetais verdes-escuros, oleaginosas, laticínios, carnes, peixes e frutas. "É importante esclarecer que tais itens não devem ser usados como se fossem remédios. Eles garantem uma boa rotina alimentar, ou seja, ajudam a construir um hábito saudável que leva à redução de crises", adverte Camila Naegeli Caverni, nutricionista e responsável pelo Programa de Tratamento Nutricional da Dor de Cabeça no Headache Center.

Dicas de prevenção ou para colaborar com o tratamento

Alguns fatores desencadeantes não são modificáveis, como as mudanças climáticas e os odores à sua volta, mas você pode colocar em prática os cuidados abaixo indicados para reduzir as crises:

  • Evite automedicar-se;
  • Procure um neurologista se a dor é aguda ou frequente;
  • Seja paciente e colaborativo durante o tratamento. Uma melhora considerável, com redução de crises de enxaqueca pode levar de um a dois anos;
  • Pratique atividade física regularmente;
  • Invista no autoconhecimento para ser capaz de identificar o que desencadeia a dor para você;
  • Procure comer de três em três horas. Jejum prolongado é gatilho para a dor;
  • Mantenha uma rotina de sono e procure dormir, no mínimo, sete horas por noite;
  • Evite o estresse ou tome providências para minimizá-lo;
  • Fuja do consumo de tabaco, álcool e outras drogas;
  • Garanta boa hidratação diária --beba de dois a três litros de água por dia, todos os dias;
  • Adote o hábito de anotar o que comeu, para identificar os alimentos que consumiu nas horas anteriores a uma crise.
  • Mantenha um peso saudável. Extremos na balança são fatores de risco para cronificação da dor de cabeça.

Fontes: Thaís Villa, professora de neurologia e chefe do Setor de Cefaleias da EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo) e membro da diretoria da SBCefaleia (Sociedade Brasileira de Cefaleia); Eliane Amaral Ghirelli, neurologista e professora da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Camila Naegeli Caverni, nutricionista, responsável pelo Programa de Tratamento Nutricional da Dor de Cabeça no Headache Center Brasil, e pós-graduanda na EPM-Unifesp; Fábio Porto, neurologista do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); ANA (American Nutrition Association). Revisão técnica: Thaís Villa.

Referências:

- GRIEP, R. H. et al. Work-family conflict, lack of time for personal care and leisure, and job strain in migraine: Results of the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (Elsa-Brasil). American Journal of Industrial Medicine. v. 59, n. 11, p. 987-1000, nov. 2016.
- Rizzoli P., Mullalli WJ. Headache. The American Journal of Medicine. 131(1):17-24, Jan. 2018.
- Timothy J. Steiner, Lars J. Stovner, Theo Vos, R. Jensen, Z. Katsarava. Migraine is first cause of disability in under 50s: will health politicians now take notice. Journal of Headache Pain. 19 (1): 17, 2018.
- Queiroz LP., Silva Junior AA. The prevalence and impacto f headache in Brazil. Headache. 55 Suppl 1:32-8, 2015.

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