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Por que o tesão importa: a importância da PrEP
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Com a chegada da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) na prevenção do HIV, o mundo teve que se acostumar com uma realidade antiga, mas pouco aceita: existem pessoas que não vão usar a camisinha em todas as suas relações sexuais. Essas pessoas sempre existiram e sempre vão existir.
Fingir que o sexo sem camisinha seria um dia erradicado não funcionou no controle do HIV e de outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis). Assim, ele foi então colocado no centro da mesa para ser estudado e compreendido.
As razões que levam alguém a usar o preservativo de forma inconsistente podem ser inúmeras, variando desde a ingênua confiança na parceria, passando pela perda de ereção, e chegando até a sincera constatação de que o sexo sem camisinha dá mais tesão. Quem não se lembra do bordão popular "Fazer sexo com camisinha é como comer a bala com papel"?
Apesar de popular, a ideia de que, para alguns, o sexo pode ser melhor sem a camisinha foi duramente confrontada ao longo da história da prevenção do HIV no Brasil. As campanhas de prevenção e o senso comum sempre tentaram nos ensinar que o sexo sem camisinha poderia ser a causa de sérios problemas de saúde, sobretudo se você fosse um homem gay ou bissexual.
Tal forma de forma de comunicação, que utiliza o medo como motor da prevenção, fez com que parte de uma geração enxergasse sua vida sexual como uma coisa perigosa, sendo ameaça constante uma eventual infecção por HIV. Criando, assim, um mecanismo perverso que determina que quanto mais gostoso fosse o sexo, mais risco haveria nele.
Com a chegada da PrEP e a possibilidade de se garantir prevenção eficaz contra o HIV independente do uso do preservativo, as coisas começaram a mudar nesse debate. Passaram a ser frequentes, por exemplo, os usuários de PrEP relatando que depois do início dos comprimidos o medo presente em suas vidas sexuais havia se dissipado.
Com o intuito de avaliar de forma sistematizada as mudanças que a PrEP pode provocar na qualidade de vida sexual e na saúde mental dos seus usuários, o psicólogo Daniel Bertevello decidiu abordar o tema na sua dissertação de mestrado, defendida na última semana no Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP.
Em seu trabalho, Bertevello aplicou um questionário para 221 usuários de PrEP avaliando qualidade de vida sexual, ansiedade e depressão entre 2020 e 2021. As perguntas captaram as mudanças na vida sexual dos participantes comparando os períodos pré e pós início da PrEP.
Os resultados são impressionantes. Para 54,3% dos participantes o uso da PrEP diminuiu a interferência do receio do HIV durante a relação sexual ou depois dela, e para 73%, a possibilidade da infecção por HIV passou a atrapalhar menos/muito menos na qualidade de suas relações.
O chamado "Alívio Subjetivo", definido como relato de melhora do pensamento no HIV, da preocupação com o risco de infecção e da qualidade das relações sexuais foi identificado em 120 dos 221 (54%) após o início da PrEP.
Uma vida sexual livre, satisfatória e de qualidade, sem medo nem julgamento, é uma das metas de saúde integral propostas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Ministério da Saúde. Meta essa que, em nome do controle da pandemia de HIV, foi atropelada e substituída por recomendações prescritivas e limitadoras de vidas sexuais nas últimas décadas.
A constatação científica de que o uso da PrEP, além de evitar uma infecção por HIV, pode também melhorar a qualidade de vida sexual da população é de extrema importância. Ela pode ser utilizada como atrativo e motivador da prevenção, obtendo resultados muito melhores que o medo.
As campanhas de promoção do uso do preservativo, no entanto, não devem ser interrompidas, afinal esse é um excelente método de prevenção para todos que o utilizam de forma consistente. Mas aqueles que não se adaptam à camisinha, ainda que seja por causa do tesão, precisam conhecer e ter acesso à PrEP como método adicional de prevenção. Porque o tesão importa.
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