Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Enquanto espera por vacina, Brasil lidera em mortes por monkeypox no mundo
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Na última semana, aconteceu em Belém (PA) o 57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop). O evento, que tradicionalmente reúne pesquisadores de doenças que há décadas circulam e pelo país e são classificadas como negligenciadas, tais como malária, leishmaniose, tuberculose e esquistossomose, nessa edição deu destaque especial ao recém-chegado monkeypox.
Apesar de ter sua epidemia no país iniciada em junho/22, o monkeypox encontrou seu lugar no MedTrop por estar também sendo tratado com negligência pelo poder público.
Ao longo de todo o congresso, no final de cada plenária ou mesa redonda que abordava o tema monkeypox, a primeira pergunta que surgia era sempre a mesma: Quando iniciaremos a campanha de vacinação no Brasil? Infelizmente em nenhuma das vezes houve uma resposta oficial de Ministério da Saúde para acalmar a preocupação da plateia.
Essa preocupação não é só dos congressistas do MedTrop, mas de qualquer pessoa que esteja atenta aos números da epidemia, sobretudo no atual momento, em que o número de novos casos da doença voltou a subir no país. Segundo a plataforma OurWorldinData.org, que compila os dados desta epidemia, somente entre 7 e 10 de novembro, a média móvel de incidência de monkeypox no Brasil aumentou em 117%.
Segundo dados a OMS (Organização Mundial da Saúde), globalmente já foram notificados 79.641 casos de monkeypox e 51 mortes em decorrência pela doença, dos quais 9.637 e 12, respectivamente, foram no Brasil. Isso nos coloca em segundo lugar no mundo em número de casos e na liderança dos óbitos.
Os dados da OMS também deixam evidente que depois de uma explosão de casos no início da epidemia em países europeus, como Reino Unido, Espanha, Portugal e Alemanha, após o início da vacinação nesses locais, o epicentro mundial do monkeypox passou a ser as Américas.
Se por um lado os dados epidemiológicos tranquilizam pela baixa letalidade da doença (0,06%), por outro merece atenção a concentração dos óbitos entre indivíduos imunodeprimidos, especialmente aqueles com infecção por HIV já em estágio avançado de Aids. Até agora, em todo mundo, cerca de 50% dos casos da doença ocorreram entre pessoas vivendo com HIV e, no Brasil, praticamente todos os óbitos em decorrência do monkeypox foram em indivíduos com Aids.
Ainda que não tenhamos um posicionamento concreto do Ministério da Saúde sobre o início da campanha brasileira de vacinação contra monkeypox, a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) lançou na semana passada um documento recomendando a priorização das pessoas que vivem com HIV e Aids imunodeprimidas (com contagem de linfócitos CD4 < 350) nessa imunização. Afinal, ainda que sejam poucas, as mortes estão concentradas nesse grupo.
O Ministério da Saúde havia divulgado, em setembro, a aquisição de 50 mil doses da vacina contra monkeypox que seriam entregues ao Brasil até o final de 2022. Apesar disso, por ora a recomendação é de aguardar.
Enquanto isso, precisamos manter o tema presente no debate público e a atenção nas lesões de pele não habituais para reduzirmos a taxa de subnotificação. Ainda que uma pessoa não nenhum outro sintoma além da erupção cutânea, esse pode ser mais um caso da doença e é recomendada avaliação médica para a solicitação do exame confirmatório. E mais do que nunca é bom agora manter atualizada a testagem periódica de HIV.
O ideal seria que não houvesse um grupo de doenças classificadas como "negligenciadas". Menos desejado ainda é o crescimento dessa lista, ainda mais se for por uma doença que pode ser contida com vacinação.
Se formos espertos, não precisaremos no próximo MedTrop falar novamente de monkeypox.
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