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Prevenção de ISTs com medicamentos e vacina, um futuro que se aproxima
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Enquanto o Brasil caía na folia do Carnaval, na última semana acontecia em Seattle, nos EUA, a CROI, uma grande conferência anual sobre HIV e ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).
Lá foram apresentados os resultados de um estudo que poderá no futuro transformar a vida dos foliões, sobretudo os que se expõem a ISTs em relações com parcerias casuais no Carnaval ou fora dele.
Trata-se do estudo francês DoxyVac, que avaliou a prevenção das ISTs bacterianas gonorreia, clamídia e sífilis com o uso de uma PEP (Profilaxia Pós-Exposição) feita com um antibiótico e de uma vacina protetora contra a gonorreia.
O interesse da comunidade científica internacional pela prevenção de ISTs bacterianas com medicamentos surgiu depois que estudos comprovaram na década passada que a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) ao HIV, feita com antirretrovirais em comprimidos, reduzia em mais de 99% o risco de infecção por esse vírus.
Se a prevenção biomédica funciona tão bem para o HIV, será que funcionaria também para as outras ISTs?
O DoxyVac nos trouxe resultados bastante animadores. Mas antes, deixe-me dar um passo atrás para fazer um breve histórico da construção desse conhecimento.
O primeiro grande estudo que se dedicou a avaliar esse assunto foi o Ipergay, publicado em 2017. Ele demonstrou que o uso do antibiótico doxiciclina em dose única depois de uma exposição sexual reduzia as infecções por clamídia e por sífilis em 70% e 73%, respectivamente, mas não trazia nenhuma proteção contra a gonorreia.
A razão da ineficácia na prevenção da gonorreia é também o maior motivo de preocupação dos cientistas: o desenvolvimento de resistência bacteriana aos antibióticos pela Neisseria gonorrhoeae, a bactéria causadora da gonorreia. De fato, com mais de 50% das cepas de gonorreia já resistentes à doxiciclina na população estudada, esse resultado já era esperado.
Preocupados então com prevenção e resistência aos antibióticos, os mesmos pesquisadores franceses desenvolveram o estudo DoxiVac, que avaliou uma dupla intervenção preventiva, utilizando, além da PEP com doxiciclina, uma vacina preventiva contra a gonorreia.
A vacina utilizada foi na verdade desenvolvida para a proteção contra meningite por Neisseria meningitidis do tipo B, uma bactéria do mesmo gênero que a Neisseria gonorrhoeae. Entretanto, em um ensaio clínico desenhado para avaliação dos casos de meningite, o uso da vacina foi associado à redução de mais de 30% nos casos de gonorreia.
No estudo DoxyVac apresentado na última semana, os participantes incluídos eram todos homens gays ou bissexuais em uso de PrEP para HIV, que foram sorteados duas vezes. Primeiro para receber ou não a vacina, e depois para receber ou não a PEP com doxiciclina, que deveria ser tomada até 72 horas depois das relações sexuais.
Aqueles que receberam a PEP com antibiótico tiveram redução de 79% nas infecções por sífilis e de 89% nas por clamídia. E os participantes que receberam as doses da vacina tiveram 51% menos casos de gonorreia.
Curiosamente, apesar de não esperado, nesse estudo a PEP com doxiciclina também reduziu os casos de gonorreia, no entanto, esse dado não deve ser interpretado com otimismo, uma vez que em pouco tempo esse efeito pode desaparecer com o surgimento de resistência ao antibiótico.
No DoxyVac foram incluídos na análise 502 participantes que foram acompanhados em média por 9 meses. Dessa forma, seu resultado sozinho não vai mudar nenhuma recomendação ou conduta por enquanto, mas consegue delinear excelentes caminhos futuros de investigação para estudos com mais participantes e maior tempo de acompanhamento.
Para quem gosta ou não de pular o Carnaval, tudo indica que num futuro não muito distante as alternativas de prevenção contra gonorreia, clamídia e sífilis vão se tornar tão diversas quanto já são contra o HIV.
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