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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Brasil fica de fora da discussão mundial do uso de anéis vaginais de PrEP

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

28/04/2023 04h00

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Se você está atento à moderna prevenção das ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), certamente já ouviu falar da Profilaxia PrEP (Pré-Exposição ao HIV). Trata-se do uso de um comprimido com medicamentos antirretrovirais por pessoas não infectadas por HIV com o objetivo de protegê-las dessa infecção.

Quando tomada com boa adesão, a PrEP consegue reduzir em mais de 99% o risco da transmissão do HIV em uma relação sexual. Com isso, a PrEP está provocando uma verdadeira revolução no controle da epidemia de HIV/Aids nos lugares em que teve sua implementação bem-sucedida.

Se você é um expert no assunto, deve saber que existe uma grande e promissora linha de pesquisa científica em desenvolvimento dedicada aos medicamentos injetáveis de longa duração para serem usados como PrEP. Não dependendo da adesão a comprimidos, estudos iniciais já conseguiram demonstrar que a proteção da PrEP injetável é até superior à da PrEP oral.

Agora, uma coisa que eu aposto que apenas pouca gente sabe é que existe também uma PrEP na forma de anéis vaginais que já se mostrou eficaz na prevenção do HIV em mulheres cisgênero heterossexuais.

Estou falando dos anéis vaginais contendo um antirretroviral chamado dapivirina, colocado pela própria usuária no fundo da vagina e trocado mensalmente. Eles foram avaliados em uma série de ensaios clínicos cujos resultados demonstraram que o seu uso é seguro e reduz significativamente o risco de transmissão do HIV durante o sexo vaginal, desde que usados de forma consistente.

Nos primeiros estudos, em que as participantes eram randomizadas aleatoriamente para usarem anéis com dapivirina ou placebo, a proteção contra o HIV no grupo do antirretroviral foi modesta, em torno de 30%. Em estudos posteriores, em que todas as participantes usavam anéis verdadeiros já sabendo que eles poderiam protegê-las, a eficácia contra o HIV subiu para cerca de 62%.

Por fim, em subanálises desses últimos estudos, foi possível determinar que, considerando apenas as participantes que de fato usaram os anéis de forma consistente e continuada, a redução na transmissão do HIV ficou entre 7%5 e 91%.

Quando o assunto é prevenção do HIV, essa é uma conclusão que se repete: não importa qual o método em questão, mas ele só vai funcionar se for usado corretamente. Exatamente por isso, ter diferentes métodos disponíveis é fundamental para que cada indivíduo possa escolher aquele ou aqueles que melhor se encaixam na sua vida.

Na linha do tempo do desenvolvimento da PrEP com anéis vaginais, após a publicação dos estudos citados acima, tanto a agência que faz a regulação de medicamentos na Europa quanto a OMS (Organização Mundial da Saúde), passaram a recomendar o uso os anéis de dapivirina como método adicional de prevenção para mulheres sob risco de se infectarem por HIV, sobretudo em regiões de alta prevalência dessa infecção na população cis feminina.

Essa linha, no entanto, se quebrou quando a agência regulatória de medicamentos estadunidense se posicionou contra a recomendação do uso da PrEP em anéis vaginais.

Essa notícia fez com que os ativistas da saúde sexual e reprodutiva das mulheres e os profissionais de saúde daquele país iniciassem uma campanha reforçando a importância da autonomia de escolha dos métodos de prevenção do HIV e exigindo a inclusão dos anéis de dapivirina na lista de opções disponíveis de PrEP nos Estados Unidos.

No Brasil, esse é um debate que não parece estar nem perto de começar. Desde o ano passado, com a atualização do seu Protocolo Clínico, a PrEP na forma de comprimidos tomados diariamente é recomendada para qualquer mulher com mais de 15 anos de idade sob risco de se infectar com HIV.

Toda essa discussão sobre a autonomia de escolha do método de prevenção está repetindo a trajetória das últimas décadas dos métodos contraceptivos, conceitos com os quais já estamos bem familiarizados no Brasil. Inclusive, as próximas gerações dos anéis vaginais, ainda em fase de desenvolvimento, prometem conter tanto antirretroviral quanto anticoncepcional e poderão ser trocados a cada 3 meses, o que deve aumentar significativamente sua adesão entre suas usuárias.

Enquanto a faísca da discussão da PrEP em anéis vaginais ainda não se inicia no Brasil, convido a todos para já começar a refletir sobre como a autonomia pode ser um promotor de saúde.

Para se dar essa autonomia, é preciso primeiro garantir a educação em saúde da população. E com educação, uma população vai mais longe e com mais saúde.