Rico Vasconcelos

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Opinião

PrEP expande pelo mundo, mas acesso ainda é desigual

A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) é um potente método de prevenção contra o HIV para os indivíduos que tomam os comprimidos com boa adesão. Seu uso tem o potencial de alterar de forma radical o curso da epidemia de HIV/Aids e está reduzindo significativamente o número de novos casos dessa infecção nas localidades em que sua implementação foi bem-sucedida.

Infelizmente, no entanto, os bons exemplos desse sucesso ainda são poucos.

Recentemente, completaram-se 10 anos desde que a PrEP passou a ser recomendada como estratégia adicional de prevenção para indivíduos com risco elevado de se infectarem. Apesar de haver uma perspectiva animadora, o que vemos globalmente hoje em relação à PrEP é um verdadeiro mosaico, com acesso e números de usuários bastante desiguais entre os países e regiões.

Segundo o portal PrEP Watch, uma iniciativa da organização sem fins lucrativos AVAC, no primeiro semestre de 2023, havia em todo mundo um pouco menos de 4,5 milhões de pessoas que já tinham iniciado o uso da PrEP.

A meta estipulada pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) era a de chegarmos ao ano de 2020 com 3 milhões de usuários de PrEP no planeta, no entanto ela só foi atingida no meio de 2022.

Nesse mosaico, o Brasil certamente é um destaque dentro da América Latina, sendo pioneiro na oferta de PrEP como política pública de saúde, e chegando hoje, 5 anos depois do início do PrEP SUS, à marca de pouco mais de 100 mil usuários de PrEP.

O número impressiona ao mesmo tempo que preocupa. Isso porque, quando comparado com os recordistas mundiais de usuários de PrEP, como a África do Sul (880.000) ou a Nigéria (440.000), é fácil concluir que estamos apenas no começo da escalada.

Além disso, os dados preocupam porque dentro do Brasil temos também um mosaico. Enquanto alguns estados conseguiram ampliar com êxito o acesso à PrEP, outros parecem estar engatinhando. São Paulo, o mais populoso conta com mais de 40% dos usuários de PrEP do país. Por outro lado, Minas Gerais, o segundo mais populoso, tem apenas 5%.

Sendo a epidemia de HIV um fenômeno dinâmico, que não respeita as divisões geográficas, não basta ter apenas parte do território nacional com as taxas de incidência em queda.

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Mas quantas pessoas deveriam estar em PrEP hoje no Brasil para que o país, como um todo, começasse a puxar para baixo a curva de incidência de HIV?

Essa é uma resposta complexa e que pode ter mais de uma forma de cálculo. O Unaids até já publicou um manual em 2021 com um elaborado passo a passo para chegar nesse número. Mas o que me importa discutir aqui não é exatamente o resultado preciso dessa fórmula, mas os facilitadores e os obstáculos do acesso à PrEP.

Mais do que serviços realizando o atendimento de pessoas interessadas em iniciar a PrEP, precisamos de profissionais capacitados para acolhê-las, sensibilizados para valorizar esse movimento de busca por prevenção.

Precisamos garantir a autonomia para que as pessoas adultas encontrem os métodos de prevenção que se adaptam às suas vidas, sem que haja a deletéria hierarquização dos diferentes componentes da prevenção combinada.

Precisamos acabar com o julgamento e a discriminação das sexualidades diversas por profissionais e por gestores nos serviços de saúde. E precisamos mais do que nunca de campanhas informativas sobre prevenção e educação sexual, não só para os grupos mais vulnerabilizados pela epidemia de HIV/Aids, mas para toda a população.

A África do Sul, com ¼ da população brasileira e mais de 8 vezes mais usuários de PrEP, está empenhada em erradicar a transmissão sexual do HIV, tal como já está prestes a conseguir a Austrália.

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Seria ótimo e histórico ver no Brasil esse mesmo empenho.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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