Rico Vasconcelos

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Opinião

Prevenção do HIV e de outras ISTs precisa ser acessível também para idosos

Quando o assunto é HIV/Aids, é comum apontar a população de adolescentes e adultos jovens como os grupos deixados de lado pelas campanhas e ações de prevenção. Por outro lado, a prevenção no extremo oposto da vida raramente é discutida.

O Brasil, no entanto, tem uma população que não só está envelhecendo, mas também tem vida sexual até uma idade cada vez mais avançada.

Segundo dados da última PNAD contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nos últimos 10 anos a parcela da população brasileira com 60 anos ou mais foi de 11,3% para 14,7%, um aumento que equivale a cerca de 9 milhões de idosos.

Associado a isso, no mesmo período, presenciamos uma revolução cultural e biomédica que proporcionou a extensão da atividade sexual na terceira idade. A cultural envolveu, entre outros aspectos, a melhor aceitação do término de longos relacionamentos monogâmicos com posterior retomada das parcerias sexuais causais.

Além disso, com o desenvolvimento de hormônios que melhoram o ressecamento de mucosas vaginais pós-menopausa, e de tratamentos medicamentosos para a disfunção erétil, a vida sexual nessa faixa etária além de mais longa se tornou melhor e mais satisfatória.

Todos esses dados seriam ótimos, se a população idosa estivesse devidamente educada para gerenciar suas vulnerabilidades e prevenção do HIV e de outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), mas a realidade é exatamente o contrário.

Não existem campanhas informativas sobre a prevenção combinada direcionada para esse grupo. Tratando idosos como assexuados ou "não-engravidáveis", não costuma haver um momento nas consultas de saúde para se abordar a sexualidade e, por isso, simplesmente não são solicitados os exames de rastreamento de ISTs.

O resultado dessa equação é o aumento progressivo do número de pessoas infectadas com HIV entre as faixas etárias mais avançadas no Brasil e no mundo.

Nos Estados Unidos, por exemplo, uma vez que mais idosos estão se infectando com HIV e que os adultos infectados têm oportunidade de envelhecer com saúde devido ao tratamento antirretroviral, estima-se que 50% da população vivendo com HIV já tenha 50 anos de idade ou mais.

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Seguindo a mesma tendência, no Brasil os novos casos de HIV nessa população aumentaram em cerca de 10% entre 2009 e 2019.

Uma solução para reverter essa tendência sem precisar acabar com a vida sexual de ninguém é incluir os idosos com vida sexual ativa na educação sobre prevenção combinada do HIV e outras ISTs. Nessa abordagem, é dada autonomia para que cada pessoa encontre os métodos de prevenção que se adequam à sua vida e suas vulnerabilidades.

Isso envolve não apenas o uso do preservativo, mas a aplicação de vacinas, o uso de lubrificante, o rastreamento periódico de ISTs, o tratamento daquelas diagnosticadas e a avaliação da indicação do uso das PrEP e PEP (Profilaxias Pré e Pós-Exposição ao HIV, respectivamente).

O uso de PrEP na população idosa, no entanto, requer atenção devido ao maior risco de desenvolvimento de efeitos colaterais renais e ósseos, mas não deve ser descartada. Afinal, uma infecção por HIV pode ser muito mais deletéria.

Assim como na educação sexual entre jovens, ignorar o tema sexualidade é a pior forma de se abordar esse problema de saúde pública, mas tabu e conservadorismo costumam minar o sucesso das ações mais progressistas.

A meta de um envelhecimento ideal precisa incluir também a possibilidade de uma vida sexual desenvolvida com autonomia, satisfatória, livre e saudável.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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