Rico Vasconcelos

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Opinião

Hellena Malditta dá uma aula de HIV no DragRace Brasil

Nas últimas semanas, o reality show DragRace Brasil tem feito um excelente trabalho de educação em saúde dentro da temática do HIV/Aids, provando que, com criatividade, arte e vontade, é perfeitamente possível tornar atraente um tema que normalmente assusta o público.

A franquia brasileira do já consagrado programa norte-americano RuPaul's DragRace começou sua primeira temporada brasileira no final de agosto. Para quem não conhece o formato desse reality, 12 Drag Queens estão numa corrida eliminatória. Se esforçam em meio a maquiagens, figurinos, LipSyncs (dublagens), performances e bastante sarcasmo para tentar escapar da eliminação ao final de cada novo episódio.

Uma Drag Queen é eliminada a cada semana. Aquela que chegar ao final é proclamada a rainha da temporada.

Com participantes e público na sua maioria compostos por homens gays e pessoas não-binárias ou com gênero fluido, o reality há muitos anos arrebata uma gigantesca audiência em todo o mundo com temporadas produzidas tanto nos Estados Unidos como nos demais países que já produziram sua própria versão, como Holanda, Espanha, Reino Unido e México. E no Brasil, não está sendo diferente.

Uma das fórmulas para cativar seus espectadores são os debates desenvolvidos no camarim enquanto estão se maquiando sobre questões que estão presentes na vida de todas as pessoas LGBT+ do planeta, tais como o bullying escolar ou a aceitação familiar. Essa identificação aproxima o público da narrativa do programa e abre em absoluto seus ouvidos para o aprendizado naquele assunto.

Foi nesse contexto que uma das participantes da temporada brasileira atual brilhou nas últimas semanas. Hellena Malditta, uma Drag Queen de 24 anos nascida em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e criada em Salvador, decidiu revelar para suas colegas as dificuldades que enfrentou quando ainda bem jovem descobriu que tinha se infectado com HIV.

Ela fala com emoção o peso de ter que lidar sozinha com esse diagnóstico, sobre as discriminações que já sofreu por casa dele, e que a criação da sua Drag Queen foi uma das maneiras que encontrou para se fortalecer.

Ao contar sua história, ela chora e em seguida todas as outras participantes a abraçam, ensinando aos espectadores a importância e o poder do acolhimento na vida das pessoas que vivem com HIV.

Em outro momento, Hellena Malditta ressalta o privilégio brasileiro de poder contar com um sistema público de saúde como o SUS, que oferece gratuitamente tratamento para o HIV, além de diferentes métodos para a sua prevenção, inclusive com as Profilaxias Pré e Pós-Exposição ao HIV (PrEP e PEP).

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E para coroar o movimento, em um desfile que tinha como referência a Carmen Miranda, Hellena Malditta escolheu ir belíssima de Girl from SUS (Garota do SUS), com uma saia feita de camisinhas e brincos exaltando a PrEP e o SUS.

Talvez Hellena não saiba, mas a sua história de infecção por HIV antes dos 20 anos de idade é uma das tendências que mais preocupam o cenário da epidemia brasileira de HIV. Assim como ela, foi entre os mais jovens em que as novas infecções cresceram de maneira mais acelerada na última década, especialmente entre aqueles com sexualidades diversas.

Esse grupo populacional é também um dos mais difíceis de se atingir e conscientizar por meio de campanhas educativas de prevenção. Assim, quando usa o canal e a exposição do DragRace Brasil para trazer essa temática, Hellena Malditta acerta em cheio e leva informação de qualidade para quem mais precisa dela hoje no Brasil.

Atitudes como a de Hellena, requerem uma boa dose de coragem pois envolve extrema exposição em um país que por conta da sorofobia e discriminação ainda lida muito mal com o assunto HIV, e prefere evitá-lo. No entanto, tem um potencial educativo transformador imenso.

Hellena Malditta pode ter perdido a oportunidade de contar com a PrEP ou a PEP para se manter livre do HIV. Mas quando segura essa bandeira no DragRace Brasil está humanizando as pessoas que vivem com HIV/Aids e ajudando outras centenas de milhares de jovens LGBT+ a se prevenirem dessa infecção.

Para mim, por sua arte e generosidade, Hellena Malditta já é a grande vencedora dessa temporada do reality. Benditas as pessoas que têm consciência do poder das suas mensagens.

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Obrigado pela ajuda, Hellena Malditta.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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