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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Afta comum não tem tratamento; higiene, medicações e laser aliviam a dor

Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

20/04/2021 04h00

Quem vê o seu tamanho não pode acreditar que ela seja capaz de causar tamanho incômodo. Quando ela dá as caras, pode esperar que a dor virá, será intensa, e você terá de ser paciente por até duas semanas.

Estamos falando da afta, uma ferida que se instala na parte interna da bochecha ou dos lábios, na língua e até na garganta.

Considerada a mais comum entre as doenças bucais, ela começa a se manifestar já na infância e adolescência, persiste na idade adulta e é mais rara com o avançar da idade.

Até o momento, a origem da afta permanece desconhecida, mas já foram identificados vários fatores desencadeantes a ela relacionados. Além disso, sabe-se que a enfermidade acomete cerca de 20% da população mundial, e que ela é mais frequente entre as mulheres.

Atualmente não existe um tratamento específico para esta doença, e as estratégias terapêuticas visam aliviar seus sintomas por meio de práticas que vão desde orientações sobre higiene, uso de enxaguatórios bucais —como substâncias naturais de comprovado efeito anti-inflamatório— até medicamentos específicos e laser, a depender da gravidade das lesões.

O que é afta?

Trata-se de uma doença que se manifesta na mucosa bucal, caracterizada por um processo inflamatório que, com o passar dos dias, se rompe superficialmente deixando no local uma úlcera (ferida) rasa. Ela possui fundo acinzentado, é rodeada por um halo avermelhado, é dolorida, e pode ser única ou múltipla.

A afta possui um ciclo clínico que dura, em média, de 1 a 2 semanas e se resolve de forma espontânea. Por isso, ela é considerada autolimitada. Quando ocorrem múltiplas aftas simultaneamente, os dentistas e médicos se referem a ela como estomatite aftosa recorrente (EAR). As explicações são de Melissa Tomie Mozena Rissete, cirurgiã-dentista do CHC-UFPR.

As regiões mais afetadas são a parte interna da bochecha ou dos lábios, a língua e a garganta. Úlceras no palato duro (céu da boca) e na gengiva rósea, normalmente, não são aftas.

O que provoca a afta?

Embora a EAR já tenha sido descrita há milênios pelo próprio Hipócrates —o pai da medicina— até hoje não se sabe exatamente qual é a sua causa. A literatura sobre a doença revela que é possível que a afta decorra de um desequilíbrio do sistema de defesa do corpo, o que facilita o ataque à membrana da mucosa oral (epitélio).

Apesar disso, já foram identificados alguns fatores desencadeantes que tornam as pessoas mais ou menos suscetíveis ao problema. Confira:

  • Hereditariedade (se seus pais têm afta, a chance de você também ter é de 90%)
  • Mudanças hormonais (ciclo menstrual)
  • Traumas (uso de aparelhos, escovação de dente agressiva, mordeduras acidentais)
  • Sensibilidade a alimentos ácidos (chocolate, abacaxi, temperos, canela, queijo, figo, tomate, laranja, berinjela, bebidas à base de cola)
  • Deficiência nutricional (ferro, ácido fólico, vitaminas B6, B12, D e zinco)
  • Alergias alimentares (doença celíaca)
  • Cremes dentais com LSS (Lauril Sulfato de Sódio)
  • Tabaco (principalmente após parar de fumar)
  • Exposição a toxinas (nitratos)
  • Refluxo gastroesofágico
  • Uso de drogas
  • Estresse

O que as aftas causam

O sintoma mais comum da afta é a dor intensa, que pode ter a duração média de 3 dias, e incomoda toda vez que a língua ou os alimentos alcançam a lesão.

Após essa fase, a dor diminui, mas a afta permanecerá no local até completar o seu ciclo (7 a 14 dias), que termina com a reparação do tecido afetado.

Antes que a sensação dolorosa seja percebida, podem ser observados:

  • Maior sensibilidade local
  • Queimação
  • Inchaço
  • Um ponto vermelho na mucosa que evoluirá para uma ferida
  • Casos graves apresentarão febre, inchaço dos gânglios linfáticos e mal-estar geral.

Quando devo procurar um médico?

A afta é considerada uma doença comum que, geralmente, se resolve sozinha. No entanto, algumas doenças podem predispor o seu aparecimento.

Em algumas situações, a presença de úlceras na cavidade oral [que nem sempre são aftas] podem estar relacionadas a outras enfermidades. Veja alguns exemplos:

  • Câncer
  • Alergias a determinados medicamentos (como antibióticos)
  • Síndrome de Behcet
  • Lúpus
  • HIV
  • Doença de Crohn
  • Doença Celíaca
  • Artrite

Severino Barbosa dos Santos, clínico geral e professor de gastroenterologia do curso de medicina da UPE, diz que quando as aftas são muito recorrentes (aparecem seguidamente e várias vezes ao ano), são grandes e demoram para cicatrizar, ou seja, elas ainda incomodam após 3 ou 4 semanas, é preciso ficar atento.

"Esses são sinais de alerta que indicam que é preciso procurar ajuda especializada, especialmente quando, junto a esses sintomas, houver febre, fadiga, mal-estar geral, perda de apetite ou úlceras em outras partes do corpo", acrescenta o médico.

Os especialistas capacitados para avaliá-lo são o dentista, o estomatologista (cirurgião-dentista especialista em doenças bucais), o clínico geral, o gastroenterologista e até o otorrinolaringologista.

Como é feito o diagnóstico

Na hora da consulta, o dentista ou o médico ouvirá sua queixa, fará o levantamento de seu histórico de saúde e realizará o exame físico. Com base nesses dados o profissional fará o diagnóstico. Por isso, ele é chamado de diagnóstico clínico.

Nos casos em que haja suspeita de outras doenças bucais ou sistêmicas, poderão ser solicitados exames laboratoriais complementares, ou até mesmo a biópsia —que consiste na retirada de tecido local para análise.

Como é feito o tratamento das aftas comuns?

Como não se conhece a origem do problema, não há terapia específica para a afta. Assim, os objetivos dos dentistas e médicos são aliviar os sintomas e descobrir os fatores desencadeantes para tratá-los.

Nos casos em que a afta é esporádica, ela pode ser controlada por meio de higiene oral rigorosa, que sempre deve ser complementada com enxaguatórios antissépticos sem álcool. A ideia é evitar a contaminação da lesão, o que poderia retardar a solução do problema.

Já para amenizar a dor, substâncias naturais fitoterápicas com ação anti-inflamatória, como o chá e o extrato de camomila, e até própolis (diluído em água filtrada) são boas opções. Além disso, a crioterapia, ou seja, o uso de gelo local, também traz alívio.

O especialista Paulo José Bordini, mestre e doutor em estomatologia pela USP, esclarece que, com exceção das práticas acima indicadas, remédios caseiros como o uso do bicabornato sobre as aftas devem ser evitados.

"Ele destrói as terminações nervosas, faz cessar a dor, mas transforma a afta em uma úlcera química. O resultado é mais tempo para cicatrizar e maior risco de infecção", diz.

Tratamento dos casos graves

Nesses quadros, além das medidas de higiene e a utilização de medicamentos tópicos à base de corticoides, devem ser tratadas as possíveis doenças sistêmicas relacionadas (Aids, doença de Crohn, doença celíaca, doença de Behcet).

São indicadas também medicações orais sistêmicas —que variam caso a caso, a critério do profissional da saúde, mas podem incluir corticoides, imunomoduladores, suplementação vitamínica etc.

Outra alternativa eficiente, em todos os casos de afta, é o laser de baixa potência, que age como analgésico, anti-inflamatório e também acelera a reparação dos tecidos.

Dá para prevenir?

Nem sempre. Alguns dos fatores desencadeantes se relacionam à sua genética, a mudanças hormonais, enfermidades crônicas como a doença de Crohn, deficiências vitamínicas ou o uso crônico de medicamentos.

Apesar disso, os especialistas sugerem ser vigilante para aprender a reconhecer quais são, para você, as situações que podem dar origem às aftas. Ao agir assim, é possível ter algum controle sobre o aparecimento delas. Para esse fim, adote as medidas a seguir:

  • Faça visitas regulares ao dentista
  • Capriche na higiene bucal
  • Evite alimentos ácidos
  • Peça ao dentista melhor ajuste de dentaduras, aparelhos fixos ou móveis, além de dentes que possam ferir a mucosa
  • Adote medidas de controle do estresse e da ansiedade
  • Descanse quando se sentir cansado
  • Escolha cremes dentais que não contenham substâncias irritantes
  • Esteja mais atento à escovação. Ela deve ser suave para evitar ferimentos
  • Escolha melhor os alimentos, caso você tenha alguma intolerância ou alergia
  • Evite ingerir itens muito quentes ou perfurantes que podem causar lesões

Fontes: Severino Barbosa dos Santos, clínico geral e gastroentorologista, doutor em gastroenterologia pela Asahikawa Medical University (Japão), professor de gastroenterologia do curso de medicina da UPE (Universidade de Pernambuco) e preceptor da residência médica em gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco); Paulo José Bordini, professor universitário, especialista, mestre e doutor em estomatologia pela USP (Universidade de São Paulo), atuando em clínica particular em São Paulo; Bruno Spadoni, professor auxiliar de Clínica Médica da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Melissa Tomie Mozena Rissete, cirurgiã-dentista do CHC-UFPR (Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná), onde é preceptora do Programa de Residência Multiprofissional. Revisão técnica: Severino Barbosa dos Santos e Paulo José Bordini.

Referências: [Atualizado em 2021 Fev 3]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK431059/; Tarakji, Bassel et al. "Guideline for the diagnosis and treatment of recurrent aphthous stomatitis for dental practitioners." Journal of international oral health : JIOH vol. 7,5 (2015): 74-80.

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