Carne esponjosa provoca obstrução nasal e é mais comum em crianças; entenda
Carne esponjosa é a forma popular de se referir a uma das causas de obstrução do nariz, a hipertrofia adenoidiana, ou seja, o aumento do tamanho das adenoides. Ao prejudicar a respiração, o quadro pode afetar a qualidade do sono e ainda reduzir a qualidade de vida.
O problema é mais comum entre as crianças. A razão para isso é que as adenoides tendem naturalmente à redução de seu tamanho durante a adolescência. Um recente estudo, que contou com a colaboração de pesquisadores brasileiros, concluiu que entre os pequenos e os jovens, cerca de quatro em cada 10 deles apresentam esse tipo de obstrução. O dado foi publicado pela revista médica Sleep Medicine Review.
A indicação dos especialistas é que toda criança que apresente alterações do sono como ronco e apneia; ou ainda otites e infecções de garganta ou nasais repetidas, devem ser avaliadas por um otorrinolaringologista. Embora existam medicamentos que são úteis nesses casos, a cirurgia, de baixa complexidade, evita complicações e garante resultados imediatos.
Continue a leitura para entender mais sobre o assunto.
O que é carne esponjosa?
Trata-se da forma popular com a qual as pessoas se referem às alterações no interior do nariz e que levam à obstrução nasal. Entre as principais causas desse quadro, destaca-se o aumento do tamanho das adenoides, o que os médicos chamam de hipertrofia adenoidiana.
E o que são adenoides?
Também conhecidas como tonsilas faríngeas, as adenoides são definidas como um tecido [linfoide] localizado entre o nariz e a garganta (região rinofaríngea). Associadas à produção de células de defesa do corpo, elas estão presentes em todas as crianças e atingem seu pico de crescimento entre os quatro e cinco anos de idade. A partir dos seis anos, esse tecido passa por um processo de atrofia natural que se completará aos 10 anos.
Por que as adenoides aumentam?
Esse crescimento pode decorrer de infecções ou não, podendo ainda se manifestar de repente (ser aguda) ou durar no tempo (ser crônica).
Nos quadros infecciosos, são exemplos das possíveis causas:
Infecções virais
- Adenovírus
- Coronavírus
- Herpes simplex vírus
- Rinovírus
Infecções bacterianas
- Streptococcus species
- Haemophilus influenzae
- Moraxella catarrhalis
- Staphylococcus aureus
Entre as causas não infecciosas, destacam-se:
- Refluxo gastroesofágico
- Alergias
- Exposição ao tabaco
Em adultos, o aumento das adenoides pode ser consequência de:
- HIV
- Tumores
Saiba como reconhecer os sintomas
A hipertrofia adenoidiana tem como principal sintoma a congestão nasal (nariz entupido) e, junto com ela, são frequentes as seguintes manifestações:
- Mau hálito
- Boca e lábios secos
- Coriza constante
- Gotejamento pós-nasal
- Ronco ou apneia do sono
- Infecções de ouvido (otites) que se repetem
- Respiração predominante pela boca
- Babar no travesseiro (à noite)
Quem precisa ficar atento?
O problema é praticamente exclusivo das crianças e raramente acomete adultos.
Saiba quando procurar ajuda médica
A chefe do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), Fabiana Cardoso Pereira Valera, diz que é preciso estar atento a situações indiretas que podem sinalizar algum problema que merece ser investigado.
"Pode ser que as primeiras manifestações sejam alterações no padrão do sono, como o ronco e pausas na respiração. Estes sintomas são importantes porque não dormir direito levará a outras consequências como agitação e menor rendimento escolar, o que muitas vezes é entendido como déficit de atenção", acrescenta Valera.
Respirar predominante pela boca, ter dificuldade para se alimentar e babar no travesseiro também devem ser considerados sinais de alerta. Na presença de qualquer um dessas condições, é preciso buscar ajuda especializada.
Na maioria das vezes, o pediatra é o primeiro especialista a ser consultado. Conforme a gravidade do caso, cabe a ele fazer o encaminhando do paciente ao otorrinolaringologista. "O ideal, porém, é que a criança seja atendida por uma equipe multiprofissional formada por pediatra, otorrino, alergista, médico do sono, fonoaudiólogo e dentista", completa a médica.
Como é feito o diagnóstico?
Na hora da consulta, o médico ouve a queixa do paciente, levanta seu histórico de saúde e ainda faz o exame físico para identificar sintomas como a respiração pela boca, mudanças na voz — que pode ser anasalada etc.
Para confirmar o diagnóstico, podem ser solicitados exames complementares como a radiografia (raio-X simples de rinofaringe), endoscopia nasal, polissonografia e até avaliação alergológica.
Como é feito o tratamento?
O objetivo dele é melhorar as condições de respiração do paciente. E as estratégias de tratamento dependerão da gravidade do quadro.
Assim, a depender do nível de obstrução encontrado, os médicos devem iniciar o tratamento com medicamentos como sprays nasais e/ou orais.
E quando a cirurgia é indicada?
De acordo com Renato Roithmann, presidente da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial), na grande maioria das vezes, a cirurgia (adenoidectomia), é a melhor solução, dados os resultados imediatos que ela proporciona.
"A remoção das adenoides é um procedimento relativamente simples e é a cirurgia mais realizada pelos otorrinolaringologistas. Ela requer hospitalização, anestesia geral, mas, de modo geral, o paciente volta para casa no mesmo dia", diz o especialista.
Roithmann acrescenta que já não é mais necessário esperar a criança crescer para fazer o procedimento e que a espera, hoje, é até desaconselhada. A ideia é suprimir o sofrimento da criança, garantir melhor desenvolvimento da face (com a melhora na respiração pelo nariz) e prevenir prejuízos escolares.
Quais são as possíveis complicações?
"A principal complicação pós-operatória é o sangramento local, além daquelas relacionadas a qualquer procedimento cirúrgico com anestesia geral. No entanto, estes são eventos raros", esclarece o otorrinolaringologista Danilo de Negreiros Freitas, do HU-UFPI (Hospital Universitário do Piauí, que faz parte da Rede Ebserh).
O médico diz ainda que alguns pacientes podem ter dificuldade para alimentar-se durante a primeira semana, principalmente se o procedimento tiver sido associado à retirada das amígdalas (amigdalectomia). Febre baixa, náuseas e vômitos também podem ocorrer.
Dá para prevenir?
A melhor forma de prevenção é identificar precocemente sinais e sintomas, além de providenciar avaliação médica para que o tratamento seja realizado o mais rápido possível.
Entenda o que é face adenoidiana
Quando uma criança não respira adequadamente pelo nariz, ela o faz pela boca. Esse comportamento promove uma série de modificações na musculatura para permitir que a boca se mantenha aberta.
Em crianças em fase de desenvolvimento, tais alterações podem ter como consequência alterações como mordida aberta anterior e cruzada posterior, lábios afastados, sorriso com exposição das gengivas, e ainda modificações no céu da boca (palato), além dos ossos da face, que passa a ser mais alongada. A esse quadro se dá o nome de face adenoidiana.
Fontes: Danilo de Negreiros Freitas, otorrinolaringologista do HU-UFPI/Ebserh (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí, que integra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Fabiana Cardoso Pereira Valera, professora e chefe do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Renato Roithmann, presidente da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial). Revisão médica: Renato Roithmann.
Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Geiger Z, Gupta N. Adenoid Hypertrophy. [Atualizado em 2022 May 8]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK536984/; Pereira L, Monyror J, Almeida FT, Almeida FR, Guerra E, Flores-Mir C, Pachêco-Pereira C. Prevalence of adenoid hypertrophy: A systematic review and meta-analysis. Sleep Med Rev. 2018 Apr;38:101-112. doi: 10.1016/j.smrv.2017.06.001. Epub 2017 Jun 14. PMID: 29153763.
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