Herpes-zóster é provocado por estresse, virose, idade e doenças crônicas
Cristina Almeida
Colaboração para VivaBem
19/04/2022 04h00
Cobreiro. Este é o nome popular dado ao herpes-zóster, uma doença causada pelo vírus Varicella-zoster —o mesmo causador da varicela (ou catapora), cuja manifestação é uma erupção na pele que tem um formato que se assemelha ao volteio de uma serpente. Após um episódio de catapora, o vírus permanece silencioso nas terminações nervosas por anos até que, um dia, é reativado.
Essa enfermidade acomete homens, mulheres, jovens e até crianças, mas é mais comum entre idosos, consequência da queda natural de suas defesas do corpo com o avançar da idade. Isso significa que podem ocorrer cerca de 4 a 12 casos de herpes-zóster em um grupo de 1.000 pessoas com idade superior a 65 anos a cada ano.
Uma dos efeitos mais temidos dessa doença é a dor neurálgica, que pode persistir mesmo após a recuperação das erupções cutâneas e se tornar crônica (neuralgia pós-herpética). De acordo com os especialistas, a melhor forma de evitar esses quadros é não desprezar sintomas iniciais e prevenir-se por meio da vacinação. O herpes-zóster tem tratamento, e quanto mais cedo este tiver início, maiores são as chances de evitar complicações.
O que é herpes-zóster?
Trata-se de uma doença viral causada pela reativação do vírus Varicella zoster, o mesmo que causa a varicela, também conhecida como catapora.
A característica desse vírus é que, uma vez superada a primeira infecção, ele fica "adormecido" (latente) em gânglios localizados nos nervos espinais e cranianos (trigêmio, facial, etc.), e pode permanecer silencioso para o resto da vida.
Nos casos em que reaparece, o herpes-zóster geralmente se manifesta por meio de uma inflamação que leva a uma erupção na pele acompanhada de pequenas bolhas (vesículas) agrupadas, tem forma sinuosa [daí ser conhecida como cobreiro], é bastante dolorosa e, na maioria das vezes, é assimétrica, ou seja, acomete apenas um lado do corpo.
Qual é a causa da reativação desse vírus?
A literatura médica relata que a hipótese é que ele se manifeste quando há uma falha no sistema de defesa do corpo (é como se o vírus vencesse uma batalha contra o sistema imunológico), o que pode ser consequência das seguintes situações:
- Infecção viral (como a covid)
- Estresse
- Idade avançada
- Doenças crônicas (diabetes descompensado)
- Uso de determinados medicamentos (quimioterápicos, imunossupressores, corticoides)
- Imunossupressão (doenças como a Aids)
- Presença de tumor
Ela é contagiosa?
Sim, mas apenas entre pessoas que nunca tiveram catapora e que entram em contato com o conteúdo das vesículas do herpes-zóster. Nesse caso, a pessoa não terá herpes-zóster, mas catapora.
Quando as lesões da pele estiverem secas, elas já não serão contagiosas.
Já tomei a vacina da catapora, posso ter herpes-zóster?
A vacina da varicela oferece proteção contra a catapora, e está incluída no Calendário Básico de Vacinação da infância (adultos também podem ser imunizados na rede privada, o que muda é o esquema de doses). Trata-se de um imunizante combinado com a tríplice viral, que inclui sarampo, caxumba e rubéola (tetraviral).
Apesar disso, pessoas vacinadas podem vir a ter herpes-zóster no futuro, embora a doença seja muito mais comum entre as que já tiveram catapora na infância.
Como reconhecer os sintomas?
A apresentação mais frequente dessa enfermidade é o aparecimento de uma erupção (lesão) na pele, dolorosa e assimétrica, e que se manifesta especialmente nas regiões intercostais ou na face —mas podem aparecer também nos membros superiores e na cabeça, e estender-se em grandes áreas. A explicação é de Egon Daxbacher, coordenador do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia). Apesar disso, algumas pessoas não terão sintomas.
Confira as outras possíveis manifestações:
- Dor
- Febre
- Cansaço
- Formigamento local
- Ardor
Quando há erupção cutânea, as vesículas podem demorar de 2 a 10 dias até secarem e começarem a cicatrizar com uma casquinha amarelada. A recuperação total se dá no período de 2 a 4 semanas, quando não há complicações.
Quem precisa ficar atento?
O herpes-zóster pode acometer homens, mulheres, jovens e até crianças, mas é mais comum entre pessoas com idade superior a 50 anos, porque as defesas do corpo vão enfraquecendo conforme a idade avança.
Além desses grupos, pessoas com diabetes descompensado, câncer ou Aids, que têm seus sistemas imunológicos prejudicados também são mais propensas ao aparecimento da doença.
Quando devo procurar ajuda?
De acordo com o infectologista Lourival Marsola, os sintomas do herpes-zóster nunca devem ser desprezados. Ele esclarece que, quando não estão presentes as clássicas lesões cutâneas, mas haja conhecimento de quadro prévio de catapora, o sinal de alerta pode ser apenas uma dor nos locais nos quais a doença geralmente costuma se manifestar: costas ou face.
"Em alguns indivíduos, essa manifestação será a paralisia facial. Mas pouco importa o sintoma. O importante é procurar ajuda médica rapidamente para uma avaliação. O herpes tem tratamento, e quanto mais cedo ele for feito, maior é a chance de evitar complicações", acrescenta o médico.
Os especialistas habilitados para fazer essa avaliação são o clínico geral (até nos serviços de urgência), o médico de família, o dermatologista, o infectologista e até mesmo o geriatra —já que a doença costuma aparecer mais entre pacientes idosos.
Como é feito o diagnóstico?
Na hora da consulta, o médico ouvirá a sua queixa, fará o levantamento do seu histórico de saúde e também o exame físico, com especial atenção à possível presença de lesões cutâneas.
Na maioria das vezes, o diagnóstico se baseia nessas informações —por isso é chamado de clínico-epidemiológico (o profissional considera também o possível quadro de catapora na infância e outros fatores de risco).
Há situações nas quais não é possível fazer o diagnóstico clínico porque os sintomas não são tão explícitos. Nesses casos, podem ser necessários exames complementares para avaliação da eventual lesão atípica (biópsia, por exemplo).
Menos usado, o PCR (reação em cadeia da polimerase), pode ser útil na identificação do material genético do vírus.
Como é feito o tratamento?
O objetivo do tratamento é controlar a extensão, o tempo e a gravidade da doença, e se fundamenta no uso de medicamentos: antiviral oral (aciclovir ou seus derivados) e analgésicos. Estes, podem variar do mais simples até anestésicos potentes, a depender da gravidade do quadro e do grau de dor durante a manifestação aguda.
Quanto mais cedo for iniciado o tratamento, menores são os riscos de complicações. E quando estas estão presentes, por vezes, é necessária a atuação de uma equipe multidisciplinar, o que inclui especialistas em dor, fisioterapeutas, psicólogos etc.
Quais são as possíveis complicações?
Thiago Mattar Cunha, principal pesquisador do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias da USP de Ribeirão Preto, afirma que a mais comum e também a mais temida complicação é a neuralgia pós-herpética, um tipo de dor que pode durar no tempo. Quando esta permanece por mais de 3 meses, ela é considerada crônica. Relacionada a quadros mais intensos e ou à demora do tratamento, a situação acomete de 10 a 20 pessoas em um grupo de 100 indivíduos.
Além disso, quando a doença se manifesta na face, o herpes pode atingir a região dos olhos, levando a uma inflamação na córnea conhecida como ceratite. Pode ocorrer ainda que nervos do ouvido ou da face sejam afetados e, nessa hipótese, a paralisia facial e a perda auditiva seriam complicações temporárias da doença, já que tais sintomas tendem a desaparecer ao final do quadro agudo.
Outras complicações sérias, mais frequentes entre aqueles com sistema de defesa do corpo enfraquecido, são a pneumonia, a meningite e a inflamação no fígado.
Episódio de herpes-zóster pode se repetir?
Sim. Em geral tal situação é mais comum entre pessoas cujas defesas do corpo estejam comprometidas.
Dá para prevenir?
Sim. Caso nunca tenha tido catapora, a vacinação é indicada, mesmo na idade adulta. Pessoas que já tiveram essa doença na infância, e têm mais de 50 anos, também podem tomar a vacina contra o herpes-zóster em clínicas privadas. Aliás, uma nova versão dela, com maior eficácia, estará disponível em breve em clínicas privadas.
Dicas para colaborar com o tratamento
Os especialistas sugerem que você evite coçar as lesões porque tal comportamento poderia não só abrir espaço para infecções bacterianas secundárias, como provocar ferimentos que deixariam cicatrizes. Pode ser útil usar ataduras para proteger a região.
Enquanto as vesículas estiverem presentes, é preciso evitar contato direto delas com outras pessoas, especialmente as que tenham seu sistema imunológico comprometido por qualquer tipo de doença, mulheres grávidas e bebês com idade inferior a 1 mês (a menos que você seja a mãe do bebê e ele esteja protegido pelos seus anticorpos).
Qual é a diferença entre herpes-zóster e herpes simplex?
A primeira não é considerada um IST (Infecção Sexualmente transmissível), enquanto a segunda é a causa do herpes genital e do labial.
Fontes: Egon Daxbacher, coordenador do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); Lourival Marsola, médico infectologista e vacinologista, chefe do Setor de Vigilância em Saúde e Segurança do paciente, do HUJBB (Hospital Universitário João de Barros Barreto) da UFPA (Universidade Federal do Pará), que integra a Rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Thiago Mattar Cunha, professor do Departamento de Farmacologia da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e pesquisador principal do Crid (Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias), da mesma instituição. Revisão médica: Lourival Marsola.
Referências: SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); AAD (Academia Americana de Dermatologis); Nair PA, Patel BC. Herpes-zóster. [Atualizado em 2021 Nov 2]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK441824/.