Sapinho na boca afeta bebês; quais os sintomas e o tratamento?
Samantha Cerquetani
Colaboração para VivaBem
23/12/2022 04h00
É normal que uma pequena quantidade de fungos esteja presente na boca. No entanto, quando eles se multiplicam de forma acelerada podem causar um tipo de infecção fúngica na cavidade oral conhecida como sapinho.
Essa situação é chamada pelos médicos de candidíase oral (ou monilíase oral). É considerada uma forma leve de candidíase (infecção causada por fungos), que afeta a mucosa da língua e a bochecha.
Geralmente, o sapinho na boca é mais frequente em crianças pequenas (principalmente menores de seis meses) e pessoas com o sistema imunológico comprometido. Mas a boa notícia é que tende a desaparecer depois de poucos dias com o tratamento adequado. Raramente leva a complicações.
A seguir, veja detalhes sobre as causas do sapinho na boca, como tratar e prevenir.
Sapinho na boca: sintomas, transmissão e mais
O que é sapinho na boca?
O sapinho na boca é o nome que se utiliza para a candidíase oral, também conhecida por monilíase oral.
Trata-se de uma infecção que atinge a parte da garganta logo atrás da boca provocada pelo fungo Candida albicans. Geralmente, o "sapinho" acomete a língua e a parte interna da bochecha.
Quais os principais sintomas do sapinho na boca?
A candidíase oral causa lesões brancas e pastosas (semelhantes ao queijo ricota) na língua ou na parte interna das bochechas. Algumas vezes, se espalha para o céu da boca, gengivas ou amígdalas ou atinge a parte de trás da garganta.
Além disso, podem surgir:
- Vermelhidão, queimação ou dor que dificulta o processo de engolir;
- Sangramento leve nas lesões;
- Rachaduras nos cantos da boca;
- Perda do paladar;
- Em casos graves, geralmente pessoas com o sistema imunológico enfraquecido, as lesões se espalham para o esôfago, o que dificulta ainda mais a deglutição;
- Em bebês, além da recusa de se alimentar (ou mamar), há o choro frequente e irritabilidade;
- Mulheres que amamentam e são infectadas pelos bebês, costumam apresentar mamilos vermelhos, sensíveis, rachados ou com coceira, além de dor durante a amamentação.
Quais são as causas e fatores de risco do sapinho na boca?
O sistema imunológico é responsável por proteger o organismo de invasores (como bactérias e fungos). Porém, algumas vezes, por diversas razões, essa proteção falha e aumenta a quantidade de fungos do tipo Candida albicans, o que permite que a infecção se instale e surja o "sapinho" na boca.
Por conta disso, pessoas com o sistema imunológico enfraquecido estão mais propensas a desenvolver o problema. Também é bastante comum em bebês menores de seis meses, pois o sistema imunológico ainda não está amadurecido.
Pessoas que realizam tratamento para câncer ou HIV, fizeram transplante de algum órgão e usam medicamentos que afetam o sistema imunológico também estão mais suscetíveis a desenvolver a candidíase oral.
Idosos, gestantes, fumantes e pessoas com diabetes não controlada e desnutridos também são mais vulneráveis ao problema.
Como é a transmissão do sapinho na boca?
O fungo Candida albicans é encontrado na boca, intestino e na vagina. Por isso, pode ser transmitido para o bebê durante o parto vaginal e também por meio do contato com mamadeiras ou chupetas contaminadas. E os bebês com sapinho na boca também transmitem o fungo para suas mães.
As mulheres que amamentam e estão com infecção nos mamilos (candidíase mamária) também transmitem o sapinho para o bebê.
Quem tem candidíase oral também pode transmiti-la por meio do contato sexual e até pelo beijo. Por isso, a recomendação é evitar beijar bebês no rosto —principalmente na boca.
No entanto, o problema de saúde nem sempre é transmitido de uma pessoa para outra, já que o fungo Candida albicans é bastante comum e frequente no ambiente e se prolifera quando o sistema imunológico está comprometido.
Vale destacar que este fungo naturalmente habita o trato gastrointestinal e a pele do bebê e de adultos. Os maus hábitos de higiene, como lavar a mão à boca sem higienizá-la corretamente, manipular o bebê sem lavar as mãos, levam a uma colonização na cavidade oral, o que não significa que surgirá a doença.
Para que se desenvolva é necessário que haja um desequilíbrio na relação patógeno-hospedeiro, pois em muitos casos este fungo habita a cavidade oral sem causar nenhum sintoma.
Como é feito o diagnóstico de sapinho na boca?
O diagnóstico da candidíase oral (ou sapinho na boca) é realizado por meio de uma avaliação das lesões pelo médico. O especialista também verifica o histórico do paciente e checa se o sistema imunológico está funcionando adequadamente.
Se necessária a confirmação por meio de exames, pode-se raspar a lesão e observar ao microscópio a presença de leveduras, que são os fungos que causam a infecção.
Em casos mais raros, o especialista solicita exames físicos e de sangue para descartar outras causas mais graves.
Qual é o tratamento do sapinho na boca?
O tratamento da candidíase oral visa impedir a rápida disseminação do fungo. Portanto, as medidas terapêuticas utilizadas variam de acordo com a idade, condição de saúde da pessoa e da infecção.
Geralmente, para bebês e adultos saudáveis, o médico indicará o uso de medicamentos antifúngicos tópicos líquidos —adultos e crianças maiores podem fazer bochecho e engolir. Em crianças menores, é aplicado com gaze. Indica-se também medicamentos intravenosos, em casos mais graves. O tratamento dura em média duas semanas.
Se não for eficaz, são indicados medicamentos que atuam em todo o organismo. As mães que amamentam devem passar um creme antifúngico nos seios.
Lembrando que pode haver reinfecção durante o tratamento, o que dificulta a melhora do quadro. Dessa forma, objetos de uso oral que possam estar contaminados devem ser esterilizados com frequência, como chupetas e mamadeiras em crianças, além de dentaduras em adultos.
Quais as possíveis complicações?
Em casos mais graves, a candidíase oral evolui para outras regiões: compromete a laringe e o esôfago, por exemplo. Surgem sintomas como rouquidão, dor ou dificuldade para engolir os alimentos. Isso leva ao agravamento da desnutrição, hipoglicemia (queda de açúcar no sangue) e desidratação.
No entanto, geralmente, o sapinho' na boca não provoca complicações e os sintomas desaparecem após o tratamento adequado.
As complicações graves são raras, em geral têm mais chances de ocorrer em imunossuprimidos. Entre elas, podemos citar a candidemia, invasão do sistema sanguíneo pelo fungo e a candidíase sistêmica, que compromete múltiplos órgãos.
Como prevenir?
A melhor forma de prevenir o sapinho em crianças é realizar a limpeza adequada de chupetas e mamadeiras para evitar colonização desses utensílios. É importante evitar compartilhar talheres e objetos que a criança coloca na boca.
Já em adultos, as recomendações são:
- Suspender o uso do cigarro;
- Realizar a higiene da boca adequada com escovação dos dentes regularmente;
- Controlar condições de saúde que causem supressão do sistema imune, como diabetes descompensado;
- Pessoas com asma, que utilizam corticoide inalatório oral, devem sempre enxaguar a boca após o uso;
- Evitar consumo de bebidas alcoólicas e excesso de açúcares.
Fontes
Jaime Emanuel Brito, infectologista do Hospital Universitário Alcides Carneiro, em Campina Grande (PB), da rede Ebserh; Juliana Oliveira da Silva, infectologista do Hospital Edmundo Vasconcelos (SP) e Larissa Fabbri Mendes, otorrinolaringologista e membro da Inter American Association of Otorhinolaryngology.