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Veja como funciona o laboratório sul-africano que descobriu a ômicron

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Imagem: iStock

Joanesburgo

09/12/2021 13h18

No laboratório de Joanesburgo que detectou pela primeira vez a ômicron, a variante do coronavírus que desencadeou o pânico mundial, os acessos estão estritamente limitados e todo dia são analisados 18 mil testes PCR.

Com um macacão branco e máscara, Eftyxia Vardas lidera um exército de funcionários, bioquímicos e colegas virologistas em uma das maiores estruturas de laboratórios privados Lancet.

Essa renomada virologista clínica, que trabalhou nas últimas duas décadas sobre as epidemias da tuberculose e aids, foi a primeira a detectar, junto com sua equipe, a existência da nova variante da covid-19.

Tudo começou com alguns testes de PCR.

No início de novembro, 22 testes positivos, a maioria da capital administrativa Pretoria, foram a pauta de todas as conversas no laboratório, porque o que apresentavam era bastante incomum.

Os testes de PCR amplamente utilizados para detectar casos de coronavírus são direcionados a três genes. No entanto, um mês atrás os cientistas se surpreenderam por não terem detectado um deles, o S, nos resultados positivos.

"Verificamos que algo estava diferente nos nossos testes de PCR", relatou Vardas à AFP, enquanto rabiscava curvas em um caderno. "Não tínhamos total certeza do que era, se era uma variante já existente ou outra nova", comentou.

'Noite e dia'

Até aquele momento eram quatro as variantes que causavam preocupação: delta - que após sua aparição representa quase todos os casos sequenciados no mundo -, alfa, beta e gama.

A equipe científica tentou não se precipitar. Levou uma semana para acumular uma quantidade suficiente de amostras que apresentassem aquela anomalia. E outra semana, na qual o laboratório funcionou noite e dia, para realizar o sequenciamento.

O sequenciamento é um processo longo e trabalhoso, que permite decifrar o genoma de um vírus presente no organismo.

"Então tivemos a confirmação de que algo estava prestes a acontecer", explica Eftyxia Vardas. "Foi comprovado que era um vírus completamente mudado. Foi assim que descobrimos a ômicron", diz a cientista, sem demonstrar a menor alegria.

Depois, com o convencimento de que uma nova variante desconhecida era a causa do forte surto de casos constatados ao longo de várias semanas na África do Sul, enviou os resultados e amostras para as autoridades de saúde.

A África do Sul é oficialmente o país mais afetado pelo coronavírus no continente. Registra um aumento exponencial de casos e tem mais de três milhões de infectados, com quase 90.000 mortes.

O Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis (NICD), infraestrutura pública de biossegurança, e o KRISP, plataforma de inovação que está na vanguarda da pesquisa sobre o genoma, colocaram as mãos à obra.

Foi assim que identificaram uma nova forma da covid-19, com um número inusitado de mutações e incógnitas, que destronou a variante delta.

Em 25 de novembro, o virologista que ficou famoso depois de ter detectado a beta um ano atrás, Tulio de Oliveira, confirmou em uma entrevista coletiva a descoberta de uma nova variante na África do Sul. A Organização Mundial da Saúde (OMS) a batizou de 'ômicron'.

Uma nova onda da pandemia, que provocou a morte de mais de 5,2 milhões de pessoas em todo o mundo desde que surgiu em Wuhan, China, dois anos atrás, foi então anunciada. Em algumas horas, os voos foram suspensos e o mundo fechou suas portas para a África do Sul.