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Paralisia facial que Angelina Jolie teve pode ser confundida com derrame

Angelina Jolie declarou que tratou a doença com acunpuntura - Getty Images
Angelina Jolie declarou que tratou a doença com acunpuntura Imagem: Getty Images

Thamires Andrade

Do UOL

28/07/2017 04h05

A atriz Angelina Jolie afirmou em entrevista à revista "Vanity Fair" que, no ano passado, foi diagnosticada com paralisia de Bell, uma doença que provoca fraqueza e até paralisia de um lado da face. A doença assusta e pode ser confundida com um princípio de AVC (Acidente Vascular Cerebral), já que a pessoa fica sem movimentos de um lado do rosto.

A principal diferença é que a paralisia de Bell é temporária e periférica —consiste em uma inflamação no sétimo nervo craniano facial, diferentemente do AVC que atinge a região cerebral.

"O AVC acomete só a parte inferior da face, enquanto a paralisia de Bell pega todo o lado do rosto, não fica só na boca, mas afeta os olhos também. Muitos pacientes ficam com dificuldade de fechá-los", explica José Luiz Pedroso, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein e professor afiliado do departamento de Neurologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

No entanto, cabe aos profissionais de saúde fazerem uma avaliação médica especializada para confirmar o quadro.

"Sempre que nos deparamos com casos de paralisia é importante fazer exames de imagem para descartar outras causas, como um tumor que pode estar comprimindo o nervo", fala Pedroso.

Os principais sintomas desse tipo de paralisia são desvio da boca, alterações no paladar, dificuldade para fechar os olhos, alteração de lacrimejamento e da audição. "Aproximadamente 2/3 dos pacientes também pode ter dor na região do ouvido", comenta Pedroso.

Estresse não causa a paralisia

Na entrevista, Angelina deu a entender que o motivo da doença ter se manifestado foi o estresse a que todas as mulheres são submetidas. "Algumas vezes, as mulheres da família se colocam por último até que isso acaba se manifestando no corpo", afirmou.

Angelina Jolie para a "Vanity Fair" - Reprodução/Instagram/@vanityfair - Reprodução/Instagram/@vanityfair
Angelina Jolie para a "Vanity Fair"
Imagem: Reprodução/Instagram/@vanityfair
No entanto, de acordo com os especialistas ouvidos pelo UOL, nem o estresse e nem o choque térmico são considerados causas da paralisia de Bell.

"Em medicina, quando falamos que determinado comportamento causa uma doença, precisamos de um estudo que comprove essa relação. Alguns estudos observacionais falam da possiblidade da corrente de vento frio ou do estresse mudarem a atividade do sistema imunológico, o que faria aparecer a paralisia, mas são pesquisas sem evidências fortes, por isso, não afirmamos que são fatores causais", explica Aurélio Dutra, assessor médico em Neurologia do Fleury Medicina e Saúde.

Na maioria das vezes, quando a paralisia não tem origem definida, os neurologistas fazem um diagnóstico presuntivo, que ela é de origem viral e inflamatória. "Os vírus mais frequentes associados são os da família do herpes, como o tipo 1 e o menos comum, o Zóster", fala Pedroso.

No entanto, existem algumas doenças que podem desencadear a paralisia, como diabetes, hipertensão e doenças infecciosas, como sífilis e HIV.

De dois a três meses para recuperar os movimentos faciais

Pedroso explica que a maioria dos casos melhora sem tratamento específico, no entanto, os corticoides são usados para acelerar a recuperação do paciente com paralisia de Bell. "70 a 80% dos casos melhoram sem tratamento, mas como o processo inflamatório pode durar de quatro a seis semanas, tomar esses medicamentos por um período de 14 dias, otimiza a recuperação", explica.

Dutra também explica que uma opção complementar do tratamento é aliar o uso dos medicamentos com um tratamento de fisioterapia para voltar a exercitar a musculatura facial. "Os pacientes podem demorar de dois a três meses para se recuperar completamente. Mas há pessoas que podem demorar nove meses", fala.

Tanto Pedroso quanto Dutra são céticos quanto ao uso de acupuntura no tratamento da doença, como foi o caso da atriz Angelina Jolie. "Ela pode ser benéfica para pacientes que não tiveram uma boa recuperação com os corticoides, mas ainda precisamos de estudos científicos para comprovar seus benefícios", fala Pedroso.

O assessor médico em Neurologia do Fleury Medicina e Saúde explica que 95% dos casos de paralisia não têm sequelas, mas cerca de 5% podem deixar algum déficit significativo.

"A pessoa pode não recuperar a movimentação da face, ficar com algum desvio, não conseguir fechar o olho e não movimentar a boca de forma simétrica. A musculatura facial é muito importante para várias tarefas, como sugar um canudo para beber água, por exemplo. Se você está com ela de forma assimétrica, não consegue", fala.

Como esses casos são raros, não existem comprovações científicas de como eles podem ser corrigidos. Mas, na opinião de Pedroso, as sequelas são mais estéticas do que funcionais.

Angelina Jolie na capa de setembro da revista "Vanity Fair":