Dor no joelho? Conheça as principais causas do problema e como tratar
Muita gente acredita que dor no joelho é queixa de quem está envelhecendo. De fato, ossos, articulações e músculos sofrem mudanças naturais com a passagem do tempo, e esses processos podem mesmo levar a dor.
Mas não é só velho que sofre com esse tipo de incômodo. Só nos Estados Unidos, 18 milhões de pessoas (um pouco mais do que a população da cidade de São Paulo), jovens ou não, procuram ajuda médica para solucionar o problema.
O joelho faz parte do sistema musculoesquelético e é considerado a maior articulação do corpo. Ele é formado por cartilagens e ligamentos, além de quatro ossos: fêmur (na coxa), tíbia (na parte da frente da perna), fíbula (na parte de dentro do joelho) e patela (parte da frente do joelho).
Imagine uma alavanca, que precisa de lubrificação e amortecimento para funcionar direito. O joelho é exatamente assim e tem até uma espécie de almofada de cartilagem (o menisco) com a função de reduzir o atrito da estrutura.
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Os tipos de dor
O funcionamento do joelho pode ser alterado na presença de lesão, desgaste ou doença. É aí que a dor aparece. Ela pode ser de dois tipos:
- Traumática, decorrente de queda ou batida durante atividade física;
- Degenerativas, como a artrose.
A articulação pode doer devido a processos inflamatórios, incluídas as doenças autoimunes, como artrite reumatoide, espondiloartrite e lúpus. Além dessas situações, desgaste por uso excessivo da articulação, desalinhamento dos joelhos e sobrepeso entram na lista de causas de desconforto.
Sintomas associados
Embora a dor seja o principal sinal de que há algo errado no joelho, ela pode vir acompanhada de inchaço, calor, dificuldade para se mover e até febre baixa (quando houver inflamação). Podem ocorrer, ainda, ruídos tipo estalo ou rangido na região ao se movimentar. Quanto à dor, especificamente, pode ter intensidades diferentes, atacar em um ou mais pontos, piorar depois de muito tempo na mesma posição ou pela manhã (a chamada rigidez matinal).
Quando procurar ajuda
Marque uma consulta com um clínico geral, um ortopedista ou um reumatologista quando qualquer um dos sintomas descritos persistir ou começar a atrapalhar as atividades do dia a dia.
As principais causas
No consultório médico, as queixas mais comuns são dor na parte anterior (frente) do joelho, decorrentes de lesões durante a prática de esportes, quedas e pancadas, além das tendinites. Outro problema que se repete é a lesão do ligamento anterior cruzado, também conhecida como "lesão do atleta". No Centro de Cirurgia e Joelho do Instituto Nacional de Ortopedia e Traumatologia do Ministério da Saúde, lesões nos ligamentos e meniscos correspondem a 40% do volume de atendimento.
Como é feito o diagnóstico
A investigação da causa da dor começa com exame clínico e físico -- o médico vai querer conhecer seu estilo de vida e hábitos e observar no corpo algo que indique a origem da dor, como desalinhamentos posturais. Só depois, se for o caso, deve solicitar exames de imagem para uma avaliação mais precisa.
No caso de lesão no ligamento cruzado, por exemplo, em 95% das situações basta o exame clínico para identificar. Nos outros 5%, em que a conclusão imediata é impossível, o especialista pede uma ressonância.
Os médicos, aliás, destacam que fazer vários exames não é determinante e, às vezes, nem necessário para o diagnóstico. Uma radiografia ou ressonância magnética ajuda, mas são complementos e, muitas vezes, dispensáveis. O principal é a escuta da história do paciente (anamnese) e o exame físico.
Outras análises que o médico pode pedir são exames de sangue (para descobrir algum processo inflamatório ou anticorpos), densitometria óssea, tomografia computadorizada e ultrassom.
As lesões mais comuns
No ligamento cruzado anterior (lesão do atleta): é a principal causa de dor no joelho e está diretamente ligada a traumas durante a atividade física. Localizado na parte interior do joelho, esse ligamento forma um X com outro ligamento situado na parte posterior (o cruzado posterior). Juntos, eles controlam a atividade da articulação. A lesão pode levar ao rompimento do menisco e, com o tempo, se não tratado, pode evoluir para artrose. As mulheres são as principais vítimas.
- No menisco: temos duas dessas cartilagens amortecedoras em cada joelho --um menisco é chamado medial (mais interno) e o outro é lateral. O medial é, quase sempre, o mais atingido. Essas lesões geralmente têm a ver com rotações realizadas em esportes de impacto e são o principal problema sofrido por pessoas sedentárias e atletas de fim de semana, que não têm musculatura preparada para absorver impactos, e resolvem correr ou jogar futebol, por exemplo, mesmo sem o condicionamento adequado.
- No ligamento colateral medial: este ligamento dá suporte à parte de dentro da articulação e sua função é equilibrar a força do movimento de torção para fora. Uma ação brusca com rotação para fora --como é comum no futebol -- pode levar à lesão.
- Tendinites: os tendões são "cordões" que têm a função de ligar músculos, ossos e articulações e, quando inflamados - o que tem a ver principalmente com excessos ou erros na atividade física - causam dor. A tendinite da pata de ganso (na parte interna do joelho) ocorre, por exemplo, por excesso de corrida ou posturas de ioga que exigem mais dessa articulação. A tendinite patelar surge da repetição de saltos - tem o apelido de joelho de saltador.
- Artrose ou artrite degenerativa: afeta a cartilagem e os tecidos do joelho. O processo de inflamação leva à dor, rigidez e perda da mobilidade.
- Artrite reumatoide: doença autoimune (faz o organismo atacar os próprios tecidos) que afeta não apenas a articulação dos joelhos como as de mãos e pés também. Dor e inchaço são os principais sintomas. Pode surgir em qualquer idade, sendo que as mulheres são mais atingidas.
- Síndrome da dor patelofemoral (joelho do corredor): quando a patela não consegue distribuir a força de forma equilibrada em determinado movimento, a cartilagem é forçada de um lado só. Excesso de exercício, sobrepeso e desgaste da cartilagem explicam o problema. A dor aparece ao redor ou atrás do joelho e dificulta subir e descer escada, pular e correr.
Tratamentos possíveis
Uma vez definida a causa da dor no joelho, o que se segue é o início do tratamento. O mais comum é que seja à base de medicamentos, fisioterapia e orientações para a prática de exercícios e mudanças de hábitos. Cirurgia costuma ser uma opção apenas quando não houver resposta satisfatória a essas abordagens.
Medicamentos mais usados
- Analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais (não corticoides): podem ser utilizados por via oral, injetável ou adesivo cutâneo.
- Medicamentos injetáveis (infiltrações): combinam anestésicos e corticoides (drogas com ação anti-inflamatória e supressora do sistema de defesa do corpo) para alívio da dor. Porém, o corticoide, se usado com constância, pode levar ao desgaste da cartilagem do joelho. Esses fármacos são usados hoje só em situações específicas, como última alternativa quando não é possível operar.
- Biológicos e sintéticos: os primeiros são produzidos a partir de células vivas; os outros, substâncias químicas (como metrotrexato, sulfassalazina, leflunomida, antimaláricos). Ambos podem ser indicados para artrite. Nos últimos 20 anos as opções aumentaram e a diferença entre eles é que atuam ora impedindo o ataque ao sistema de defesa do corpo, ora modificando o curso da doença.
- Suplementos: a condroitina e a glicosamina trazem alívio para quem apresenta desgastes na cartilagem. Embora os estudos científicos não sejam conclusivos sobre esse benefício, o fato é que o paciente sempre relata uma melhora.
- Ácido hialurônico: na última década, a substância tem sido utilizada como lubrificante injetável na articulação, reduzindo o atrito e, com isso, a dor. Mas o efeito é temporário porque o ácido hialurônico é naturalmente reabsorvido pelo organismo.
Cirurgias possíveis
Quando o tratamento conservador não trouxer alívio para a dor no joelho, a cirurgia pode servir para tratar ou corrigir o desgaste de qualquer parte da articulação. É possível até substituí-la, total ou parcialmente, por uma prótese. Pacientes que não têm convênio podem ter acesso aos procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Conheça a seguir as intervenções mais comuns:
Artroscopia
Indicação: geralmente pacientes jovens e pessoas sem doença avançada nas cartilagens. É uma cirurgia minimamente invasiva feita com artroscópio, instrumento que permite ver o interior da articulação, para recolher amostras e restaurar tecidos e cartilagens.
Duração estimada: 1 hora.
Tempo de internação: alta no mesmo dia ou no seguinte à operação.
Recuperação: de 2 a 20 dias ou até voltar a andar.
Riscos: infecção ou fissuras da cartilagem podem ocorrer, mas são raras.
Reconstrução do cruzado anterior
Indicação: quem rompeu o ligamento, normalmente durante jogo de futebol ou outra prática esportiva, mesmo que o acidente tenha ocorrido há bastante tempo. "A intervenção pode ser feita quando há instabilidade ou alteração na anatomia do joelho", explica o cirurgião Alexandre Stivanin.
Duração estimada: 1 hora.
Tempo de internação: alta no mesmo dia ou no dia seguinte
Recuperação: de 10 a 20 dias para voltar a andar; 6 meses para praticar esportes de impacto. Após a cirurgia o paciente já é liberado para reabilitação.
Riscos: infecção e fibrose (reconstrução ruim do tecido), o que compromete a mobilidade do joelho.
Osteotomia
Indicação: paciente com até 60 anos que apresente artrose. Para quem sofreu degeneração que afetou o eixo da perna, por exemplo, a cirurgia pode devolver o alinhamento do membro.
Duração estimada: 2 horas.
Tempo de internação: 1 dia.
Recuperação: após 6 semanas já é possível pisar no chão; em 3 meses dá para retomar as atividades do dia a dia.
Riscos: trombose e fibrose (e perda de mobilidade), mas raramente.
Prótese total
Indicação: pessoas com mais de 65 anos, com artrose ou artrite avançada. A prótese é feita de plástico e metal, posicionada de modo a ter apoio de músculos e ligamentos e, assim, permitir a movimentação normal.
Duração estimada: 2 horas.
Tempo de internação: 3 dias.
Recuperação: no dia seguinte ao procedimento o paciente já pode mover a perna e caminhar com auxílio de fisioterapeuta. O restabelecimento total pode demorar até 6 meses.
Riscos: infecção, raramente.
Prótese parcial
Indicação: quando apenas um dos lados ou parte da articulação sofreu desgaste excessivo ou se danificou devido a acidente.
Duração estimada: 2 horas.
Tempo de internação: 1 dia.
Recuperação: no dia seguinte o paciente pode andar com ajuda de fisioterapeuta.
Riscos: infecção, mas é raro.
Tratamentos tradicionais, alternativos e complementares
Cada vez mais gente adota técnicas da medicina complementar e integrativa para aliviar a dor. Nesse caso, é importante que seu médico saiba, afinal, sabe-se que algumas práticas não só não têm eficácia contra o desconforto, como podem piorar o problema instalado.
Por outro lado, práticas como acupuntura e meditação já se mostraram benéficas como tratamento para a dor. Uma coisa é certa: quando o paciente é educado sobre procedimentos não médicos capazes de aliviar a dor, ele tende a seguir o protocolo corretamente e, com isso, reduzir o consumo de analgésicos. Essa é a descoberta de um estudo recente conduzido por pesquisadores do Departamento de Anestesiologia Perioperatória e Medicina da Dor da Universidade Stanford, na Califórnia (EUA), e publicado em setembro deste ano no periódico Patient Education and Counseling.
As terapias mais eficientes de apoio ao tratamento para dor no joelho são:
Fisioterapia
É a primeira aliada dos médicos no tratamento não cirúrgico e tem a finalidade de reduzir a inflamação e a dor no joelho e, com isso, reabilitar o paciente. A prática geralmente abrange o uso de laser, ultrassom, ondas curtas e neuroestimulação elétrica através da pele.
Cinesioterapia
Tão logo o médico autorize, pode-se iniciar essa terapia com movimentos, que utiliza elásticos com diferentes níveis de resistência, além de acessórios conhecidos na academia, como halteres e tornozeleiras, para trabalhar força.
Acupuntura
A associação da técnica milenar à reabilitação favorece e agiliza a recuperação e o alívio da dor. Já existem evidências mostrando o efeito analgésico da acupuntura, mas é fundamental que as sessões sejam realizadas por profissionais com formação sólida na área.
Psicoterapia
Os especialistas concordam que a dor no joelho normalmente tem um componente psicológico que merece atenção. Entre adolescentes e mulheres, por exemplo, existiria uma relação com a dor na parte da frente do joelho, que não tem causa aparente. Os médicos chamam esse fenômeno de distrofia simpático-reflexa, que, geralmente, apresenta um quadro psíquico por trás. A depressão pode ser porta de entrada para doenças inflamatórias e autoimunes. A perda de um parente ou do emprego, por exemplo, pode ter relação com a dor. Por isso é tão importante o cuidado integral.
Acompanhamento nutricional
A importância da manutenção do peso por meio de uma dieta saudável, equilibrada e personalizada é unanimidade entre os médicos a fim de evitar problemas no joelho e mesmo durante algum tratamento. Cardápios restritivos, como os que banem a lactose, por exemplo, são contraindicados. Isso porque, muitas vezes, o leite é a única fonte de cálcio que o paciente consome, e cortá-lo da alimentação poderia agravar a perda óssea e prejudicar a estrutura do joelho.
O que esperar para o futuro
A grande novidade no tratamento da dor no joelho é o uso de células-tronco. O processo consiste na retirada de fragmentos da cartilagem do joelho do paciente, que depois são levados ao laboratório para multiplicação das células cartilaginosas. Após três ou quatro semanas, o tecido é implantado na lesão.
Segredos médicos para prevenir e controlar a dor
- Fuja da automedicação: tomar remédio por conta própria atrasa diagnósticos precisos. E quanto mais cedo se souber a causa da dor, maiores as chances de resolvê-la. Se junto com dor houver inchaço ou rigidez, principalmente pela manhã, vá ao médico.
- Enfrente a dor: se ela for persistente, o melhor é marcar uma consulta com o ortopedista em vez de camuflá-la com analgésicos e anti-inflamatórios.
- Faça os exercícios certos: um fisioterapeuta ou educador físico pode ajudar a descobrir quais movimentos evitar e quais incluir no treino para fortalecer os músculos ao redor do joelho e prevenir dores.
- Respeite a articulação: tome cuidado com movimentos de parada brusca e corridas em declive, que sobrecarregam a articulação, principalmente a parte da frente da patela. Isso vale para qualquer joelho: com ou sem dor.
- Evite atividades repetitivas: pular corda, subir e descer escadas e fazer agachamento são exercícios a serem feitos com moderação para quem tem joelho com limitação.
- Pedale certo: ajuste a altura do selim da bicicleta de modo que as pernas não fiquem totalmente estendidas nem flexionadas demais ao pedalar.
- Adapte os exercícios: pense em substituir atividades de alto impacto, como futebol, corrida, além de exercícios de musculação que exigem muito dos joelhos, por modalidades menos agressivas com essa articulação. Converse com seu médico e com seu treinador sobre alternativas.
Fontes: Moisés Cohen, professor titular e chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp, presidente da Sociedade Mundial de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Trauma Desportivo (ISAKOS) e diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte (SP); Alexandre Stivanin, especialista em cirurgia do joelho pela Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ) e membro do corpo clínico do Hospital Samaritano (SP); Licia Maria Henrique da Mota, presidente da comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR); Paulo Eduardo Ramos, especialista em acupuntura pelo Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM) e responsável pelo Ambulatório de Medicina Tradicional Chinesa do Setor de Investigação de Doenças Neuromusculares da Unifesp; Naasson Cavanellas, chefe de Centro de Cirurgia e Joelho do Instituto Nacional de Ortopedia e Traumatologia do Ministério da Saúde. Com dados do Ministério da Saúde, Cleveland Clinic e Manual Merck.
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