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"Quanto mais cedo, pior": os riscos de consumir álcool na juventude

Em muitos jovens, o álcool gera o "efeito escadinha": a pessoa começa a beber e depois passa a usar outras drogas - iStock
Em muitos jovens, o álcool gera o "efeito escadinha": a pessoa começa a beber e depois passa a usar outras drogas Imagem: iStock

Claudia Rato

Colaboração para o VivaBem

26/08/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Pesquisas mostram que 32% dos estudantes com idade entre 14 e 18 anos bebem exageradamente
  • Nessa fase da vida, o cérebro está em formação e qualquer dose pode afetar seu desenvolvimento
  • Além disso, o álcool aumenta o risco de envolvimento em brigas, de quedas e de sexo desprotegido
  • Em longo prazo, a substância também é responsável por doenças como câncer, infarto e AVC

Apesar da Lei no 13.106/2015, que criminaliza a venda e oferta, ainda que gratuita, de bebida alcoólica para crianças e adolescentes, não é novidade para ninguém que muitos menores de 18 anos abusam no consumo de drinques de todos os tipos.

Dados da última edição da PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar), de 2015, mostram que a idade média do primeiro "gole" em uma bebida alcoólica é de 12,5 anos. Já um levantamento do Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) aponta que 32% dos estudantes brasileiros com idade entre 14 e 18 anos relataram no último ano o "beber pesado episódico", isso é, em um período de duas horas consumiram exageradamente álcool --cinco ou mais mais doses para os meninos e quatro ou mais para as meninas.

A médica pesquisadora Camila Magalhães Silveira, do Programa Interdisciplinar de Estudos de Álcool e outras Drogas do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), defende que é inaceitável e inseguro o consumo de bebidas na juventude, pois nessa fase o álcool é ainda mais prejudicial, especialmente para o cérebro.

"O sistema nervoso central dos jovens ainda está em formação e qualquer dose pode afetar seu desenvolvimento. Além disso, é um momento muito importante da formação da personalidade, de conceitos, de relacionamento, de pertencimento e de autoestima, e a bebida pode gerar efeitos negativos em tudo isso", esclarece Silveira. A especialista ressalta ainda que, outro ponto preocupante é que, diferentemente de um adulto, que busca prazer na bebida, o que muitas vezes motiva os mais novos a beber é o fato de se intoxicar.

Perigos à saúde

Além da intoxicação do organismo --que logo de cara costuma trazer problemas como dor de cabeça, náusea, vômito e taquicardia --, beber excessivamente está relacionado a um maior risco de outros prejuízos imediatos, como amnésia alcoólica, quedas, envolvimento em brigas, acidentes de trânsito e sexo desprotegido.

Arthur Guerra de Andrade, psiquiatra e coordenador do Programa de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria do HC (Hospital das Clínicas) e do Programa Redenção da Prefeitura Municipal de São Paulo, lembra que o álcool é um importante fator de risco para doenças transmissíveis, como tuberculose e Aids, e não transmissíveis, incluindo câncer, infarto e AVC. Isso porque, se consumida regularmente, em longo prazo a substância pode afetar diversos órgãos e sistemas do corpo, especialmente o trato gastrointestinal, o fígado, o pâncreas, o sistema nervoso e o cardiovascular.

Porta para outros vícios

Outro agravante é o "fator escadinha" que o álcool pode gerar no universo juvenil. "A bebida é a primeira substância consumida por pessoas que mais tarde apresentam problemas relacionados ao uso de droga e à dependência química", afirma Guerra.

Ele explica que programas de prevenção ao uso indevido de drogas estão entre as mais importantes intervenções para evitar que mais jovens se tornem vítimas da dependência química e, recentemente, a Prefeitura de São Paulo lançou a campanha "Quanto mais cedo, pior", que tem como proposta informar pais e jovens sobre os malefícios do consumo em excesso do álcool, especialmente para adolescentes.

"Quanto mais a gente postergar a idade de início desse uso, melhor. Menos dificuldades a pessoa terá na vida, menos chance de dependência, menos problemas interpessoais, comportamentais e de relacionamento. Bom seria se os jovens (e também adultos) não bebessem e encontrassem outras maneiras saudáveis de se divertir", ressalta Silveira.