Sepse: maioria dos casos começa fora do hospital; veja sinais e como evitar
Resumo da notícia
- Sepse é uma resposta desregulada do organismo a uma infecção pré-existente
- A doença se manifesta por falta ou o inadequado tratamento de uma infecção comum como pneumonia, infecção urinária, de intestino ou de pele
- De diagnóstico difícil, ela precisa de intervenção rápida para conter o seu avanço, pois pode levar à morte.
- Quando descoberta em tempo, o tratamento do problema é fácil
- Vacinas, hábitos de higiene e de vida saudável e cuidados no controle de doença crônica são importantes para prevenir a sepse
Você já deve ter ouvido falar que a causa da morte de alguém foi uma infecção generalizada ou no sangue, e até mesmo uma septicemia. Esses termos ainda são popularmente usados do para definir a sepse, doença que resulta de uma reação exagerada do corpo a algum tipo de infecção causada por vírus, bactéria ou fungo.
Embora seja mais conhecida como evento adverso que ocorre dentro dos hospitais, dados do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) indicam que 8 em cada 10 casos de sepse começam fora desse ambiente.
Considerada uma emergência médica, seus sintomas se confundem com outras enfermidades e, por isso, a sepse nem sempre é diagnosticada em tempo de ser contida, o que pode levar à falência de órgãos e morte.
A boa notícia é que a educação das pessoas e dos profissionais de saúde são a chave para prevenir, identificar e tratar com eficácia esse problema, que é uma importante causa de morte em todo o mundo.
Por que a sepse acontece
Toda vez que ocorre uma infecção —que pode ser uma simples gripe — o sistema de defesa de seu corpo entra em ação para combater a doença, provocando uma inflamação local. Você, então, pode ter uma febre, sentir-se cansado. Em alguns dias, porém, se sente melhor e volta à vida normal.
Entretanto, pode acontecer de essa resposta ser desregulada e, de alguma forma, ela passa a prejudicar o seu organismo. Isso é a sepse: uma resposta sistêmica à infecção.
Do ponto de vista clínico, a doença é reconhecida quando se verifica uma disfunção orgânica, ou seja, existe uma infecção urinária e ela já afetou outro órgão como o rim, pulmão, cérebro, fígado etc.
"Isso acontece, na maioria das vezes, simplesmente porque não se tratou [ou não se o fez corretamente] uma infecção", explica Denise Medeiros, coordenadora da atenção médica do INI-Fio Cruz (Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas - RJ).
As infecções mais comuns que podem levar à sepse
- Pneumonia (35%)
- Infecção do trato urinário (bexiga, rins) (25%);
- Infecção intestinal (11%);
- Infecção de pele (11%).
Quem está mais suscetível?
Qualquer pessoa pode ter sepse, mesmo as mais saudáveis. Porém, ela é mais comum nos seguintes grupos:
- Crianças muito pequenas (recém-nascidos prematuros);
- Idosos;
- Pessoas com doenças crônicas descompensadas (como o diabetes);
- Pacientes imunodeprimidos (pessoas com câncer, Aids, insuficiência cardíaca ou renal).
Quais os sintomas da sepse
A sepse sempre aparece em decorrência de uma infecção de base (pneumonia, infecção urinária ou de pele, meningite etc.). Isso significa que já existe uma doença em curso causada por vírus ou bactéria, com seus sintomas característicos, como febre, mal-estar generalizado, retenção de urina, que logo podem ser notados porque não passam ou parecem agravar-se.
Mas há outros sintomas que servem de alerta vermelho para a sepse e requerem atenção imediata, esclarece Viviane Maria de Carvalho Hessel, coordenadora do Núcleo de Epidemiologia e Controle de Infecção do Hospital Marcelino Champagnat (PR). Confira:
- Alteração da Consciência;
- Aceleração da respiração (mais de 22 incursões respiratórias por minuto);
- Pressão baixa.
Quando é hora de procurar ajuda
Toda febre que não passa já indica que a infecção não está evoluindo bem e deve ser avaliada por um médico. Como a sepse é uma situação de emergência, você deve procurar um pronto-socorro imediatamente.
Como é feito o diagnóstico?
Quanto mais rápido for identificado o foco da infecção, mais eficaz será o tratamento da sepse. Contudo, Fabiano Ramos, chefe do Serviço de Infectologia e de Controle de Infecção do Hospital São Lucas (RS), conta que, geralmente, o que acontece é que o atendimento é lento e inadequado no pronto-socorro. Isso leva ao diagnóstico tardio e, por vezes, a óbito. "Tempo é célula", diz o infectologista.
Caso você desconfie que seus sintomas ou de seus parentes batem com os da sepse, pergunte ao médico ou enfermeiro que o atender, já na entrada do pronto-atendimento, se esta poderia ser uma possibilidade.
Aliás, uma das campanhas do Ilas (Instituto Latino Americano de Sepse), dirigida aos médicos e ao público em geral, tem como slogan a frase - Pense, pode ser sepse!
Na hora da consulta, o médico deve ouvir sua história e fazer o exame físico. A depender da causa da infecção, serão solicitados radiografia (para os casos de suspeita de pneumonia, por exemplo), exame de urina, ultrassom (para avaliar a presença de abcesso), além de um "pacote" de testes de sangue que inclui hemograma, nível de creatinina, bem como coleta de lactato, considerado um marcador importantíssimo para avaliar a gravidade do avanço da infecção.
Como é o tratamento da sepse?
"A pedra fundamental para tratar a sepse é o profissional de saúde ser capaz de identificar precocemente a doença", afirma Luciano Azevedo, presidente do Ilas. Quando isso acontece, o tratamento é relativamente simples: indica-se o uso de antibiótico já dentro da primeira hora da definição do diagnóstico, além de soro para hidratação e normalização da pressão.
Entenda a diferença entre sepse e choque séptico
Enquanto a sepse é uma resposta desregulada do seu organismo diante de uma infecção, o choque séptico é o comprometimento do sistema cardiovascular causado por ela.
Nesse momento, o paciente já não mais consegue manter a pressão arterial adequada e necessita de medicamento (vasopressor) para normalizá-la. A esse quadro se dá o nome de choque séptico, que é considerado grave e ainda aumenta o risco de morte.
Dá para prevenir?
Sim. E a melhor forma de fazer isso é educar-se sobre o que é a doença, aprender a reconhecer seus sintomas, especialmente se você integra algum grupo de risco. Além disso, proteja-se de infecções por meio da adoção de hábitos de vida saudáveis e higiene pessoal. Para alcançar este objetivo, aposte nas práticas abaixo.
No dia a dia
- Mantenha a carteira de vacinação em dia, especialmente para combater infecções por vírus e bactérias como Influenza, meningococo, pneumococo e hemófilos —veja no link as vacinas que adultos e idosos precisam tomar.
- Certifique-se de manter sua doença sob controle, caso você tenha algum problema crônico como diabetes.
- Lave as mãos antes das refeições, ao preparar alimentos e após o uso do banheiro. A higiene das mãos não só pode como deve ser feita com álcool-gel 70%, eficaz no combate aos micro-organismos. Cultive o hábito de tê-lo sempre com você. Caso sinta a mão suja —com gordura, por exemplo, lave a mão e após use o álcool.
- Escolha bem os locais onde se alimenta na rua para reduzir o risco de consumir comida contaminada.
- Evite aglomerações.
- Use antibióticos somente quando eles forem prescritos por um médico e faça o tratamento na forma e pelo tempo por ele indicado. Nunca se automedique.
Quando a infecção já está presente
- Procure ajuda médica tão logo perceba os sinais de uma infecção.
- Evite automedicar-se com antibiótico.
No hospital
Higienize as mãos antes e depois de se aproximar de um parente ou conhecido que esteja internado. Todos os hospitais têm o dever de disponibilizar álcool-gel para esse fim.
Fontes: Denise Medeiros, médica intensivista, coordenadora da atenção médica do INI-Fio Cruz (Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas-RJ); Luciano Cesar Pontes Azevedo, presidente do Ilas (Instituto Latino Americano de Sepse) e médico intensivista do Hospital Sírio Libanês (SP); Fabiano Ramos, médico infectologista, chefe do Serviço de Infectologia e de Controle de Infecção do Hospital São Lucas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul); Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias, médica infectologista, coordenadora do Núcleo de Epidemiologia e Controle de Infecção do Hospital Marcelino Champagnat (Grupo Marista), presidente da Comissão Estadual do Controle de Infecção do Serviço de Saúde do Estado do Paraná. Revisão técnica: Luciano Cesar Pontes Azevedo.
Referências:
- Flavia R Machado, Alexandre Biasi Cavalcanti, Fernando Augusto Bozza, Elaine M Ferreira, Fernanda Sousa Angotti Carrara, Juliana Lubarino Sousa, Noemi Caixeta, Reinaldo Salomao, Prof Derek C Angus, Luciano Cesar Pontes Azevedo, on behalf of the SPREAD Investigators and the Latin American Sepsis Institute Network. The epidemiology of sepsis in Brazilian intensive care units (the Sepsis PREvalence Assessment Database, SPREAD): an observational study. The Lancet Infectious Diseases. Volume 17, Issue 11, P1180-1189, November 01, 2017;
Mervyn Singer; Clifford S. Deutschman; Christopher Warren Seymour et AL. The Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock (Sepsis-3). JAMA February 23, 2016;
- Florian B Mayr, Sachin Yende, Derek C Angus. Epidemiology of severe sepsis. Virulence. 2014 Jan;
Kumar A, Roberts D, Wood KE, Light B, Parrillo JE, Sharma S, Suppes R, Feinstein D, Zanotti S, Taiberg L, Gurka D, Kumar A, Cheang M. Duration of hypotension before initiation of effective antimicrobial therapy is the critical determinant of survival in human septic shock. Crit Care Med. 2006 Jun;
- Ministério da Saúde; ILAS - Instituto Latino Americano de Sepse; OMS (Organização Mundial da Saúde), CDC (Centers for Diseases Control and Prevention).
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