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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Candidíase: sintomas, tratamento e como evitar a coceira na região íntima

Coceira intensa na região íntima, dor e secreção branca são sintomas de candidíase - iStock
Coceira intensa na região íntima, dor e secreção branca são sintomas de candidíase Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para o VivaBem

24/09/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Candidíase é uma infecção por fungos, especialmente a Candida albicans
  • O problema pode se manifestar nas mucosas (genitais e boca) e porções da pele
  • Estresse, falta de higiene e roupas íntimas apertadas são fatores que desencadeiam a doença
  • Manter a pele limpa e seca e evitar consumir antibióticos ajuda a prevenir novas infecções

Um assunto muito discutido em fóruns sobre saúde feminina é a candidíase vaginal. Muitas participantes relatam um enorme incômodo, não só durante as crises, como também nos casos em que não encontram solução para o problema. Nessa hora, algumas tentam de tudo, até banhos de assento com alho, tomilho e orégano. Na maioria das vezes, não encontram alívio.

De fato, esse processo inflamatório e infeccioso causado por fungos, especialmente a Candida albicans, pode ser desafiador. Os médicos não sabem exatamente qual é a sua incidência na população em geral, mas quando acomete a área genital o problema é considero a segunda causa mais comum das infecções, perdendo apenas para a vaginose bacteriana.

Um estudo publicado pela revista Critical Reviews in Microbiology revelou que 70% a 75% das mulheres terão candidíase ao longo da vida ao menos uma vez, e metade dessas vai ter um segundo evento. Mais: em 5% a 10% das pessoas afetadas pela infecção, a doença poderá ser tornar crônica.

Embora a enfermidade seja mais conhecida em razão das infecções na região genital, ela não é considerada uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) e pode se manifestar em outras áreas do corpo, bem como afetar homens, crianças e idosos.

Qual a causa da candidíase

Candida é uma espécie de fungo que normalmente está presente na pele, no aparelho digestivo e na área genital. Na maioria das vezes, ele permanece silencioso. Mas, a depender de determinadas condições, o micro-organismo é capaz de infectar localmente as mucosas (como a boca) e porções da pele.

As zonas de infecção mais comuns se classificam em dois tipos:

- Genital Vulva, vagina e pênis;

- Extragenital Boca (afta ou sapinho), axilas, dobras da pele (por exemplo, região inguinal), a área entre os dedos dos pés, a pele abaixo das mamas (mulheres), a região das fraldas em bebês e até o esôfago (esofagite). Nesses casos, outros fungos podem estar em ação. Mas o mais comum é a Candida.

Fatores que podem desencadear uma infecção:

  • Lesões locais;
  • Ambientes quentes e úmidos;
  • Roupa íntima apertada e de material sintético;
  • Falta ou excesso de higiene;

Quem precisa ficar atento

Todas as mulheres estão suscetíveis. Mas as pessoas com seu sistema de defesa do corpo (sistema imunológico) prejudicado por algum motivo estão mais expostas ao problema. São elas:

  • Transplantados;
  • Pessoas com diabetes;
  • Usuários de corticoides;
  • Imunodeficiência por HIV;
  • Grávidas.

A relação entre estresse e candidíase

Muitas mulheres não se encaixam em nenhuma dos grupos acima e mesmo assim sofrem com o problema. De acordo com Paulo César Giraldo, professor titular de ginecologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), na maior parte das vezes, a culpa é do estilo de vida moderno.

"A resposta imunológica pode estar alterada só na vagina, por vários motivos. Porém, pode tratar-se simplesmente de estresse. Ele aumenta a circulação de cortisol que, por sua vez, reduz as defesas aos micro-organismos, por modificação da resposta inflamatória dos tecidos", diz o ginecologista.

Seis táticas para aliviar a coceira e a irritação da candidíase

VivaBem

Reconheça os sintomas da candidíase

Embora os sinais da candidíase possam ser desagradáveis para um número significativo de pessoas, boa parte delas não apresenta sintoma algum, isso é, será assintomática. No caso das mulheres, estima-se que 20% não perceberão a infecção.

Caso a doença se instale na parte genital, você pode notar os seguintes alterações, consideradas típicas da infecção:

Nas mulheres

  • Secreção (corrimento) branca em flocos (consistência de leite coalhado), que nem sempre tem odor pronunciado;
  • Coceira intensa (a parte externa da vagina);
  • Dor ou ardência durante as relações sexuais;
  • Inchaço;
  • Vermelhidão;
  • Ardor (nem sempre acontece);
  • Pequenas fissuras de pele e mucosa --em alguns casos, elas podem aparecer e são muito dolorosas, especialmente nas relações sexuais e nas micções (ato de urinar).

Nos homens

  • Irritação, queimação e vermelhidão em volta da cabeça do pênis ou na parte superior do prepúcio e até nos testículos;
  • Secreção branca, com consistência de leite coalhado;
  • Odor desagradável;
  • Desconforto ao manusear a pele do prepúcio.

Sinais de candidíase em outras partes do corpo

Se a Candida atacar a boca, as unhas, a parte interna dos dedos, o ânus etc., os sintomas mais comuns são:

  • Coceira;
  • Ardor intenso;
  • Vermelhidão e amolecimento da pele;
  • "Capinha" branca na boca.

Quando procurar um médico

Nos casos ginecológicos, de modo geral, o conselho médico é fazer uma consulta regular, pelo menos uma vez a cada ano.

Porém, ao notar algum tipo de corrimento que persiste por mais de três dias, suja a calcinha e mantém a vulva mais úmida, ou mesmo se sentir dor ou coceira, a melhor coisa a fazer é procurar um especialista.

Evite automedicar-se. Por vezes, os sintomas que você notará são semelhantes a uma infecção por Candida, mas pode se tratar de outro tipo de problema. Só um médico pode identificar qual é.

Nos demais casos, você pode consultar um dermatologista ou um urologista, caso você seja um homem.

Como é feito o diagnóstico

Nos casos ginecológicos, depois de ouvir o relato do paciente, o médico fará o exame físico e solicitará uma bacterioscopia vaginal (estudo microbiológico). Esse exame é importante porque aumenta a chance de acerto do diagnóstico.

Nas situações de competência de um dermatologista, a médica Tatiana Villas Boas Gabbi, porta-voz da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), explica que a história do paciente nem sempre é tão importante. O que conta mais é o exame clínico, ou seja, "o médico vai examinar a lesão e, se ainda tiver dúvida, poderá solicitar exames complementares, especialmente o teste micológico direto, que serve para identificar infecções por fungos. Ele é feito por meio da coleta de material retirado da pele do paciente".

Como tratar a candidíase

Uma vez definido que o problema realmente é candidíase, o médico escolherá entre as várias opções de antifúngicos disponíveis —para uso tópico ou oral.

Entre os ginecologistas, os mais comumente utilizados são os azóis e, dentro dessa classe, os triazóis ou imidazóis, cujas apresentações serão em creme ou comprimidos.

O que fazer quando a problema vai e volta

No mundo inteiro, 138 milhões de mulheres sofrem com candidíase de repetição na região genital. Estima-se que em 2030 esse número chegue a 158 milhões. Os dados foram publicados na prestigiosa revista Lancet Infectious Diseases.

Essas pacientes são fungorresistentes ou têm a imunidade rebaixada na área genital. Nesses casos, as opções de tratamento incluem o uso de óvulos com substâncias de pH mais neutro, que ajudam no controle do fungo, o tratamento será mais longo e serão utilizados medicamentos via oral, esclarece o ginecologista Alexandre Pupo Nogueira, do corpo clínico do Hospital Albert Einstein.

Tratamentos caseiros funcionam?

Os especialistas consultados nessa reportagem afirmam que até o momento não existem estudos científicos que provem a segurança nem a eficácia de soluções caseiras, como banho de assento, consumir iogurte e outros alimentos probióticos ou banho de assento. Além disso, algumas táticas podem prejudicar sua saúde. Portanto, antes de colocar em prática qualquer receita desse tipo, fale com seu médico. Pode ser que o seu caso nem se trate de candidíase.

Como reduzir o risco de infecções

Mantenha a sua pele limpa e seca, além de usar antibióticos somente quando eles forem prescritos por um médico, e exatamente na forma como ele indicar. Você também deve apostar nas seguintes atitudes.

- Invista em uma dieta saudável.

- Adote práticas que tragam maior qualidade de vida para a sua rotina.

- Controle a glicemia: caso você seja um paciente com diabetes.

- Capriche na higiene genital: esta não se limita apenas às boas práticas de higiene íntima e inclui as melhores opções de depilação, vestuário e até o cuidado com a atividade sexual —que deve ser moderada a fim de evitar lesões (fissuras). O objetivo é manter a saúde da mucosa genital. A limpeza deve ser realizada três vezes ao dia (pela manhã, à tarde e ao retornar para casa). Mulheres submetidas a estresse, obesas, no período menstrual ou no pós-parto precisam estar ainda mais atentas.

- Habitue-se a lavar a região genital após urinar ou defecar com água corrente e secar com uma toalha de algodão. O papel higiênico deixa resíduos e afeta a mucosa local. Se tal providência for impossível, faça uso de lenços umedecidos. Mas, atenção, tudo deve ser feito com bom senso. O excesso de limpeza também é prejudicial.

- Invista em exercícios do assoalho pélvico: trabalhar a musculatura local aumenta a irrigação sanguínea e a oxigena, melhorando as condições das células da região. Isso evita até hiperacidez vaginal, tão comum entre as mulheres.

- Use camisinha: apesar de a candidíase não ser uma IST, o preservativo protege a região e evita lesões.

- Evite suor ou umidade na região inguinal: se você for um esportista, adote o uso de tecidos que absorvam a umidade, use hidratantes para evitar atrito e tão logo seja possível seque a região.

- Faça uso de talcos secantes na região dos pés: eles são úteis tanto para atletas quanto para quem não pratica exercícios.

- Troque o maiô ou biquíni molhado tão logo seja possível;

- Use uma toalha para se sentar sobre a areia;

- Evite usar calças e calcinhas apertadas por longos períodos.

Fontes: Paulo César Giraldo, professor titular de ginecologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e vice-presidente da Comissão de Doenças infectocontagiosas da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Tatiana Villas Boas Gabbi, dermatologista porta-voz da SBD (Sociedade Brasileira Dermatologia); Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista e obstetra, membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). Revisão Técnica: Paulo Cesar Giraldo.

Referências:
- Higiene Genital Feminina: Orientação para a mulher moderna, 2015. Paulo C. Cesar Giraldo & Joziani Beguini: www.higienegenitalfeminina.com.br
- Guia de Higiene Genital Feminina da FEBRASGO: www.febrasgo.com.br
- David W Denning, Matthew Kneale, Prof Jack D Sobel, Riina Rautemaa-Richardson. Global burden of recurrent vulvovaginal candidiasis: a systematic review. The Lancet Infectious Diseases. Volume 18, Issue 11, PE339-E347, November 01, 2018.
- Bruna Gonçalves, Carina Ferreira, Carlos Tiago Alves, Mariana Henriques, Joana Azeredo, Sónia Silva. Vulvovaginal candidiasis: Epidemiology, microbiology and risk factors. Crit Rev Microbiol, 2016; 42(6): 905-927.