Gonorreia: os sintomas em homens e mulheres da doença transmitida no sexo
Resumo da notícia
- Gonorreia é uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae
- A doença pode acometer qualquer pessoa, mas as mais suscetíveis são os jovens com idade até 25 anos
- De fácil identificação entre os homens, nas mulheres pode não ter sintomas, progredir, e ainda ser causar de infertilidade
- O tratamento é feito à base de antibióticos e leva à cura, mas não cria imunidade
Na língua inglesa, a gonorreia é também conhecida como clap —uma possível alusão à forma popular como eram chamados os frequentadores dos bordéis franceses, les clapiers, aqueles que se escondem em tocas. Como toda IST (infecção sexualmente transmissível), a doença ainda carrega o estigma de ser consequência de uma vida devassa, mas o fato é que qualquer pessoa pode contraí-la.
A gonorreia tem como causa a bactéria Neisseria gonorrhoeae, também conhecida como gonococo. Nos últimos anos tem-se falado mais sobre ela em razão do aparecimento de novas cepas resistentes aos antibióticos: as chamadas superbactérias —entenda melhor o que é a "supergonorreia", doença resistente a antibióticos que preocupa médicos.
Embora sua incidência não seja alta na população em geral (1,5% a 2%), estudos nacionais e internacionais revelam que a população jovem é a mais afetada pela gonorreia e, entre esse público, a presença da doença tem sido mais frequente. A explicação para isso é a prática sexual sem proteção com parceiros variados, o que é considerado um comportamento de risco.
Como ocorre a transmissão?
Você pode contrair a doença durante a prática de sexo vaginal, anal ou oral com alguém que esteja infectado. Mulheres grávidas que tenham a doença também podem infectar o bebê.
Quais os sintomas da gonorreia
- Em mulheres
Em 60% a 70% das mulheres não há sintoma algum (problema assintomático). Muitas vezes, a pessoa só toma conhecimento da doença quando o parceiro é diagnosticado. Mesmo sendo raros, nas mulheres, podem ser observados os seguintes sinais:
- Necessidade urgente de urinar
- Dor ao urinar
- Secreção vaginal
- Dor durante a relação sexual
- Febre
Apesar de a enfermidade afetar igualmente homens e mulheres, elas costumam costumam ser as mais prejudicadas. "Isso porque, como os sintomas podem não ser evidentes, o tempo passará sem que se detecte a doença e o problema poderá avançar para quadros mais graves", explica José Eleutério Junior, presidente da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da Febrasgo.
- Sintomas da infecção em homens
Entre os homens, os sinais costumam aparecer entre dois a sete dias a contar da infecção. Eles notarão:
- Dor ao urinar
- Corrimento purulento (pode ser branco, amarelo ou verde)
Qual médico procurar?
Um clínico geral, um urologista, um ginecologista ou um infectologista podem ajudar você a diagnosticar e tratar o problema.
Como é feito o diagnóstico?
A gonorreia não é investigada por meio dos exames de rotina. Por isso, qualquer pessoa sexualmente ativa que transou sem proteção ou tenha múltiplos parceiros deve converse com seu médico sobre a necessidade de fazer testes específicos para identificar a doença. Essa estratégia de rastreamento deve aplicar-se também às grávidas, já na primeira consulta do pré-natal.
O médico poderá valer-se de exames laboratoriais como o teste de captura híbrida e o PCR (Reação em Cadeia de Polimerase), que identifica a presença de infecção. Até o momento, esses exames não estão disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde), mas na rede pública pode ser realizado o método que analisa material oriundo do colo uterino ou uretra para verificar a presença da bactéria.
Qual é a relação entre gonorreia e gravidez
A infecção na gestante coloca em risco a gestação. Além disso, o bebê pode ser infectado durante o parto. Veja as possíveis complicações:
- Aborto
- Parto prematuro
- Conjuntivite gonocócica no parto (inflamação nas pálpebras com secreção de pus nos olhos do bebê)
- Infecção generalizada na criança
Como é o tratamento
Ele é feito com antibióticos. "Tratar a gonorreia é medida da mais alta importância por dois motivos: primeiro, porque a terapia cura a doença; segundo, porque se corta a cadeia de transmissão da bactéria —se a pessoa não se trata, ela continua disseminando a bactéria", esclarece Angélica Espinosa Barbosa Miranda, coordenadora de Vigilância das IST do Ministério da Saúde.
O tratamento pode evitar ainda o avanço da doença no organismo, que tem como resultados possíveis a infertilidade e a peritonite (infecção da cavidade abdominal) nas mulheres. E atenção: em ambos os sexos, a gonorreia é a principal causa de internação por artrite infecciosa no Brasil, um tipo diferente daquele de origem imunológica/reumatológica.
Gonorreia tem cura?
Sim, desde que se faça o devido tratamento medicamentoso e que este seja efetivo.
Antonio Paulo Mallmann, ginecologista, obstetra e professor de Medicina da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), alerta para o fato de que, "se a pessoa não for corretamente tratada ou não usar o medicamento na forma e tempo indicados, a doença volta a manifestar-se, podendo ser até um quadro mais grave".
Por isso, aconselha-se que se faça novo rastreamento, passados dois ou três meses do tratamento, para saber se você, realmente, se livrou da enfermidade. Importante salientar que a gonorreia não causa imunidade: você pode ser novamente infectado (e continuar infectando os outros) ao se expor aos fatores de risco.
Dá para prevenir?
Sim. A melhor e mais simples forma de prevenção da gonorreia é o uso de camisinha (feminina ou masculina) durante todas as atividades sexuais.
Entenda a relação entre gonorreia, HIV e clamídia
Todas essas doenças são consideradas IST, têm a mesma porta de entrada e decorrem do mesmo comportamento de risco que é a prática de atividade sexual sem proteção.
Uma característica de uma IST é que muitas vezes ela vem de mãos dadas de outras. É o caso da clamídia, presente em grande parte das pessoas infectadas pela gonorreia.
Quanto ao HIV, ele interfere na resposta imunológica, exatamente como o faz a gonorreia, o que eleva o risco de infecção para ambas.
O que significa resistência aos antibióticos
Toda vez que você faz uso de antibiótico sem orientação médica, abandona o tratamento antes do tempo determinado ou até mesmo diminui a dose sugerida pelo médico por conta própria, está contribuindo para o aumento da resistência aos antibióticos.
Determinados micro-organismos, como bactérias, fungos, vírus e parasitas, podem mudar ao serem expostos a medicamentos. Isso significa que eles se tornam mais resistentes e precisam de fármacos cada vez mais fortes para serem combatidos, o que coloca em risco a sua saúde e a de toda a comunidade.
Fontes: Angélica Espinosa Barbosa Miranda, coordenadora de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde; José Eleutério Junior, presidente da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e Professor Associado da Faculdade de Medicina da UFCE (Universidade Federal do Ceará); Antonio Paulo Mallmann, ginecologista e obstetra, professor de Medicina da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e diretor do Hospital e Maternidade Santa Brígida. Revisão técnica: José Eleutério Junior.
Referências: Ministério da Saúde; PCDT (Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas), Ministério da Saúde, 2015; CDC (Centers for Disease Control and Prevention); OPAS/OMS (Organização Panamericana da Saúde/Organização Mundial da Saúde); Jennifer Pilley et alli. Screening for chlamydia and/or gonorrhea in primary health care: protocol for systematic review.BMC. 2018; Hook EW 3rd., Kirkcaldy RD. A Brief History of Evolving Diagnostics and Therapy for Gonorrhea: Lessons Learned. Clin Infect Dis. 2018; Thomas A. Peterman, Kevin O'Connor et alli. Gonorrhea Control, United States, 1972-2015, a Narrative Review. Sex Transm Dis. 2016.
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