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Imunoterapia com BiTE tem bons resultados em crianças com tipo de leucemia

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Imagem: iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em Orlando (EUA)*

10/12/2019 16h02

Um novo estudo clínico apresentado no Congresso da ASH (American Society of Hematology), que acontece em Orlando (EUA) entre os dias 7 e 10 de dezembro, mostrou resultados promissores entre pacientes recidivos pediátricos e jovens adultos de LLA (leucemia linfoblástica aguda).

No estudo, os pacientes que foram tratados com o imunoterápico blinatumomabe apresentaram uma taxa de sobrevida maior, menos efeitos colaterais e uma alta taxa negativa de doença residual mínima (DRM) —o que aumentou as chances deles seguirem para um transplante.

O imunoterápico faz parte de uma nova tecnologia chamada BiTE (bispecific therapeutic engagers), um tratamento com anticorpos monoclonais biespecíficos. A molécula tem dupla ligação e funciona como uma ponte para a conexão entre os linfócitos T do paciente e as células cancerígenas, combatendo o tumor.

A LLA é um tipo de câncer mais comum durante a infância, mas que pode ser diagnosticado entre adultos também. Ela acontece quando as células-tronco responsáveis por originar os componentes do sangue (glóbulos brancos, vermelhos e as plaquetas), ainda na fase imatura, param de funcionar corretamente e começam a se reproduzir de forma descontrolada.

Dados da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) afirmam que cerca de 90% dos pacientes pediátricos em tratamento chegam à cura. Entre os adultos em tratamento, a taxa de remissão da doença chega a 50%.

Os testes com o blinatumomabe —que já é autorizado pela Anvisa no Brasil para pacientes com recidiva desde 2017 — foram liderados pelo Children's Oncology Group (COG), entidade parte do National Cancer Institute (NCI) dos Estados Unidos.

Quando a leucemia volta em pacientes pediátricos após a primeira linha de tratamento, eles costumam ser tratados com quimioterapia para fazer o chamado "resgate" desses pacientes, reduzindo novamente as células cancerígenas no corpo. Após essa etapa, a melhor aposta é seguir para o transplante, opção que pode ser viável dependendo de quando a recidiva aconteceu —se foi a menos de 36 meses após a quimioterapia, o paciente é considerado de alto risco; se foi após esse período, o risco é considerado menor.

No entanto, a quimioterapia nesse momento costuma ser bastante agressiva nos pacientes, produzindo efeitos colaterais severos e muitas vezes sem conseguir um resultado satisfatório. Como resultado, os pacientes podem acabar não sendo elegíveis para um transplante ou atrasando a realização do procedimento, o que aumenta as chances da doença voltar.

O estudo, randômico, analisou um grupo com 208 pacientes recidivos de LLA entre 1 e 30 anos divididos em dois grupos: um tratado apenas com a quimioterapia convencional, e outro que recebeu a quimio e ainda uma rodada com o blinatumomabe.

O resultado é que o grupo tratado com o imunoterápico sofreu menos com a toxicidade, apresentando melhores resultados após o fim do tratamento em comparação com pacientes tratados apenas com quimioterapia.

De acordo com o Claudio Galvão de Castro Junior, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) e chefe do serviço de oncologia e hematologia pediátrica do Hospital da Criança Santo Antônio da Santa Casa de Porto Alegre, os resultados foram bastante animadores. "Nessa fase da doença, nós perdemos pacientes, pois a quimioterapia é agressiva e os deixa frágeis e suscetíveis a infecções", disse ao VivaBem, logo após a apresentação do estudo. "O resultado com o blinatumomabe é bastante impactante", disse.

O especialista ainda explica que o estudo vai ajudar a criar protocolos para usar o imunoterápico já na primeira recidiva. Atualmente, ele é utilizado a partir da segunda ou terceira volta da doença. "Já existem estudos em andamento para trazer o medicamento para uso na primeira linha de tratamento, o que também seria vantajoso para o paciente", afirma o médico.

* A repórter viajou para Orlando a convite da Amgen