Saiba diferenciar doença celíaca, alergia ao trigo e intolerância ao glúten
Resumo da notícia
- O glúten, proteína presente em alguns cereais, como trigo, cevada e centeio, leva a reações diferentes em algumas pessoas
- Embora a alergia e a doença celíaca sejam manifestações imunológicas causadas pela proteína, elas são diferentes entre si
- A sensibilidade ao glúten não provoca reações graves como as outras duas condições, apenas um desconforto
O glúten foi transformado em vilão por algumas dietas da moda, mesmo com pesquisas provando que sua restrição não é garantia de perda de peso ou de melhoras na saúde. Um estudo publicado no periódico Gastroenterology em setembro deste ano concluiu que o consumo de alimentos com glúten não está associado ao aumento de problemas gastrointestinais (como dor abdominal, indigestão, prisão de ventre e diarreia) nem provoca fadiga.
Essa proteína, que está presente em alguns cereais, como trigo, cevada e centeio, entretanto, faz mal para quem tem problemas específicos: doença celíaca, alergia ou sensibilidade a ela. Apesar de serem confundidas entre si, essas condições são diferentes. Abaixo, você descobre o que é cada uma.
Doença celíaca
Ela é uma doença autoimune, ou seja, o próprio sistema imunológico do corpo ataca células saudáveis, causando um processo inflamatório. Se o indivíduo que tem a condição ingere o glúten, quando o nutriente chega ao intestino delgado, o corpo libera anticorpos que atacam a parede do órgão.
A inflamação causada por esse ataque leva a diversos problemas. São eles: diminuição da absorção de nutrientes (o que em crianças provoca déficit de crescimento), diarreia, anemia, osteoporose, flatulência excessiva, distensão e dor abdominal, pequenas bolhas na pele e até manifestações neurológicas secundárias, como enxaqueca e epilepsia. Entretanto, a doença pode ser assintomática para algumas pessoas.
É bom lembrar, que o primeiro contato com o glúten por pessoas celíacas não causa sintomas. Eles somente aparecem da segunda ingestão em diante. Para diagnosticar o problema, o especialista faz uma junção do quadro clínico com testes para anticorpos específicos (tem que aparecer positivo para o IgA ou IgG). Se confirmada a doença, o indivíduo deve evitar o consumo do nutriente, uma vez que não há tratamento específico.
Os especialistas alertam que, mesmo sem tratamento, é importante que o portador seja diagnosticado e evite o consumo do glúten. Se ele continuar entrando em contato com o nutriente, pode causar o surgimento de neoplasias malignas (câncer) no intestino ou linfoma.
Alergia ao trigo
A alergia também é um tipo de manifestação imunológica, mas, diferentemente da doença celíaca, ela tem relação com outros tipos de anticorpos e pode ocorrer logo na primeira ingestão do alérgeno desde que o sistema imunológico já tenha sido exposto ao glúten via aleitamento materno ou pele, por exemplo. Isso ocorre, pois para haver alergia deve haver primeiro a sensibilização —que é a produção do anticorpo IgE ao alérgeno para em uma exposição seguinte ocorrer os sintomas. Enquanto na celíaca os anticorpos causadores do ataque ao intestino são o IgA e IgG.
O mais comum é que a alergia avise que está iniciando com sintomas leves, como coceira, quando o alimento ainda está na boca ou minutos depois do consumo. Os especialistas afirmam que muitos têm os sintomas na primeira vez que ingerem e só tem a reação mais grave na segunda ou terceira. Mas isso não é regra. A reação alérgica mais grave é chamada Anafilaxia e nela vários sintomas ocorrem ao mesmo tempo, além dos sintomas mais comuns de pele, também pode ocorrer tosse, chiado, falta de ar, dor abdominal, náusea, vômito, diarreia, desmaio e pode até levar a a morte.
Geralmente, quando o indivíduo é tratado a tempo, ele recebe um plano de ação do médico, que contém todas as diretrizes caso o contato com o alimento volte a acontecer. Além disso, é indicado que o paciente ande com uma nécessaire contendo um antialérgico, um broncodilatador e a caneta de adrenalina. Assim como a doença celíaca, não há tratamento de prevenção, a não ser evitar o contato com o alimento.
No caso de quem tem alergia ao glúten, o trigo é o cereal mais citado, por ser mais comum, mas algumas pessoas que reagem ao trigo também podem reagir ao centeio e à cevada.
Intolerância ao glúten
Os dois primeiros quadros (doença celíaca e alergia) são secundários ao glúten, já na intolerância o problema não é necessariamente o glúten, e sim o trigo. Por esse motivo, não se sabe exatamente se o vilão da história é a proteína presente no trigo (glúten) ou até mesmo o carboidrato encontrado nesse alimento.
Os sintomas são parecidos com a doença celíaca: diarreia, gases, desconforto abdominal, dor de cabeça, sonolência. Mas não há relação com anticorpo algum. É por esse motivo que o diagnóstico da sensibilidade é o mais difícil, feito com tentativa e erro.
O médico indica que o indivíduo se alimente de trigo e analisa a reação. Depois, uma nova análise é feita, dessa vez com o indivíduo não se alimentando do trigo. O processo é repetido por cerca de três vezes, para verificar se o culpado pelo desconforto é realmente o alimento. Por mais que não se saiba exatamente qual o processo envolvido nessa manifestação infeliz do intestino, suspeita-se que a microbiota (bactérias) intestinal tem um papel. Talvez pessoas com intolerância tenham uma alteração no eixo da flora do intestino.
Seja qual for o motivo, os especialistas frisam que intolerância não causa reações graves como a alergia ou a doença celíaca. Mas que se a ingestão do trigo incomoda, não serão eles que vão forçar o indivíduo a comer trigo (ou glúten). A questão é que o glúten faz bem. Além de dar energia, os grãos são fontes de fibras e micronutrientes. É claro que não é indicado comer só pão, por exemplo, fonte mais famosa do glúten. Mas é preciso evitar a "demonização" dos alimentos que contêm esse nutriente.
Fontes: Ricardo Barbuti, gastroenterologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz; Ana Carolina Rozalem Reali, médica alergista pela EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo) e membro do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).
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