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Descoberta foi pior fase da doença, diz médica com "cirrose não alcoólica"

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Carolina Cristina

Colaboração para o VivaBem

29/12/2019 04h00Atualizada em 29/12/2019 14h30

Há 11 anos, Andrea Lemos, 46, médica de família, chegava no consultório de um amigo otorrino para tratar uma alergia muito forte que costumava atacar todos os anos, no inverno. Mas daquela vez foi diferente. Além da injeção de corticoide que tomava, Andrea levou para casa uma guia de exame de sangue completo para fazer assim que possível.

A partir desse momento, a vida dela mudou. Ao ver o resultado, ela descobriu que as enzimas hepáticas TGO, TGP, Fosfatase Alcalina e GAMA GT estavam 15 vezes maiores do que o normal. Isso porque Andrea possui colangite biliar primária, uma doença autoimune do fígado, caracterizada pela destruição progressiva dos ductos biliares intra-hepáticos, provocando colestase, cirrose e insuficiência do órgão. Mas obter esse diagnóstico não foi algo simples.

"A partir do resultado do exame comecei a minha peregrinação", comenta Andrea. Ela foi para um gastroenterologista, que a encaminhou para uma hepatologista que não conseguia descobrir o que tinha. Tudo ficava ainda pior, porque não havia nenhum sintoma: "Eu não sentia nada, só os exames laboratoriais que estavam muito alterados".

Segundo Rodrigo Surjan, hepatologista do Hospital 9 de Julho (SP), a doença realmente pode progredir durante muitos anos sem causar sintomas. "Sua primeira fase é assintomática e, depois, eles [os sintomas] começam a aparecer. A evolução depende dos hábitos do paciente, fatores genéticos e condição geral de saúde".

Coceiras foram sinal

Mais exames de sangue e de imagem foram feitos e nada ainda. Além disso, Andrea não tinha sintoma de hepatite e nenhum diagnóstico informado batia com a realidade. Mas, depois de algum tempo, a paciente começou a perceber que sentia muita coceira. "Notei que quando eu suava muito meu corpo inteiro coçava, era algo insuportável, e só melhorava depois que tomava banho, mas se o banho era muito quente, a coceira continuava".

Andrea relatou o sintoma para a hepatologista, que decidiu fazer uma biópsia do fígado. Resultado: inconclusivo. Por isso, uma revisão do material coletado precisou ser feita. Uma não, três. Na última, a doença foi identificada. Se tratava da uma colangite biliar primária ductopênica autoimune, que já havia desenvolvido uma cirrose não alcoólica.

Segundo Surjan, cirrose é um estágio avançado de doença hepática crônica, que gera a cicatrização (fibrose) e formação de nódulos no tecido do fígado. "Esse quadro de lesão do órgão é irreversível e resulta na perda de sua função. O tratamento então baseia-se em limitar a progressão dos danos ao fígado", destaca o especialista.

Entenda a doença

Segundo Eduardo Cançado, professor-associado da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), a cada dez pessoas que têm a colangite biliar primária, nove são mulheres. A condição trata-se de uma doença autoimune, ou seja, ocorre quando o sistema imunológico da pessoa "combate" células do próprio corpo. Nela, resumidamente, os linfócitos "atacam" os dutos biliares do fígado e áreas próximas a eles, causando uma inflamação que bloqueia o fluxo da bile —líquido que auxilia na digestão. Se não o problema não for controlado, com o passar do tempo, o fígado desenvolve uma fibrose que substitui o tecido do órgão e altera sua estrutura, gerando a cirrose não alcoólica.

"Para mim, a descoberta foi a pior fase da doença, entre o primeiro exame até a conclusão do diagnóstico. Eu não sabia o que estava acontecendo, a médica não sabia o que estava acontecendo, mas me dizia que era algo grave que eu tinha que tomar cuidado", comenta.

Por ser um problema autoimune, Andrea terá de lidar com a doença para toda a vida. Para controlá-la, precisa tomar 300 mg de um medicamento específico três vezes por dia. "Também mudei bastante meu estilo de vida. Não posso comer nada gorduroso, nem tomar mais bebida alcoólica e usar anti-inflamatório, porque tudo isso sobrecarrega o fígado". A doença de Andrea atualmente está estável e, com os cuidados citados, ela leva uma vida normal.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, a cada dez pessoas que tem a colangite biliar primária, nove são mulheres. O texto informava que a doença atingia nove mulheres para cada dez pessoas, deixando a entender que essa prevalência era para a polução geral e não somente entre pessoas com a doença. A informação foi atualizada.
Atualmente se utiliza o termo colangite biliar primária e não cirrose biliar primária, como estava no texto. A informação foi atualizada ao longo de toda a reportagem.