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Uso exagerado de smartphones pode afetar visão, coluna e audição

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Imagem: iStock

Thais Szegö

Colaboração para o VivaBem

03/01/2020 04h00

Quer checar os seus emails? Basta acessá-los no celular. Precisa de uma resposta rápida de alguém? Só mandar uma mensagem de texto pelo celular. Está a fim de assistir a um vídeo? Veja pelo celular. Não tem nada para fazer? Então dê uma checada no feed das suas redes sociais ou divirta-se com um joguinho no celular.

Essa maquininha que cabe na palma da mão é realmente mil e uma utilidades e por isso é meio automático passarmos muito tempo vidrados em sua tela. Pesquisas já apontaram que uma pessoa olha para ele cerca de 150 vezes ao longo do dia. Um levantamento realizado pela empresa especializada em estatísticas Statista, que tem escritórios em vários lugares do mundo, revelou que os brasileiros são os campeões nesse quesito, passando quatro horas e 48 minutos em média por dia utilizando o aparelho. E esse valor mais do que dobrou em quatro anos.

E até mesmo crianças bem pequenas estão se acostumando a interagir bastante com ele. Não dá para negar que eles são uma mão na roda, ou melhor, no smartphone, em diversas situações, mas esses exageros podem custar muito caro para o nosso corpo. Pode ser que dentre as suas metas para 2020 esteja usar menos o celular (ou não!), então é bom saber os problemas que ele pode causar à sua saúde.

A visão está entre as partes mais afetadas. Ficar tantas horas focando em um objeto tão pequeno pode deixar os olhos ressecados, o que favorece o aparecimento de inflamações e infecções. Isso sem falar que existem grandes chances de o usuário que passa da conta sofrer com dores de cabeça com frequência por causa do estímulo visual constante.

A longo prazo, o problema pode ser mais grave. "O fato de precisarmos gerar um bom foco para perto durante tanto tempo pode prejudicar a visão de longe, que se torna embaçada, inclusive no caso dos pequenos", alerta Euripedes Neto, oftalmologista de São Paulo. "Não existe um número de horas máximo indicado nesse caso, mas o ideal é alternar esse tipo de estímulo com atividades que estimulem o foco de longe e que contem com luz natural", diz Neto.

A coluna, os braços, as mãos e os músculos também pagam caro nesse caso. "As tensões musculares provocadas pela má postura podem gerar processos inflamatórios que levam a dores intensas e crônicas, como a que se inicia no pescoço e irradia para os braços e as mãos, conhecida como cervicobraquialgia, e as cefaleias cervicogênitas, que são dores de cabeça provocadas por problemas na região cervical, ou seja, no pescoço, que fica o tempo todo arqueado para frente durante o uso do celular", conta Alessandra Masi, ortopedista e professora do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, e membro da International Cartilage Repair Society e da American Academy of Orthopaedic Surgeons.

"Depois de um tempo de uso excessivo podem surgir também problemas degenerativos na região cervical e uma condição chamada de nevralgia occipital na qual o paciente sofre com dores intensas na região ocular e sensibilidade excessiva na região do couro cabeludo", acrescenta Masi.

Já os movimentos repetitivos realizados durante o uso do aparelho podem desencadear processos inflamatórios nos tendões e articulações, gerando incômodos nos dedos e nas mãos que podem seguir até os cotovelos. "Para diminuir esses impactos, é indicado posicionar o smartphone em uma altura que permita que fiquemos com uma postura adequada e evitar ficar com a cabeça posicionada para baixo e os ombros caídos, postura bastante comum durante o uso do aparelho", aconselha a médica.

Ela também indica que a utilização contínua não ultrapasse uma hora e seja intercalada com alongamentos. "No caso das crianças o ideal é não passar de meia hora, intercalando com o mesmo período de descanso."

E a lista dos danos provocados pelo uso exagerado dessa maquininha vão muito além. Quem vive com ele na orelha ou utiliza os fones para ouvir música ou mesmo para fazer ligações coloca a audição em risco.

Usar o aparelho antes de dormir ou mantê-lo por perto durante o descanso atrapalha o sono, pois as suas luzes interferem no relaxamento e na produção de hormônios que ajudam nesse processo, como a melatonina. Até a aparência pode dar sinais de que estamos abusando. Isso porque o fato de permanecermos tanto tempo com a cabeça para baixo aumenta as chances de desenvolvermos uma papada.

Cuidado redobrado com a criançada

No caso dos pequenos o risco é ainda maior. Um trabalho realizado na Universidade de Toronto, no Canadá, revelou que a cada meia hora a mais que a criança fica vidrada na telinha aumenta em 49% o risco de atraso de fala.

Além disso, eles podem apresentar prejuízos de aprendizagem, problemas cognitivos, além de aumento da impulsividade, irritabilidade e agressividade. O tema é tão sério que a Academia Americana de Pediatria lançou um documento com orientações sobre o assunto. De acordo com o documento, as crianças só deveriam entrar em contato com o mundo digital depois dos 18 meses com supervisão ativa dos pais.

Entre 2 e 5 anos, o período máximo indicado é de uma hora por dia. Depois disso, indica-se que o cuidado seja personalizado.