Dá para fazer as pessoas gostarem mais de mim? Entenda se truques funcionam
Resumo da notícia
- Existem muitas respostas na internet, dicas e fórmulas para fazer as pessoas gostarem mais de você, mas especialistas garantem que elas não funcionam
- As pessoas gostam do que é espontâneo e se sentem atraídas por pessoas que possuem valores, crenças e atitudes compatíveis com as delas
- Em vez de buscar formas para as pessoas gostarem de você, tente buscar se conhecer melhor, o resultado será mais eficiente
Entre saber como fazer a inscrição para o Enem 2019, ovo de páscoa caseiro e ovo de colher, uma pergunta chamou a atenção entre as maiores buscas de "como fazer" no Google no ano passado. A questão "como fazer que as pessoas gostem de mim" está em terceiro lugar nessa lista. Existem vários resultados para a busca, com fórmulas e dicas de conseguir isso.
Mas, funciona? Para Regina Elisabeth Lordello Coimbra, psiquiatra e psicanalista e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, a busca por estratégias de seduzir o outro são muito perigosas, pois implicam vínculo não confiável por não ser verdadeiro.
"As verdadeiras relações humanas de afeto fluem naturalmente, sem nenhuma estratégia", analisa Coimbra. Para a psiquiatra, quem está em paz consigo mesmo, alguém que tenha uma noção da sua condição psíquica como pessoa, que está em um contato amoroso consigo mesmo, naturalmente este indivíduo poderá fazer trocas afetivas, amorosas de confiabilidade com outras pessoas. As estratégias, a seu ver, não funcionam.
"As pessoas deveriam buscar mais qualidade dos vínculos do que a quantidade. Pessoas realmente próximas e amigas sempre serão em quantidade reduzida. Atrair pessoas se relaciona a manipulação e sedução", afirma Rodrigo Martins Leite, psiquiatra e coordenador dos Ambulatórios do IPq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Para Leite, se fôssemos eleger um valor efetivo que agrega as pessoas entre si, ele apontaria a busca pelo bem comum. Colaboração, cooperação e empatia são ferramentas em falta hoje em dia e que abrem possibilidades concretas de vínculos pessoais. Não adianta um curriculum maravilhoso, tratamentos estéticos ou um perfil impecável nas mídias sociais. "Estamos muito sozinhos e carentes. Que tal ficar "online" com pessoas de carne e osso? Estamos nos relacionando com algoritmos, sites de busca e robôs. Não há vida ou afeto. Não nos preenche", completa.
No resultado divulgado pelo Google, não existem detalhes da busca como idade, região ou gênero, o que pode dar várias dimensões para os universos da população pesquisada. A psicóloga do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Natalia Novaes Pavani Soler, cita os altos índices de automutilação na adolescência e como essa necessidade de aprovação do outro pode ser prejudicial.
Buscar a aprovação do outro é uma atitude inata e primitiva, como a criança que faz algo e olha para o adulto buscando aprovação ou quando levamos um projeto para aprovação do chefe no trabalho. Essa busca, no entanto, passa a ser prejudicial quando começa a ser frequente e não somente no trabalho, como em um grupo de amigos ou na família, por exemplo. Quando o querer agradar o outro extrapola várias dimensões e quando o precisar da aprovação do outro for fundamental para que a pessoa se sinta bem, é um fato de atenção. "Depois da certeza de que vamos morrer, a segunda certeza da vida é que vamos desaprovar e desagradar também", explica Soler.
Por que as pessoas têm buscado tanto querer que as pessoas gostem delas?
"Primeiro porque, talvez hoje, as pessoas tenham falta de experiências afetivas que possam identificar a sinceridade emocional onde elas identificam amor", explica Coimbra. Para a psicanalista, falta um registro interno pelos equívocos de como as plataformas de contato entre as pessoas se estabelecem. As relações humanas estabelecem por premissas equivocadas que não levam a respostas do ponto de vista de trocas afetivas que possam ser sinceras e que uma pessoa possa se sentir reconhecida na no seu afeto, no seu amor pela outra.
Um exemplo são as relações afetivas artificiais, em que muitas vezes a sexualidade humana é confundida com uma relação afetiva: fazer sexo não é fazer amor. Pessoas têm confundindo as experiências emocionais. As relações humanas que se estabelecem por premissas equivocadas que não levam a respostas do ponto de vista de trocas afetivas que possam ser sinceras e que uma pessoa possa se sentir reconhecida no seu afeto, no seu amor pela outra.
Para Leite, pessoas especialmente inseguras tentam encontrar um porto-seguro nos relacionamentos e um remédio para a instabilidade, vazio ou turbulência interna. Ele cita um trecho da música de Caetano Veloso e Gilberto Gil, que para ele, é um trecho bastante valioso dos anos 70: "O seu amor, ame-o e deixe-o ir aonde quiser, ser o que ele é". As raízes dessa necessidade vêm da infância. Na fase adulta, se espera que consigamos lidar com os momentos de solidão e de falta e aceitar que a trajetória de cada um de nós é única ao longo da vida. Nem sempre isso é possível.
O psiquiatra afirma que é sempre um exercício interior diante de um fato inexorável: as perdas afetivas são inevitáveis de uma maneira ou de outra. "Que tal aprender a lidar com as tempestades? Com a estiagem? A observação da natureza e seus ciclos nos descreve claramente as idas e vindas e a inconstância de tudo e todos conforme a filosofia budista apregoa", complementa.
Armadilhas
Soler afirma que querer agradar o outro para que o outro passe a gostar de você é uma armadilha, pois, existe uma contradição que normalmente o que mais nos agrada são pessoas autênticas, seguras e corajosas e o que nos desagrada é o oposto disso: pessoas inautênticas, inseguras e preocupadas em se modular. "São aquelas pessoas que nunca têm uma opinião formada e as modulam sempre de acordo com quem fala mais alto em uma conversa. A gente tem a sensação de que não conseguimos conhecer aquela pessoa", pontua.
Segundo a psicóloga, as pessoas que são autênticas e que se comportam da forma que elas acreditam que seja melhor, passam uma sensação de verdade. Ainda que elas não necessariamente tenham a aprovação e agradem todo mundo, elas passam a sensação de estarem comprometidas com a verdade.
Já as pessoas que são submissas, passivas e que ficam modulando bastante o que acham e ficam fazendo sempre um jogo, passam a impressão de mentira, de que elas não são verdadeiras. O ser humano, instintivamente prefere se relacionar com quem não é uma ameaça, preferimos nos relacionar com pessoas que a gente conhece e que podemos saber a opinião dela do que daquelas que ficam se adaptando o tempo todo.
Leite diz que dicas gerais frequentemente erram o alvo e o percurso dos relacionamentos e afetos é absolutamente individual e customizado. "O que serve como solução ou felicidade para mim, pode ser um problema ou frustração para outro e vice-versa. A armadilha é se iludir com receitas prontas e frases de efeito".
Seja você mesmo
Não existe fórmula ou receita para agradar pessoas e fazer com elas gostem de você e, segundo os especialistas, essa estratégia não é saudável, já que nem tudo que agradamos, nos agrada. Soler exemplifica que em nossas relações funcionam como no marketing: existe a necessidade de definir um público. Quando nós nos conhecemos, nossas convicções e maneira de ver a vida, encarar os fatos, acabamos trazendo as pessoas que se identificam com as nossas verdades para perto de nós.
"Penso que nós estamos perdendo índices dessas avaliações que são sustentados pelo nosso aparelho, pela nossa mente. Não podemos a avaliar amor por bens materiais, também não podemos avaliar por índices concretos" analisa Coimbra Ela afirma que amor é uma emoção que se sente que se pode dimensionar com os nossos instrumentos de sensibilidade psíquica. "Se o indivíduo não se desenvolve, se ele não está presente nas relações humanas, não é possível identifica mesmo o amor", completa.
A dica de Leite é simples: "cultive a beleza interior: nossa principal riqueza são as nossas experiências. Mergulhe nelas. Certamente você encontrará alguém com quem compartilhá-las no momento oportuno". Para o psiquiatra, a maior pobreza é ter somente bens materiais ou dinheiro. "Nada é mais sexy do que ser solidário, empático e gentil com as pessoas principalmente nos momentos difíceis. Na hora da festa é muito fácil ser amigo", finaliza
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Entrada: gratuita
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