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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Tem dificuldade em aproveitar sua própria companhia? Veja como começar

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Imagem: iStock

Diego Garcia

Colaboração para o VivaBem

10/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Na maioria das vezes não gostamos ou não sabemos lidar com nossos próprios defeitos
  • Muitas vezes buscamos no outro a resposta que encontramos em nós mesmo se olharmos para dentro de nós
  • Buscar o autoconhecimento, encarar seus defeitos de frente e buscar melhorá-los, é um exercício árduo, mas necessário para uma vida melhor

É uma tarefa fácil para você almoçar sem uma companhia? Consegue ir para o trabalho sozinho, sem mandar uma mensagem pelo celular ou interagir em uma rede social? Ir ao cinema acompanhado de você mesmo é uma missão impossível? Sim, conviver consigo mesmo é muito difícil para muita gente, o que chega a ser um paradoxo: gostamos de estar junto de outras pessoas, mas não com a gente mesmo, ao mesmo tempo, esperamos que os outros gostem de nós. Por que isso acontece?

"É muito difícil o exercício de estar voltado para dentro de si. No momento em que eu me olho e percebo quem eu sou, faz com que percebemos nossos buracos de medos, dores e inseguranças e não é fácil entrar em contato com todas essas partes", responde Dorli Kamkhagi, psicóloga do Laboratório de Neurociências do IPq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo).

Dependência e necessidade de viver em grupos

O homem já nasce dependente: precisa de ajuda para se alimentar, tomar banho, se vestir, enfim, de todos os cuidados para viver. Para Regina Elisabeth Lodello Coimbra, psiquiatra e psicanalista, é importante que essa dependência evolua de forma saudável, até que eventualmente esse vínculo dessa forma se quebre. "Quando esse intercâmbio que veio desenvolver autonomia da criança não se desenvolve, vão se instalar mecanismos que irão prejudicar tanto a criança como os pais criando-se vínculos de uma dependência", explica a psicanalista.

Eduardo Name Risk, psicólogo e docente do Departamento de Psicologia da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), complementa que, além dos cuidados com o bebê quando nasce, na sociedade ocidental contemporânea, a socialização depende de uma série de instituições que paulatinamente lhes inculcam valores, visões de mundo e costumes. "Dentre essas instituições, podemos mencionar a família, a escola, as religiões de diferentes matrizes, as mídias digitais e as redes sociais", exemplifica.

Em outras palavras, na sociedade em que vivemos, para uma criança se tornar um adulto do ponto de vista social, é preciso que ela seja educada, que aprenda valores, regras e normas de convívio, o que ocorre em grupo.

Ele completa que convivemos com os outros nos esquecendo (ou nos enganando) de que podemos perdê-los, perder nossos pais, perder nossos parceiros, filhos, irmãos, amigos, mas ao mesmo tempo são estas pessoas que nos auxiliam nos percalços da vida ou que garantiram nossa sobrevivência psicológica ou mesmo material —no caso de nossos pais durante nossa infância.

Autoconhecimento é a chave

Muitas vezes as pessoas não conseguem ficar sozinhas por não conseguirem olhar seus próprios defeitos. Kamkhagi explica que "as pessoas buscam o barulho externo para negar o que há de mais profundo". Para Natália Novaes Pavani Soler, psicóloga do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, muita gente, porém, não tem o conhecimento do que a desagrada, do que causa dor.

"A gente só se constrói e cresce realmente quando podemos suportar realmente quem a gente é" afirma Kamkhagi. Ela analisa que estar em contato consigo mesmo, e muitas vezes estar sozinho, não significa depressão nem solidão é um momento, um modo da gente poder saber quem a gente é, entender os nossos ciclos e os nossos movimentos.

Buscar o autoconhecimento é fundamental para sabermos aquilo que não nos agrada e que devemos mudar para que consigamos olhar para nós mesmos, sem fugir. Coimbra diz que é satisfatório estar consigo mesmo, tanto sozinho quanto na companhia de outras pessoas. "A partir dessa perspectiva, que se possa ter uma troca com o outro, por ter uma troca consigo mesmo, com seu mundo interno e que a própria pessoa sozinha possa ser uma companhia para ela", completa.

Risk pondera que existem pessoas introvertidas e extrovertidas, ou seja, pessoas que gostam de ficar mais momentos a sós e outras que preferem passar a maior parte do tempo em companhia de outras pessoas. O que não significa que pessoas extrovertidas e que gostem de estar sempre com alguém, não saibam ou não consigam conviver com seus defeitos. Não podemos generalizar.

Por onde começar?

A busca pelo autoconhecimento é um caminho interminável. Quanto mais você descobre, mais quer descobrir. Soler diz que um bom exercício para quem quer se conhecer melhor é observar-se com carinho, sem críticas: amenizar as fragilidades, nomear as emoções, as ações e reações, questionar o que pensa sobre determinados assuntos e analisar comportamentos. "Talvez esse processo de análise carinhosa se depare com situações difíceis de lidar e a busca por um profissional de saúde mental pode se fazer necessária", conclui.

Outra forma, orienta Risk, é procurar o serviço de saúde mais próximo de sua residência, por exemplo, os Núcleos de Saúde da Família que compõem parte da atenção primária à saúde no Brasil e buscam, dentre outras funções, promover saúde, ou seja, promover atividades e mudanças de hábitos e instalar comportamentos que previnam o adoecimento do indivíduo. "Em algumas cidades estes núcleos promovem atividades de integração comunitária que podem ser bastante significativas para as pessoas e que podem levá-las a conviver melhor consigo mesmo e com o outro", finaliza.

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Entrada: gratuita