Estresse realmente deixa os cabelos brancos, comprova estudo inédito
A relação entre o estresse e o aparecimento de cabelos brancos não é exatamente uma novidade. Existe inclusive uma lenda envolvendo Maria Antonieta e sua decapitação: na noite anterior à execução na guilhotina, os cabelos da ex-rainha da França embranqueceram. A explicação para essa conexão entre a cor dos fios e o emocional, entretanto, só foi comprovada pela ciência em um estudo publicado nesta quarta-feira (22), no periódico Nature.
A pesquisa foi realizada por cientistas de Harvard com participação do brasileiro Thiago Mattar Cunha, professor da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e pesquisador do Crid (Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias) da FMRP-USP, órgão criado com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Antes do estudo, os cientistas já sabiam que seres humanos ou animais que estavam sob estresse tinham uma ativação no sistema nervoso autônomo simpático. Esse sistema é responsável por induzir nossas reações à luta e à fuga. Ele aumenta a frequência cardíaca, a circulação sanguínea nos músculos e aumenta a sudorese, por exemplo.
Testes com camundongos mostraram que, quando ativado, esse sistema também libera noradrenalina. O neurotransmissor esgota as células-tronco presentes no bulbo capilar e responsáveis pela coloração do fio, deixando os cabelos brancos. "No bulbo capilar tem uma célula-tronco que produz melanina e que se autorrenova. Nós mostramos que a noradrenalina faz com que essa célula se diferencie e não volte ao seu estado normal, ou seja, aquela fonte de células que produzem melanina se esgota", disse Cunha, em entrevista ao VivaBem.
Sistema nervoso e cabelo
A interação entre o sistema nervoso e as células-tronco de melanócitos causa estranhamento, até para os cientistas. Afinal, o que os nervos têm a ver com o cabelo? A teoria até que é simples e talvez a explicação seja uma habilidade conservada durante a evolução.
Segundo os pesquisadores, cefalópodes como lulas e polvos têm sistemas sofisticados de coloração que permitem a mudança de cor para camuflagem ou comunicação.
"As atividades neuronais controlam suas células produtoras de pigmentos, permitindo mudanças rápidas de cores em resposta a predadores ou ameaças", escreveram no estudo, detalhando a semelhança com o que ocorre nos humanos.
Fios brancos do envelhecimento
Ao envelhecer, os cabelos também ficam brancos, ou seja, as células-tronco de melanócitos também sofrem diferenciação com a idade. Mas não há um estresse agudo que explique essa reação. "Não sabemos ainda se o sistema nervoso está envolvido na produção de cabelos brancos em relação ao envelhecimento, isso está em aberto ainda", diz Cunha.
Já que algumas dúvidas persistiram, os pesquisadores desejam continuar o estudo. "No futuro, será interessante investigar se os mecanismos que descobrimos aqui também contribuem à perda de células-tronco durante o envelhecimento, e se o estresse em si pode imitar um processo acelerado de envelhecimento", escreveram.
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