Estresse financeiro causa problemas na atenção e memória; como gerenciar
Resumo da notícia
- A incerteza financeira é uma das principais causas de estresse e normalmente traz questões difíceis de resolver em pouco tempo
- Problemas cognitivos relacionados ao estresse prolongado geram prejuízo na atenção, aprendizagem e memória
- Pode causar ainda ansiedade, depressão e até aumento do consumo de álcool, tabaco e outras drogas ou medicamentos
- É fundamental buscar apoio financeiro e emocional para enfrentar a situação sem impulsos
O estresse crônico afeta a saúde física e mental. Portanto, seu gerenciamento é essencial para manter tudo sob controle. No entanto, em tempos de crise, desemprego e economia instável é um desafio controlar o estresse financeiro. Boletos, cheque especial, cartão de crédito, prestação atrasada e uma série de problemas relacionados à falta de dinheiro tiram o sono de qualquer um. Uma pesquisa realizada ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil), em 2019, apontou que para 78% dos entrevistados, a incerteza financeira é a principal causa de ansiedade e preocupação.
"Problemas financeiros elevam o estresse, afetam a autoestima, interfere na cognição atrapalhando o discernimento mental, pode levar ao uso abusivo de bebida, causar depressão e até levar a pessoa ao suicídio", confirma Ana Maria Rossi, doutora em psicologia clínica, presidente da ISMA-BR e co-presidente na Divisão de Saúde Ocupacional da Associação Mundial de Psiquiatria.
Organismo em risco
Qualquer tipo de estresse libera cortisol, tendo atuação direta no cérebro. No caso do estresse financeiro, esse problema se torna crônico, duradouro, afinal dificilmente uma dívida é solucionada rapidamente. "Há alguns problemas cognitivos relacionados ao estresse que geram prejuízo na atenção, aprendizagem e memória", diz o neurocirurgião Júlio Pereira, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Segundo ele, a sensação de dificuldade em resolver o problema pode levar ainda a outras doenças neuropsiquiátricas como transtorno de ansiedade e depressão.
Isso acontece porque o estresse provoca uma resposta de luta ou fuga, algo importante para a nossa proteção em muitas situações. Tudo bem quando essa reação é provocada para nos ajudar a nos proteger, porém de maneira contínua acaba sendo um dano ao organismo. Afinal, preocupações financeiras predispõem ao aumento de cortisol e adrenalina (hormônios do estresse) na corrente sanguínea.
"Isso provoca um efeito comportamental em cascata, representado por dificuldades de sono, aumento do apetite com consumo de calorias em excesso, fadiga, ansiedade, depressão e até mesmo aumento do consumo de álcool, tabaco e outras drogas de abuso ou medicamentos tranquilizantes e sedativos", alerta o psiquiatra Victor Bigelli de Carvalho, colaborador do IPq-HCFUMSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Mais dificuldade em sair do problema
A partir do momento em que o cérebro é afetado pelo estresse crônico, é natural que a pessoa se depare com mais dificuldade em achar uma saída para o problema. "Ele afeta a capacidade de sustentar a atenção e de fazer um planejamento adequado", diz Carvalho. Além disso, a ansiedade gerada pelo estresse pode levar a atitudes impulsivas que aliviam uma angústia imediata, mas não resolvem o real problema em médio e longo prazo.
E como vai virando uma bola de neve, tende a favorecer a depressão e até, em casos realmente extremos, levar à ideação suicida. "Sem encontrar uma forma de administrar as diferentes consequências negativas do endividamento, o indivíduo pode entender que o suicídio é a única forma para se livrar do problema e fugir do sofrimento e das consequências", comenta a doutora em psicologia Suely Sales, professora do Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos da UnB (Universidade de Brasília).
Como gerenciar o estresse financeiro
Não é fácil ficar com o nome negativado, receber ligações de cobrança e não conseguir honrar com os compromissos financeiros. Mas uma coisa é importante: entender que você não está sozinho nessa situação. Portanto, tentar livrar-se desse peso é um passo importante para enxergara uma luz no fim do túnel. "E para manter o controle da situação é importante identificar a causa do endividamento, que podem ser várias, incluindo falta de habilidades/conhecimento para gerir os próprios recursos, imprevistos na vida, transtorno compulsivo, insegurança social, relações abusivas e outras", diz Sales.
Depois disso, vale procurar ajuda com alguém que entenda um pouco sobre questões financeiras e esteja com a cabeça fria para identificar a melhor saída. "Pela falta de dinheiro, a pessoa não vai conseguir pagar o serviço de um coach, mas o próprio gerente do banco pode orientar e até instituições como Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) ou Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) podem ter especialistas para este tipo de acolhimento", reforça Rossi. Para ela, aliás, fundamental buscar apoio financeiro e emocional para enfrentar a situação sem impulsos.
Depois disso, reformular o orçamento e apostar em uma planilha pode ser importante para manter tudo organizado. Além disso, se permitir um respiro: uma caminhada, uma conversa com alguém de confiança ou uma meditação para tentar serenar um pouco a mente. "A pessoa deve ser gentil com ela própria para não interiorizar emoções como raiva e culpa. Isso ajuda a gerenciar o estresse e encontrar a melhor solução para o problema", confirma Rossi.
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