Fazer elogios é benéfico para quem faz e quem recebe: entenda por quê
Resumo da notícia
- A prática de elogiar as pessoas pode aumentar os comportamentos que nos agradam
- O conceito de reconhecimento é definido como a declaração de um fato, já o elogio é uma observação favorável
- A dificuldade em elogiar e receber elogio pode estar relacionada às crenças construídas ao longo da vida
- Construir uma relação de dependência em receber elogios pode sinalizar uma fragilidade
De repente, alguém chega com um elogio que te faz 'corar', mas no fundo garante aquela satisfação. Uma sensação boa de prazer e reconhecimento. O elogio é um comportamento verbal que ressalta características específicas de uma pessoa. "Ele atua como um reforçador, sendo considerado uma recompensa social que pode promover benefícios como o aumento da autoestima, sentimento de pertencimento e satisfação, fortalecimento das relações interpessoais, além de aprofundar vínculos", detalha Ilíada Alves, psicóloga e membro do Ambulim (Ambulatório de Transtornos Alimentares) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq-HC).
Portanto, elogiar é uma atitude que não deve ser extinta. A prática de elogiar as pessoas pode aumentar os comportamentos que nos agradam, sendo que gratificar uma pessoa dessa forma um comportamento favorável é considerado muito mais efetivo comparado ao ato de ignorar ou punir o comportamento que não nos agrada.
A diferença entre elogio e reconhecimento
O conceito de reconhecimento é definido como a declaração de um fato, ou seja, são evidências concretas de algo produzido por alguém. Já os elogios são observações favoráveis a respeito das características de uma pessoa ou ação executada por ela. Na prática, você pode receber um elogio por uma tarefa executada na escola ou no trabalho, o que difere em receber uma nota alta ou um aumento de salário. O ideal é conquistar ambos, mas um pode estar desassociado do outro.
Para o psicólogo, Claudio Simon Hutz, professor titular da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o elogio deve fazer parte da educação básica. "É essencial enaltecer o que é bom e não apenas corrigir o que está errado", avalia. Por isso, elogiar reforça as relações e verbaliza um reconhecimento que traz muitos benefícios a quem recebe e quem oferece o elogio. "Elogiar favorece a simpatia e a empatia, garantindo prazer e satisfação a quem oferece o elogio também", diz o docente.
Há uma dificuldade nisso
Se é bom dar e receber, por que não elogiar mais? "Essa dificuldade em elogiar e receber elogio pode estar relacionada às crenças construídas ao longo da vida", diz Alves. Como, por exemplo, 'se elogio, a pessoa vai pensar que quero algo dela', ou 'se aceitar um elogio irão pensar que estou convencido', e há ainda quem não lida bem com um elogio porque realmente acredita que 'não mereça'. Por isso, a psicoterapia pode ajudar a trabalhar na desconstrução dessas crenças disfuncionais.
De acordo com Hutz, o importante mesmo é saber oferecer um elogio sincero, algo que não pareça irônico e gere aquele mal-estar. E fazer disso um exercício constante. Pois, quem tem dificuldade em receber também pode achar complicado oferecer e, essa é um troca saudável, que pode ser colocada em prática no dia a dia.
Só não vale criar dependência
Ser elogiado é bom, mas não pode virar um apoio para tudo. Afinal, construir uma relação de dependência em receber elogios pode sinalizar uma fragilidade no sentimento de capacidade e autoeficácia, incitando cada vez mais a necessidade da aprovação externa. E para lidar com essa situação, muitas vezes, um acompanhamento psicológico pode ser muito necessário.
Contudo, a Alves cita algumas ações que podem auxiliar no fortalecimento da autoconfiança:
- Estabeleça metas realistas para cumpri-las ao longo do seu dia. Comece por passos pequenos;
- Pare imediatamente de se comparar com as outras pessoas. O seu único parâmetro deve ser você mesmo;
- Fale para si mesmo coisas boas sobre você. Cultive essa relação!
Quando um elogio não faz bem
Para o psicólogo e psicanalista Guilherme Ponce, doutor em Psicologia Clínica pela PUCSP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), os elogios são uma grande parte de como nos comunicamos uns com os outros. "Desde que não seja relativo ao narcisismo, o recebimento e a colocação de um elogio podem nos ajudar a nos aproximar do real", comenta.
Segundo ele, no entanto, existem situações em que o elogio pode ser desvirtuado de seu propósito genuíno e aqui ele explica cada um deles:
Elogio ou projeção? Quando ele surge com um efeito de cobrança, paralisando a pessoa em seus processos. Ou seja, o elogiado sente-se pressionado e cria medo em não conseguir sustentar à altura daquilo que o outro projeta nele. Em longo prazo essa idealização pode gerar uma expectativa inalcançável resultando em sentimento de frustração e, consequentemente, na perda de interesse nas atividades relativas ao elogio.
Elogio ou assédio? Determinados assédios são atos de violência que podem ser interpretados como elogios, principalmente por quem o faz. Porém, é provável que uma mulher ao ser 'elogiada' por homens ao passar na calçada sinta tal ato como um abuso, uma violência mascarada de carinho. Neste caso, é importante aprender a não aceitar esses supostos elogios, inventando seus modos de recusá-los sempre que necessário, podendo mostrar para si e para outros a real dimensão desse tipo de assédio.
Elogio ou manipulação? Muitas estratégias de propaganda abusam do poder das imagens e das palavras para produzir, em seus consumidores-alvo, um deslocamento do uso dos elogios para a sustentação de uma autoimagem narcísica. O modo como as propagandas são estruturadas encoraja nas pessoas o mau uso da autoimagem. Fazem isso introjetando expectativas arbitrárias —de beleza, poder, conforto, felicidade — que mais desnorteiam o desejo das pessoas do que os conduzem. Essas imagens acabam tendo mais um efeito de mistura dos dois fatores antes apresentados: ao mesmo tempo uma projeção e um assédio, forçosamente modelando o modo de sentir e de pensar das pessoas para caberem na finalidade de gerar lucro.
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