Ácido úrico em excesso: que pode ser? Atenção a gota e pedras nos rins
Não é verdade que níveis altos de ácido úrico no sangue —sozinhos— levam a descamações da pele da planta dos pés. Isso é uma crença popular. A hiperuricemia, nome médico dado a essas taxas aumentadas, não causa sintoma na maioria das pessoas.
O problema costuma ser identificado em um check-up ou por diagnóstico de suas eventuais consequências —a gota e os cálculos renais.
O limite normal de concentração de ácido úrico no sangue é de 6 mg/dL. Mas, valores mais elevados, isoladamente, não indicam a presença de uma doença —eles são muito prevalentes especialmente no continente asiático.
A estimativa é que 21% da população geral e 25% dos pacientes hospitalizados tenham hiperuricemia sem apresentarem sintomas. No Brasil, esse percentual equivale a 13%.
Apesar disso, taxas anormais de ácido úrico podem ser observadas em homens, mulheres, jovens, crianças e idosos e podem estar relacionadas a outras doenças como a síndrome metabólica, o diabetes, doenças cardiovasculares e renais.
Por que a hiperuricemia acontece?
O ácido úrico é um subproduto da degradação da purina, componente natural de certos alimentos. Níveis elevados dele no sangue podem decorrer de uma predisposição genética, do aumento em sua produção (hiperprodução), da redução de sua excreção (hipoexcreção) ou da combinação desses dois últimos processos.
O quadro mais comum, porém, é o segundo, diz Liz Ribeiro Wallim, professora de reumatologia da Escola de Medicina da PUC-PR.
A hiperprodução decorre dos seguintes fatores:
- Dieta rica em purina;
- Problemas na metabolização das purinas;
- Presença de doenças como psoríase, tumores etc.;
- Excesso de exercícios.
Já a hipoexcreção pode ser consequência de:
- Doença crônica ou aguda dos rins;
- Uso de certos medicamentos (especialmente os diuréticos);
- Consumo de álcool;
- Síndrome de Down.
Sintomas de hiperuricemia
A maioria das pessoas não apresenta sintomas de hiperuricemia e descobre que tem níveis de ácido úrico anormais quando apresenta sinais da complicação mais comum observada nesses casos: a gota.
Esta é uma enfermidade que decorre do depósito de ácido úrico no sangue e nos tecidos, o que leva à formação de cristais de urato nas articulações periféricas —o que poderá ser o resultado de mais de 10 anos de taxas elevadas sem controle.
A situação mais frequente é que o dedão do pé seja o primeiro a se manifestar por meio de dor local e/ou inchaço, principalmente entre os homens.
Outra complicação comum da hiperuricemia é a litíase renal (cálculo renal ou pedra nos rins), o que equivale de 5% a 10% de suas causas (da litíase).
"A síndrome metabólica, ou seja, a presença de obesidade, pressão alta, alterações de colesterol, triglicérides e glicemia —que aumentam o risco de doenças do coração, do acidente vascular cerebral (AVC) e do diabetes também podem ser um sinal de que as taxas de ácido úrico andam altas, embora ainda não se saiba dizer o que se manifestou em primeiro lugar", adverte Salma Ali El Chab Parolin, endocrinologista e professora da Escola de Medicina da PUC-PR.
Como é feito o diagnóstico?
Na consulta, o médico fará o levantamento do seu histórico para conhecer detalhes de seu estilo de vida. Esteja pronto para informar a ele o nome dos medicamentos que você usa ou se tem alguma doença já diagnosticada. Isso o ajudará a descobrir se algum desses fatores se relaciona à sua queixa.
O exame físico, sozinho, não revelará o excesso de ácido úrico. Mas o especialista poderá observar suas articulações e sensibilidade na região dos rins, se o que o levou até ele foi um sintoma renal.
Myrna Campagnoli, endocrinologista do Laboratório Exame (DASA), informa que, para confirmar o diagnóstico de hiperuricemia o médico terá à sua disposição "um teste de urina que deve analisar uma coleta de 24 horas.
Contudo, o mais comum e prático é que se faça o exame de dosagem no sangue do ácido úrico". Radiografia ou ultrassonografia renal poderão ainda ser solicitadas. O objetivo será investigar cálculos renais que ainda não tenham se manifestado.
Outras possíveis requisições são os exames para avaliar a função dos rins (creatinina e ureia), além de testes que verificam a presença de fatores relacionados à síndrome metabólica.
Tratamento da hiperuricemia
Todos os especialistas consultados afirmam que a maioria dos pacientes não apresentará evolução de seus quadros para a gota ou doença renal. Nesses casos, para o controle dos níveis de ácido úrico é indicada mudança do estilo de vida —ou seja, investir em hábitos que incluam dieta balanceada e exercícios.
Na hipótese em que as complicações da hiperuricemia já tenham se estabelecido, elas serão tratadas por meio de uma abordagem multidisciplinar que engloba as medidas acima descritas e o uso de medicamentos específicos que serão indicados de forma personalizada.
Como deve ser a sua dieta para ácido úrico em excesso?
A recomendação dos médicos é que a dieta de quem tem hiperuricemia seja balanceada, com bom consumo de frutas e verduras e abundante hidratação.
O aumento do ácido úrico está relacionado a dietas ricas em purina. Por isso, saiba quais são os alimentos que devem ser consumidos com moderação, a critério de seu médico:
Posso tomar cerveja?
Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Abran, explica que, ao consumir esse tipo de bebida ativa-se um duplo mecanismo de ação: "Além de o álcool reduzir a excreção de ácido úrico, a cerveja tem boa quantidade de guanosina (purina), cujo metabolismo forma cristais de ácido úrico".
O médico esclarece ainda que um estudo conhecido como HPFS (The Health Professionals Follow-Up Study) observou mais de 47 mil homens —em 730 deles, a gota úrica tinha relação com o consumo de álcool.
Dá para prevenir a hiperuricemia?
Sim. Basta adotar hábitos de vida saudáveis que incluam mais exercícios físicos e dieta equilibrada. Nesse último quesito, o conselho do nutrólogo é incluir no cardápio alimentos e nutrientes que colaboram para reduzir a absorção da purina e ainda têm efeito anti-inflamatório. São eles:
- Vitamina C;
- Café;
- Fibras;
- Frutas vermelhas (especialmente as cerejas).
Fontes: Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia); Liz Ribeiro Wallim, reumatologista e professora de reumatologia da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Myrna Campagnoli, endocrinologista do Laboratório Exame (DASA); Salma Ali El Chab Parolin, endocrinologista titulada pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), professora adjunta da Escola de Medicina da PUC-PR. Revisão técnica: Liz Ribeiro Wallim.
Referências: Manual MSD; NCBI (National Center for Biotechnology Information); Smith E, March L. Global Prevalence of Hyperuricemia: A Systematic Review of Population-Based Epidemiological Studies [abstract]. Arthritis Rheumatol. 2015; 67 (suppl 10). https://acrabstracts.org/abstract/global-prevalence-of-hyperuricemia-a-systematic-review-of-population-based-epidemiological-studies/. Accesso em 11 de Março, 2020. Christina George; David A. Minter. Hyperuricemia. StatPearls. NCBI. Acesso em 11 de Março, 2020;
Edward Roddy, Hyon Choi. Epidemiology of gout. Theumatic Diseases clinics of America. Acesso em 11 de março, 2020.
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