Com 150 kg, ela não amarrava o sapato: "Cuidar da mente me ajudou a mudar"
Quem vê o Instagram de Camila Monteiro talvez não imagine as dores psicológicas e físicas que a influenciadora digital sofreu por conta do excesso de peso. Com 1,67 m de altura, a paulistana de 28 anos chegou a pesar 150 kg. Após cuidar da mente com a ajuda de profissionais, ela conseguiu mudar hábitos e perder 85 kg sem cirurgia. A seguir, Camila conta sua história:
"Meus problemas com o peso surgiram a partir dos 13 anos de idade. Tudo começou quando ganhei meu primeiro computador, fiquei totalmente sedentária e engordei. Então, passei a apostar em várias dietas, mas nada funcionava. Perdia alguns quilos e ganhava outros a mais.
Com 15 anos, decidi apostar na sibutramina (um remédio para emagrecer), com orientação de um médico. Tive diversos efeitos colaterais, de dor de cabeça à irritabilidade, e não consegui manter. Na época, achava que para perder peso era necessário passar fome, viver de alface. Não conhecia reeducação alimentar e meus esforços, que requeriam muita energia, acabavam sendo em vão.
Foram anos assim, até que, aos 19, cheguei a 120 kg. Eu me sentia no fundo do poço. Não queria sair de casa, muito menos ir para escola, onde sofria muito bullying e os colegas diziam que eu nunca arrumaria um namorado. Guardava essa tristeza para mim, mas em vez de transformar meus sentimentos em algo positivo, descontava na comida.
Nessa época, contraí H1N1 e meu tratamento foi extremamente complicado devido ao meu peso, quase morri no hospital. Tive assaduras nas dobras que minha gordura formava (o que já era bem comum). Os profissionais tinham dificuldades para limpar meu corpo, eram necessárias várias pessoas para me levantar da maca... Eu me senti muito constrangida e decidi que queria mudar minha situação.
Como não tinha dinheiro para fazer academia, depois de me recuperar completamente da gripe, consegui emagrecer fazendo reeducação alimentar e caminhadas no parque próximo à minha casa, compartilhando todo o processo nas redes sociais.
Cheguei a perder 50 kg, mas depois me acomodei e ganhei todo o peso novamente. Minha cabeça ainda não era boa, não tinha tratado a raiz do problema.
Na época, fiquei em negação. Evitava espelhos, não pisava na balança, usava só roupas largas e leggings. Também vivia um relacionamento abusivo, e sempre ouvia do meu namorado que eu tinha que ser magra. Ele me mostrava fotos de outras meninas, ficava comparando, o que prejudicou meu psicológico e trouxe memórias da época de escola.
Minha mãe também me cobrava muito, não pela estética, mas preocupada com minha saúde.
No Instagram, onde muitas pessoas já acompanhavam meu processo de emagrecimento, falava, sim, que ganhei peso, pois achava importante que soubessem as dificuldades que há no percurso.
Depois de um momento de depressão profunda, engordei até chegar a pesar 150 kg. Comia de tudo, era como se precisasse estar sempre mastigando. Um dia, saí de um restaurante e de tão distraída que estava com a comida, fui atropelada. O mais bizarro é que minha primeira preocupação foi com o lanche. Era literalmente um vício.
Não queria ver ninguém, achava que eu era um fracasso, recebi muitas críticas nas redes sociais, as pessoas falavam que joguei tudo no lixo.
Mas o que mais me machucou foi a falta de mobilidade: eu não conseguia amarrar o cadarço dos sapatos, me limpar no banheiro... Pensei em me matar, achava que eu não tinha valor. Apesar disso, não queria fazer cirurgia bariátrica porque sabia que era um último recurso e eu ainda não tinha tentado de tudo.
Estava entregue à situação, pensava 'sou gorda mesmo, que se dane'. Não era só minha mente que estava sofrendo as consequências da obesidade, meu físico também sentia. Eu tinha queda de cabelo, muito cansaço apesar de dormir o dia todo e meus exames apontaram gordura no fígado, pré-diabetes, pressão alta e até trombose venosa.
Passei anos sob o 'efeito sanfona', emagrecendo e depois me sentindo no direito de comer tudo o que queria. No começo de 2018, procurei ajuda psiquiátrica, pois necessitava entender por que era tão compulsiva. Foi aí que minha mudança começou de verdade.
Com a ajuda do psiquiatra, entendi que obesidade é uma doença séria e que precisarei tratar durante a vida toda. Não é projeto verão, é projeto vida toda, por que se eu volto, é muito difícil recomeçar"
As pessoas acham que obesos são gordos porque querem, não têm vergonha na cara... Mas existem muitos fatores: psicológicos, fisiológicos, sociais... É diferente de alguém que curte suas curvas. Ninguém tem compulsão alimentar e um vício extremo em comer porque quer. Só eu sei o que eu passei, o que o excesso de peso causou na minha vida.
Hoje, após finalmente tratar a raiz dos meus problemas com peso, estou no meu terceiro grande emagrecimento, no qual já perdi mais de 85 kg. Caminho bastante para manter meu corpo ativo e não deixo de comer o que quero, mas consigo exercer controle.
Já são dois anos mantendo o equilíbrio e sigo nessa luta. Meu marido foi essencial no meu processo de mudança e aceitação. Quando nos conhecemos eu tinha 120 kg e, para ele, eu estava perfeita. Isso fez toda a diferença para mim, para uma mudança saudável, pelos motivos certos —minha saúde. Uma pessoa que me via além do meu peso e me ama pelo que sou.
Hoje sou protagonista da minha história, emagreci por mim e não pelos outros. Também consegui reverter todos os problemas de saúde que possuía, uma vitória enorme.
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