Topo

Lectina faz mal? Entenda por que muitos indicam retirar proteína da dieta

Leguminosas são exemplo de alimentos que possuem bastante lectinas - iStock
Leguminosas são exemplo de alimentos que possuem bastante lectinas Imagem: iStock

Patricia Beloni

Colaboração para VivaBem

21/05/2020 04h00Atualizada em 27/03/2022 11h57

Resumo da notícia

  • A lectina está presente em diversos alimentos e em quase todos os seres vivos, incluindo vegetais, animais, bactérias e vírus
  • Ela possui funções diferentes nas plantas e nos seres humanos, podendo causar sintomas desconfortáveis em algumas pessoas
  • Seus efeitos ainda estão em estudo, mas no geral, não é indicado retirar os alimentos que contêm lectina da dieta
  • Existem algumas formas de tentar evitar algumas consequências do consumo em excesso da proteína

A lectina é uma proteína que faz parte de um grupo chamado de gliproteínas, que se ligam com carboidratos e substâncias que contêm açúcares. É encontrada em quase todos os seres vivos, incluindo vegetais, animais, bactérias e vírus. Famosa nas plantas, está em diferentes partes, mas principalmente nas sementes (é cerca de 10% a 15% das proteínas do extrato delas).

Muita gente vem dizendo por aí que ela faz mal à saúde e que cortá-la da dieta pode ser uma vantagem para quem busca emagrecer, já que ela pode causar inchaço. Mas será que isso faz sentido? A reportagem de VivaBem conversou com especialistas em nutrição e esclarece essas dúvidas:

Lectina faz mal?

Nas plantas, a lectina funciona como uma reserva de nutrientes e de transporte e fixação dos carboidratos. Além disso, é usada como uma arma defensiva contra ataques de patógenos e predadores, como bactérias, fungos e insetos.

No ser humano, no entanto, ela não possui as mesmas funções. E, muito embora esteja amplamente distribuída no reino vegetal, ainda não se sabe completamente como elas atuam no organismo humano quando ingeridas. No geral, o consumo de lectinas não causa nenhum problema e a retirada de alimentos que possuem tal componente da dieta não deve ser recomendada na maioria dos casos.

O que se sabe é que, quando consumidas em grandes quantidades, podem provocar efeitos nutricionais indesejados, tóxicos e que interferem no metabolismo de algumas pessoas. Mas o que é um excesso de lectina varia de pessoa para pessoa, já que cada um parece ter uma sensibilidade diferente ao alimento. Vale lembrar que todos os possíveis efeitos adversos da proteína são inferidos somente de experimentos com animais de laboratórios.

Ainda assim, o consumo de alimentos que possuem lectinas como o feijão, por exemplo, é altamente recomendado, uma vez que possuem macronutrientes e micronutrientes essenciais ao corpo humano e ao funcionamento do sistema imune, como cálcio, fósforo, ferro, vitamina A, vitamina B1, vitamina B2, potássio.

Além disso, muitos são ricos em fibras, que têm como principal benefício saciedade e redução do colesterol (que caso desregulado pode ocasionar problemas cardiovasculares).

Por isso, os especialistas concordam que é importante retirar a lectina apenas com orientação de um profissional de saúde especializado em nutrição, que irá levar em conta o que a pessoa sente ao consumir alimentos com tal componente.

E se mesmo após os métodos para diminuir as lectinas, ainda houver sintomas, aí devemos analisar e, caso seja necessário, substituir tal alimento.

Engorda ou emagrece?

Se realmente a proteína impedir a absorção e utilização de nutrientes, ela pode, sim, levar à perda de peso (não de forma saudável), além de impedir a ação de várias outras enzimas intestinais. Neste contexto, ela não leva ao ganho de peso, uma vez que a mesma não é absorvida pelo nosso organismo.

Porém, pode ser fermentada por bactérias presentes no nosso intestino. E, durante esse processo, pode ocorrer a formação de flatulências, levando ao inchaço, distensão abdominal, vômitos e diarreia. Estes sintomas e a severidade dos mesmos podem variar de acordo com o tipo de lectina está sendo consumida, a quantidade e a individualidade de cada pessoa, sendo que algumas pessoas podem ser mais e outras menos sensíveis.

Além disso, a maior parte das lectinas podem ser inativadas ou inibidas quando utilizados tratamentos térmicos adequados, como a fervura. No geral, as lectinas consumidas no nosso dia a dia são seguras para o consumo da maioria de nós, podendo muitas vezes causar apenas um leve desconforto como o aumento de gases.

Em que alimentos encontramos a lectina?

A lectina pode ser encontrada em mais de 600 espécies e variedades nos mais diversos grupos alimentares como grãos (cereais ou leguminosas) e em laticínios (quando as vacas se alimentam de grãos em vez de capim, transferem as lectinas para o leite e este para os laticínios). E ainda alguns alimentos como o gérmen de trigo.

Dentre os alimentos de origem vegetal in natura e processados, cerca de 30% contêm lectinas ativas, mas em quantidades que não representam grande perigo. E, de acordo com Antonio Elias Oliveira Filho, médico nutrólogo da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) e Eliana Vellozo, médica pesquisadora e supervisora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), muitos outros contêm lectinas, mas são menos estudados e as quantidades de lectinas presentes não são consideradas tão altas ou potencialmente tóxicas.

As principais fontes de lectina são:

Efeitos em estudo

Causa inflamação
Estudos ainda inconclusivos indicam que pessoas que já possuem algum tipo de patologia autoimune, como artrite reumatoide, podem ser prejudicadas ao consumir grandes quantidades de lectinas. Isso porque elas podem aumentar o desenvolvimento das bactérias intestinais e, consequentemente, a permeabilidade intestinal. A partir disso, poderiam passar para a corrente sanguínea antígenos (substância estranhas) que poderiam causar uma resposta do sistema imune, levando à inflamação e agravando a doença.

Inibe a fome e causa saciedade
Outra propriedade em estudo é o fato de elas levarem o organismo à saciedade por se ligarem com a leptina, o hormônio da saciedade. De acordo com pesquisa realizada com leguminosas em ratos alimentados com dietas contendo lentilha integral, a digestibilidade das proteínas caiu o que levou a um menor crescimento dos animais. Aqueles que não consumiram o alimento não sofreram alteração significativa no desenvolvimento, o que pode estar relacionado com a interferência na fome e na saciedade dos animais.

Fortalece a imunidade
Alguns estudos têm sido realizados para avaliar a relação entre a lectina e a resposta imunológica, porém também não há resultados conclusivos. Nas pesquisas realizadas, foi observado que a ação da proteína sobre as células do sistema imunológico parece estar relacionada à produção de uma citocina, capaz de ativar um tipo de célula de defesa e de aumentar a atividade microbicida dos macrófagos (células de defesa), favorecendo o combate a patógenos (organismos que podem causar doenças). Inclusive, talvez auxiliem nas terapias contra o câncer, como sugere este outro estudo.

Como evitar os efeitos

Para se evitar os possíveis efeitos indesejados das lectina, alguns procedimentos podem ser realizados, como:

  • Submergir o alimento em água (conhecido como "molho", que consiste em deixar os grãos submersos entre 6 e 8 horas);
  • Fervura no momento do preparo.

O mais indicado é utilizar os dois processos, porém, antes da fervura, deve-se trocar a água utilizada na submersão. Mas se, mesmo assim, os sintomas após consumir estes alimentos forem muito fortes e incomodarem, o indicado é procurar auxílio médico ou nutricional.

Fontes: Antonio Elias Oliveira filho, médico nutrólogo, diretor da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia); Eliana Vellozo, médica pesquisadora e supervisora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Marcelo Macieira Bardini de Gouvêa, nutricionista da clínica Órion Complex; Mariana Mussin, nutricionista da Bodytech e pesquisadora do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo); e Ana Carolina Cansian, nutricionista da Bodytech e especialista em terapia nutricional pela Unicamp (Universidade de Campinas).

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferente do que foi informado, lectina e lecitina não são sinônimos. A informação já foi retirada do texto.