Ela engordou após bariátrica e só perdeu 60 kg ao mudar relação com comida
Ana Luisa Vilela Barbosa, 41 anos, enfrentou a compulsão alimentar e o excesso de peso desde a infância. Aos 26, a médica fez a bariátrica e, como não mudou hábitos, voltou a engordar. Então, percebeu que precisaria controlar as emoções e a dieta para se manter magra. A seguir, ela conta como conseguiu:
"Eu não me lembro de ser magra. Comecei a engordar a partir dos três anos de idade e, entre os seis e oito anos, já pesava em torno de 80 kg. Demorei muito para entender o que acontecia com meu corpo. Como algumas pessoas da minha família tinham sobrepeso, pensava que a genética era responsável pelo meu excesso de gordura. Também acreditava que a culpa pelos números na balança era de toda a ansiedade que sentia.
Colocava a culpa no mundo até que, um dia, um terapeuta me fez enxergar essa situação de outro ângulo. Ele disse que engordei para ser notada. Como meus pais viajavam bastante, eu ficava longe deles muito tempo e engordei para chamar atenção. Realmente, acredito que tenha sido isso mesmo. Imagine uma criança muito pequena em uma fazenda no interior de Minas Gerais, afastada de tudo, sem a mãe e pai...
A comida funcionava como uma recompensa para mim. Quando estava triste ou estressada, comia muito. O meu emocional influenciava muito minhas escolhas, especialmente por doces. Até hoje meu paladar é muito adocicado e brigo com minhas compulsões, porque sei que não sou magra, estou magra.
Também sentia muita fome e nunca estava saciada. Se tivesse acabado de almoçar e me oferecessem uma coxinha, aceitava. Adorava comer. Gostava de me sentar, confraternizar, cozinhar. A minha família era mineira e então tudo era em volta do fogão, com muito pão de queijo.
Os anos foram passando e eu compensava a frustração por não encontrar uma calça jeans que me servisse tirando as melhores notas e sendo a melhor e mais engraçada colega de turma. Fui morar na Bélgica, aprendi cinco idiomas e sempre fui muito ativa: escalava, pedalava, andava a cavalo, namorava, mas sempre faltava algo para me sentir segura e realizada. Seguia dietas infinitas, alternando momentos de alegria ao emagrecer e de depressão, quando engordava tudo novamente.
No final da faculdade de medicina, terminei um namoro e me vi sozinha, obesa, com pré-diabetes, menstruações muito irregulares, dores articulares intensas, hipertensa (já fazia uso de quatro medicamentos) e, principalmente, muito deprimida. Tinha medo de sair na rua e vergonha de me olhar no espelho. A esta altura estava pesando 105 kg.
Meus médicos, então professores, me sugeriram a cirurgia de redução de estômago. No início, não aceitei muito bem. No entanto, um primo que também ia fazer a bariátrica me incentivou e, três meses depois, aos 26 anos e pesando 120 kg, fui para a sala de operação.
Apesar dos ótimos cuidados da equipe médica, tive uma hemorragia digestiva grave no pós-cirúrgico. Fiquei três dias em coma e 20 na UTI. Sei que só sobrevivi pois estava nas mãos da melhor equipe médica. O pior passou e evoluí muito bem. Emagreci 40 kg. Não usava mais medicamentos de pressão, voltei a menstruar, conseguia agora correr sem dores nas articulações, minha glicemia estava estabilizada.
Finalmente pude comprar minha primeira calça jeans em um shopping. Saí da loja chorando como uma criança, abraçada naquele pacote tão significativo"
Apesar de emagrecer, mantive os terríveis hábitos alimentares que me levaram à obesidade e, um tempo depois da bariátrica, voltei a engordar bastante. Demorei para entender que só a cirurgia não me manteria saudável e magra. Eu precisava mudar hábitos: melhorar as escolhas alimentares, deixar de descontar a ansiedade e o estresse na comida e ter novos pensamentos para me manter no peso adequado.
Comecei a fazer pós-graduação em nutrição clínica e, aos poucos, aprendi a controlar melhor as emoções que tanto prejudicavam minhas escolhas alimentares. Também passei a dar mais valor para a qualidade do que para a quantidade nas refeições e transformei a forma de sentir prazer ao me alimentar.
Em vez de me satisfazer consumindo porções exageradas, encontrei prazer comendo em restaurantes que tinham um cardápio mais elaborado. Consegui distinguir sabores pequenos e delicados e ter prazer em pratos mais variados.
Desse modo, conseguir chegar a 60 kg e me mantenho dentro desse peso saudável há 12 anos. Para compartilhar tudo que aprendi nesse processo, criei a clínica Slim Form, onde ajudo pacientes que também têm obesidade.
Meus hábitos hoje são saudáveis, mas estou longe de ser 'santa'. Luto com as minhas compulsões. Confesso que para fugir dos doces, acabo bebendo refrigerante zero. Sempre digo que sou uma 'gordinha anônima' lutando um dia de cada vez para me manter magra. Sofro de uma doença crônica que influencia não só minha saúde física, mas também mental. Porém, o mais importante é que consegui enfrentar os problemas e mudar."
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