HMB não ajuda no ganho de massa muscular; tire dúvidas sobre o suplemento
Conhecido comercialmente como HMB ou HMBeta, o ácido beta-hidroxi-beta-metilbutírico passou a ser vendido como suplemento com a proposta de otimizar suas funções no organismo relacionadas ao ganho de força, ao desenvolvimento dos músculos e à melhora do desempenho dos atletas e da recuperação muscular.
Mas, apesar existir de uma série de estudos com a substância, os resultados são muito controversos e colocam em xeque seus benefícios na prática. Entenda mais sobre esse suplemento.
O que é o HMB?
O ácido beta-hidroxi-beta-metilbutírico (HMB) é uma substância produzida pelo organismo no processo de metabolização da leucina, aminoácido de cadeia ramificada (BCAA) presente nos alimentos fontes de proteína. A leucina é responsável por ativar a síntese proteica, que leva ao ganho de músculos quando há estímulo dos exercícios de resistência (musculação), consumo de proteína e descanso adequados.
Quais são as promessas do suplemento HMB?
Como a substância participa de diversas funções nas células e nos músculos, surgiram hipóteses de que a suplementação de HMB seria capaz de oferecer uma vantagem na síntese de proteína, contribuindo para o ganho de força e para o desenvolvimento de músculos, além de otimizar a recuperação e melhorar o desempenho no esporte. No entanto, os resultados dos estudos científicos sobre o produto são controversos e esses benefícios não são garantidos.
Quais tipos de HMB existem?
O mais comum é o cálcio de HMB (ou sal de cálcio), vendido em pó, tablete ou em cápsula. Mas a substância também pode ser encontrada como ácido em sua forma livre, comercializada em gel ou em cápsulas de gelatina para uso oral ou sublingual, que parece ter uma absorção mais rápida e eficiente no organismo, segundo um estudo da Universidade Estadual de Iowa publicado no British Journal of Nutrition. Apesar disso, ainda não é possível afirmar que os resultados práticos entre eles são diferentes ou que um é melhor do que o outro.
O HMB contribui para o ganho muscular?
Vários estudos com o cálcio de HMB demonstraram resultados favoráveis no ganho de massa magra em animais. No entanto, os efeitos não foram significativos nas análises realizadas em humanos treinados, como mostra uma revisão de 11 estudos publicada na revista Nutrients.
A substância também parece oferecer um ganho muscular tímido em estudos que envolveram indivíduos sedentários que fizeram uso do suplemento e iniciaram um treinamento de força, mas ainda assim o resultado não justificaria o investimento no produto.
Mesmo a versão ácido livre do suplemento levanta questionamentos em relação à sua eficácia. É que, embora tenha apresentado resultados bastante interessantes no ganho de músculos em homens bem treinados que participaram de uma pesquisa americana promovida pelo idealizador da fórmula, esses efeitos não foram observados no estudo similar realizado por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) que, inclusive, usou o mesmo produto da análise original.
Os ganhos apresentados no primeiro estudo foram de 7,4 kg de massa magra em 12 semanas no grupo que consumiu o suplemento contra 2,1 kg naqueles que consumiram placebo —um resultado muito questionado por fugir totalmente dos padrões encontrados na nutrição esportiva e que, segundo os pesquisadores brasileiros, só seria possível atingir com altas doses de anabolizantes. Já na pesquisa brasileira, o ganho após 12 semanas no grupo que consumiu o HMB ácido livre foi de 1,8 kg de massa magra, contra 1,4 kg do grupo placebo —entenda aqui o que é placebo e qual sua importância para a ciência.
O suplemento evita a perda de massa magra (catabolismo)?
Apesar de apresentar um efeito anticatabólico, o consumo de HMB por pessoas saudáveis e ativas também não se justifica, uma vez que a perda de massa magra é pouco expressiva nesses indivíduos. Mas o suplemento parece ter um efeito potencial para contribuir com quadros de doenças graves, como câncer e Aids, que levam à intensa perda de massa muscular, conforme mostra o estudo realizado por pesquisadores do National Hospital Organization Osaka National Hospital (Japão). Nesse sentido, mais pesquisas precisam ser realizadas para tornar o HMB um aliado no tratamento desses pacientes.
O HMB ajuda na performance esportiva e no ganho de força?
Algumas análises sugerem que o suplemento pode ter algum efeito no desempenho físico apenas em pessoas iniciantes no treino. No entanto, isso não é observado em atletas mais experientes.
O suplemento HMB também não foi capaz de contribuir para o aumento da força muscular, nem mesmo melhorar a composição corporal conforme mostra um estudo realizado na Universidade Estadual de Oklahoma (EUA) com jogadores de futebol americano.
Ajuda a reduzir as dores pós-exercício?
De acordo com alguns estudos, o HMB até contribuiria para reduzir a percepção da dor muscular de início tardio, aquela que sentimos um ou dois dias depois de um treino pesado. Mas não seria capaz de acelerar a recuperação do músculo, que possibilitaria treinar melhor no dia seguinte para obter melhores resultados.
O HMB é melhor do que a leucina?
Apesar de algumas análises mostrarem que a sinalização da síntese proteica é maior com o consumo de leucina em relação ao HMB, essas substâncias sozinhas não garantem um resultado efetivo no ganho de força e no aumento de massa magra. Isso porque elas têm a função apenas de ativar o processo de produção de novas células musculares. Mas, para os músculos realmente crescerem e ficarem fortes, são necessários vários outros fatores, como o consumo de proteína adequado e um treino planejado para esses objetivos.
Como o suplemento deve ser consumido?
A maioria dos estudos realizados com o HMB utiliza a dose diária de 3 gramas, que pode ser fracionada durante o dia ou consumida em uma única vez cerca de 30 minutos antes da atividade física, juntamente com a refeição.
O HMB pode apresentar efeitos colaterais e oferecer riscos à saúde?
Alguns indivíduos que participaram de pesquisas com o suplemento relataram alguns poucos efeitos colaterais relacionados à digestão, entre eles, náusea, enjoo e diarreia. Mas, apesar do HMB parecer seguro para consumo, não é possível afirmar que não há riscos à saúde, uma vez que os estudos científicos realizados com o suplemento até então não tiveram longa duração.
HMB engorda?
Por se tratar de uma fração de um aminoácido, o HMB não possui calorias, portanto, não é capaz de aumentar o consumo energético diário responsável pelo ganho de peso.
Pacientes com diabetes podem consumir o suplemento?
Estudos realizados com o HMB que envolveram pessoas com diabetes não demonstraram qualquer alteração no metabolismo da glicose. De qualquer maneira, esses pacientes devem consumir suplementos somente sob a recomendação de um nutricionista ou médico esportivo.
E quem tem hipertensão, pode usar o HMB?
Pacientes com pressão alta também devem ter bom senso e consumir suplementos somente sob orientação de um especialista no assunto. Isso porque algumas substâncias interagem com medicamentos que controlam a pressão arterial, podendo causar desequilíbrios. Portanto, mesmo que não existam evidências científicas de que o suplemento HMB possa trazer riscos para esses pacientes, é importante buscar a opinião do profissional da saúde.
Grávidas e mulheres que amamentam podem consumi-lo?
Apenas suplementos vitamínicos específicos para essas fases estão liberados. Qualquer outro produto deve ser consumido somente sob recomendação do médico ou do nutricionista que acompanha a mulher, já que as substâncias ingeridas pela mãe passam para o bebê pelo leite e através placenta.
O HMB tem glúten?
O suplemento costuma ser livre de glúten, pois não possui derivados do trigo, centeio ou da cevada. Mas se você não pode ingerir o nutriente deve sempre checar essa informação no rótulo, uma vez que o suplemento pode sofrer contaminação cruzada na indústria caso seja produzido ou encapsulado nos mesmos equipamentos por onde passaram produtos com glúten.
Fontes: Aline Tritto, nutricionista clínica e esportista, com mestrado em Ciências pela Escola de Educação Física e Esporte da USP. Também atua como nutricionista da Confederação Brasileira de Rugby. Guilherme Artioli, professor da Escola de Educação Física e Esporte e coordenador do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da Universidade de São Paulo (USP).
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