O que acontece com seu corpo quando você faz dietas restritivas
No anseio de conseguir resultados rápidos no emagrecimento, cortar alimentos é, sem dúvida, uma das estratégias mais usadas. Um levantamento feito pela Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) revela que pelo menos sete em cada 10 brasileiros já tentaram perder peso por conta própria, sem a ajuda de um profissional de nutrição.
E de fato, na maioria dos casos, o método é efetivo. A conta é simples: se você ingere menos calorias do que o seu corpo gasta, você perderá peso. Mas não sem consequências. Além de não serem sustentáveis por muito tempo, as dietas restritivas demais oferecem riscos à saúde.
"Existem vários tipos de cardápios restritos e todos fazem mal. Não é possível que táticas radicais sejam nutricionalmente adequadas, apesar de existirem, sim, técnicas dietéticas, como jejum intermitente, que muito bem orientadas podem não fazer mal. Mas não é para todos os organismos e sempre há risco", explica Marcella Garcez, diretora da Abran e pesquisadora do Hospital do Servidor Público de São Paulo.
VivaBem perguntou quais os principais riscos das dietas restritivas mais populares à médica da Abran e à nutricionista Adriana Carrieri, especialista em nutrição clínica pelo HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e coordenadora de estudos do Albert Einstein College of Medicine, em Nova Iorque, nos EUA.
De acordo com as profissionais, algo em comum entre todas é a possibilidade de haver deficiência de nutrientes — falta que pode ser diferente conforme o cardápio — e a piora do sistema imunológico, ponto especialmente importante no momento atual, com a pandemia do novo coronavírus ainda não controlada no Brasil.
Veja abaixo o que acontece com o corpo em tipos específicos de dietas restritivas:
Dieta baixa em calorias
Popular entre jovens, esse tipo de dieta não elege critérios sobre o que se come e acaba eliminando alimentos de vários grupos importantes. "Pela experiência clínica, sabe-se que a estratégia é um gancho para os transtornos alimentares. A restrição pode se tornar cada vez mais severa, criando consequências de ordens emocionais", aponta Garcez.
Além de não atingir a quantidade necessária de macronutrientes —como proteínas, carboidratos e gorduras — os micronutrientes, vitaminas e minerais, também não são ingeridos de forma suficiente. "Principalmente as vitaminas hidrossolúveis, que eliminamos na urina e se não repormos, entramos em estado de deficiência", explica Carrieri.
Efeitos comuns
- Metabolismo mais lento (o organismo não tem com o que trabalhar e desenvolve mecanismo para reduzir ainda mais para poupar energia);
- Letargia;
- Dor de cabeça;
- Amenorreia em mulheres (ausência de menstruação);
- Deficiências nutricionais;
- Perda muscular (o corpo passa a usar músculos como fonte de energia);
- Risco de pedra da vesícula. "Quando são consumidas menos de 1000 calorias, o corpo acumula colesterol e passa a produzir mais bile. Como ela não é utilizada, fica armazenado na vesícula biliar, aumentando as chances do quadro", indica a nutricionista.
Restrita em carboidratos
É importante ressaltar que aqui, não nos referimos a dietas que diminuem a quantidade de arroz, massas e pães como uma estratégia calculada de forma que não prejudique o organismo. Falamos de retiradas radicais de tudo o que não é proteína e gordura, ou seja, deixar de comer frutas, farelos e grãos do cardápio, como o acontece na dieta cetogênica, por exemplo.
"O carboidrato é transformado em glicose, substância que todas as células do corpo precisam como fonte de energia. Sem isso, o corpo passa a usar glicogênio e outros substratos como reserva energética, e a capacidade do organismo fica comprometida, como se estivesse se preparando para uma situação de emergência", explica Carrieri.
Efeitos comuns
- Sensação de mal-estar;
- Sonolência e pensamento lento;
- Metabolismo mais lento;
- Perda muscular, quando as quantidades de proteínas não são planejadas com um especialista em nutrição;
- Deficiências nutricionais (já que alimentos que contém carboidratos fornecem diferentes tipos de vitaminas e minerais);
- Mau hálito (na ausência da glicose, nosso corpo usa outra via metabólica e produz corpos cetônicos, que modificam o hálito);
- Piora da função intestinal (constipação e gases) por falta de fibras.
Sem gordura suficiente
Embora menos comuns hoje em dia, dietas que retiram drasticamente as fontes de gorduras boas do cardápio, como são oleaginosas, azeites, abacate e peixes como o salmão, também oferecem riscos. "É o macronutriente que o organismo necessita em uma quantidade menor, mas ainda deve estar presente. Ele é importante para várias funções metabólicas, como a síntese de hormônios e o armazenamento de energia. Além disso, tem uma digestão mais lenta, o que inibe a fome por mais tempo", aponta Garcez.
Efeitos comuns
- Maior sensação de fome, o que pode levar à compulsão alimentar;
- Risco de deficiência de vitaminas lipossolúveis;
- Problemas hormonais a longo prazo (hormônios sexuais femininos necessitam de gordura como matéria prima).
Pobre em proteínas
Presentes em maiores quantidades em carnes de animais, as proteínas são essenciais em diversas ações do organismo. "Elas participam como enzimas nas reações metabólicas e funcionam como um 'carrinho', carregando nutrientes na corrente sanguínea", afirma Carrieri.
Elas geralmente são retiradas não com o objetivo de perder peso, mas pela adoção de um estilo de vida vegetariano ou vegano. "Embora dietas sem carne ou que eliminam totalmente alimentos de origem animal possam, sim, ser saudáveis, quando são bem planejadas, a realidade é que nem todo mundo sabe como montar um cardápio equilibrado, e muitas vezes, não há consulta com profissionais de nutrição", aponta Garcez.
Efeitos comuns
- Perda do desenvolvimento muscular;
- Possíveis deficiências nutricionais;
- Menos saciedade;
- Aumento de gases.
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