Saúde do adolescente piorou na pandemia e 76% tiveram afastamento social
Uma pesquisa inédita feita pela Sociedade Brasileira de Urologia mostrou que houve uma piora na saúde dos adolescentes durante a pandemia. De acordo com os primeiros dados apresentados pela entidade, 76% apresentaram um afastamento do convívio com os amigos e 67,65% dos participantes tiveram um aumento de ansiedade, mudanças de humor e irritabilidade.
Outro dado preocupante levantado pela organização foi em relação ao sedentarismo. Na pesquisa, 60,29% dos participantes afirmaram que houve uma redução das atividades físicas.
Para Daniel Suslik Zylbersztejn, coordenador da Campanha #VemProUro, da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), esse números expressam consequências a longo prazo. "A obesidade, consequência direta do sedentarismo e da ingesta de alimentos hipercalóricos (característicos da junk food), é considerada o grande mal do século 21, causadora direta de diabete, hipertensão, dislipidemia (aumento do colesterol)", diz.
O especialista ressalta ainda que por conta destas alterações, outras doenças costumam aparecer, como o AVC (acidente vascular cerebral), infarto agudo do miocárdio e também doenças renais. No adolescente em especial a obesidade também traz problemas psicossociais, como distorção de autoimagem, perda da autoconfiança e até mesmo o bullying.
Sexo ainda é tabu
A SBU também abordou questões como sexualidade e os resultados foram preocupantes: somente 30% dos entrevistados conversam com frequência sobre o assunto com pais e familiares. Já 50% deles disseram que a escola também é um ambiente desconfortável para falar sobre o tema.
Zylbersztejn reforça que o sexo como tabu afasta ainda mais os adolescentes da realidade, aumentando os riscos do uso excessivo das redes sociais e consequentemente aumento da pornografia. "É fato que o adolescente está mais exposto à pornografia devido à presença de internet e que a pandemia possa ter exacerbado este comportamento de consumo virtual", reforça.
"Esta exposição exagerada à pornografia também traz conceitos errados sobre a sexualidade, em que os jovens estão acostumados a verem mulheres com atributos físicos das atrizes (ou modernamente as camgirll de sucesso) e, de certa forma, mudam as expectativas quanto à aparência das meninas com quem tem contato real."
Outro dado preocupante e que chamou atenção dos autores da pesquisa foi que 15% dos adolescentes disseram que já tiveram relação sexual, mas 44% deles não usaram preservativos na primeira vez. "As taxas de contaminação por HIV em nosso país em adolescentes de 15 a 19 anos aumentou 3 vezes mais de 2004 a 2015, mostrando que podemos estar no que chamamos de 'fadiga do preservativo'", diz o urologista.
Para ele, o próprio tratamento mais eficaz das infecções por HIV e a aquisição da pílula do dia seguinte para prevenção da gravidez são fatores que de alguma forma não contribuíram para o aumento do uso do preservativo nos últimos anos. As outras ISTs, como gonorreia, clamídia e sífilis também estão muito presentes.
O mais importante, segundo o médico, é ter um novo meio de conexão e comunicação com os adolescentes para mostrar a importância do uso do preservativo e, talvez, a comunicação com os pais também não esteja sendo a mais efetiva.
Meninos não vão ao urologista
A pesquisa mostrou que os adolescentes só vão ao profissional especializado em casos de urgência e emergência. Além disso, cerca de 30% dos jovens não vão ao médico regularmente, sendo as especialidades mais procuradas: clínico geral e pediatria.
Os dados mostram ainda que apenas 1% dos adolescentes do sexo masculino já foi ao urologista e 34% das meninas fazem consultas anuais ao ginecologista.
*Com colaboração de Nathalie Ayres
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