Burnout médico: profissionais brasileiros enfrentam esgotamento mental
O ano de 2020 foi bastante atípico para os profissionais de saúde, principalmente para os que estiveram na linha de frente contra a covid-19. Um levantamento realizado pelo site Medscape mostrou que o número de médicos com burnout e/ou depressão diminuiu 10 pontos percentuais desde 2018, mas entre os que disseram sofrer com esses transtornos mentais, 59% afirmaram que os problemas se intensificaram com a pandemia.
A pesquisa foi divulgada no dia 11 de dezembro e feita com com 2.475 profissionais, entre 9 de junho e 23 de agosto deste ano.
O burnout é um esgotamento mental severo e pode ser identificado como um nível devastador de estresse no ambiente de trabalho. A sobrecarga é o motivo número um para o desenvolvimento da síndrome, mas a falta de reconhecimento do gestor, baixo nível de autonomia e de participação nas decisões, corte de gastos, reestruturações na empresa, impossibilidade de promoção e conflitos com o chefe ou com colegas também podem desencadear o transtorno.
Na pesquisa atual, um em cada 10 médicos afirmou pensar em abandonar a carreira para sempre por conta da gravidade do burnout que sofre. Entre os fatores mais citados para o agravamento do problema estavam baixa remuneração, excesso de tarefas burocráticas e muitas horas de trabalho por semana.
"Me paralisou a ponto de precisar de 15 dias de afastamento durante a pandemia. Chorava todos os dias ao chegar em casa", contou uma cardiologista.
O transtorno ainda interfere nas relações pessoais, de acordo com 79% dos participantes da pesquisa. "Estou bebendo mais álcool e sem paciência com marido (que não me ajuda) e filhos. Não posso dar atenção à minha mãe que tem 86 anos", disse uma radiologista.
Dados do levantamento
- 53% dos profissionais normalmente trabalharam mais de 40 horas por semana;
- 54% gostariam de ter mais reconhecimento pelo seu trabalho pelo engajamento ao combate à covid-19;
- 34% gostariam de ter uma compensação financeira pelas horas extras trabalhadas;
- 60% se sentiam para baixo ou triste;
- 51% acreditavam que estavam deprimidos por conta do trabalho e 53% achavam que esses sintomas impactaram no atendimento médico;
- 34% apresentavam quadros de depressão grave;
- 11% pensavam em abandonar a medicina por conta do burnout;
- 79% achavam que a síndrome de burnout interferiu nas relações pessoais;
- 33% já tiveram pensamentos suicidas;
- 5% já tentaram o suicídio;
- 74% acreditavam que o local de emprego não oferecia um programa para reduzir o estresse;
- 47% procuraram ajuda de um profissional;
- Entre as atitudes realizadas para controlar o estresse, destacavam-se dormir (43% para Millennials) e atividade física (45% para geração X e baby boomers);
- 44% reservaram um tempo para cuidar da própria saúde.
Pandemia e prioridade com o outro
Nos últimos meses, médicos e profissionais de saúde vivenciaram uma verdadeira maratona contra um vírus até então desconhecido e viram sua rotina mudar completamente —longas horas de trabalho, medo de se infectar, folgas cada vez mais distantes e plantões frequentes que geraram uma sobrecarga física e mental.
De acordo com Juliana Yokomizo, psicóloga do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), a área médica sempre foi mais suscetível ao burnout pelas características da profissão —grau de responsabilidade, demanda de longas horas de trabalho, cobrança excessiva e desvalorização no ambiente de trabalho. "No entanto, a situação piorou com a pandemia", diz.
Outra questão relevante e que causa estresse e tristeza é o fato de os especialistas da saúde serem privados, na maioria das vezes, do convívio familiar e de amigos para evitar contaminá-los. "Há uma indignação por parte desses profissionais, que sacrificam suas vidas pessoais e se isolam para proteger entes queridos enquanto veem a população saindo e se expondo sem necessidade no meio de uma pandemia", afirma a especialista.
Para Yokomizo, do ponto de vista emocional é importante se atentar aos sinais e buscar ajuda profissional. "Muitas vezes, os médicos priorizam cuidar do outro e não têm tempo para eles mesmos. Os sintomas de burnout não acontecem de uma hora para outra. Buscar terapia pode ser útil para rastrear os sinais e ter mais qualidade de vida diante dessa crise que estamos vivendo", diz.
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