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Antibióticos: evite 5 erros comuns que prejudicam o tratamento

Além de favorecer o surgimento de superbactérias, o uso de antibióticos sem prescrição pode gerar intoxicação, alergias e outros efeitos colaterais - iStock
Além de favorecer o surgimento de superbactérias, o uso de antibióticos sem prescrição pode gerar intoxicação, alergias e outros efeitos colaterais Imagem: iStock

Fabiana Stelina

Colaboração para o VivaBem

30/12/2020 04h00

Ao ter uma dor de garganta, gripe ou um resfriado mais forte, mesmo sem prescrição médica, muitas pessoas dão um jeito para tomar um antibiótico e resolver o problema. Isso é um grande erro.

Além de nem sempre funcionar para tratar a doença que você tem, o uso desses medicamentos sem orientação médica pode tornar as bactérias mais resistentes e trazer diversas complicações à saúde. No Brasil, dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) apontam que cerca de 25% das infecções registradas são causadas por micro-organismos multirresistentes —aqueles que se tornam imunes à ação dos antibióticos. Já a OMS (Organização Mundial da Saúde) revela que, até 2050, tais bactérias poderão matar anualmente 10 milhões de pessoas no planeta, número maior que a mortalidade por câncer, que até lá atingirá cerca de 8,2 milhões de pessoas ao ano.

Julival Ribeiro, médico infectologista da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e membro da Apua (Aliança Para o Uso Prudente de Antibióticos) pontua que é necessário muito cuidado ao se tomar um antibiótico. "Primeiro, precisamos ressaltar que antibiótico serve para matar bactérias e não vírus (que são os causadores da gripe, resfriado, covid-19 etc.). O uso indevido desses medicamentos pode fazer com que essas superbactérias se tornem mais eficazes e mais difíceis de dominá-las", alerta.

Mas tomar antibiótico sem prescrição não é o único equívoco que você pode cometer ao usar esses remédios. Há outros erros que prejudicam a eficácia do tratamento e podem colocar sua saúde em risco. Mostramos alguns deles a seguir, com a ajuda de Ribeiro e de Lessandra Michelin, infectologista na Universidade de Caxias do Sul, mestre e doutora em biotecnologia e vacinologia pela Université de Genève (Suíça).

Abandonar o tratamento antes do final

Após ser ingerido, o antibiótico tem um tempo específico de "vida" em nosso organismo —isto é, um período que a substância permanece no corpo. Com base no tipo e gravidade da doença, bem como a classe de antibióticos e seu tempo de vida, o médico prescreve o remédio para dez dias, sete dias, três dias... Esse período deve ser respeitado, mesmo que você deixe de apresentar sintomas da doença que está tratando.

"Muitas pessoas se sentem melhor nos primeiros dias usando o medicamento e abandonam o tratamento antes do final. Isso tende a tornar a bactéria ainda mais forte, porque ela não morreu e pode gerar uma resistência ao medicamento no qual foi exposta. Ficam resquícios da infecção no organismo e ela pode voltar ainda mais potente", alerta Ribeiro.

Não tomar o remédio no horário certo

O intervalo entre as doses é calculado de acordo com a chamada meia-vida do remédio —tempo que leva para que a concentração da droga no organismo seja reduzida pela metade. Uma dose ingerida antes da hora pode causar intoxicação ou, simplesmente, pode não ser absorvida pelo organismo. E se passar muito tempo da hora de tomar o remédio a concentração da substância irá diminuir e você pode ter uma piora nos sintomas da doença e prejudicar a eficácia do tratamento.

Não ingerir a dose recomendada

Ao escolher a dose, o profissional leva em conta não só a doença, como também peso, idade e doenças relacionadas do paciente. Por isso, a dose também é um fator importante a ser respeitado. Se os sintomas piorarem, informe o seu médico antes de tomar qualquer atitude.

Consumir álcool durante o tratamento

É comum ouvir que ingerir álcool "corta" o efeito do antibiótico. Apesar de não ser exatamente isso que ocorre, a combinação não é recomendada pelos especialistas. O consumo de bebidas em conjunto com o remédio pode gerar reações e efeitos adversos, além de sobrecarregar o fígado —órgão responsável por metabolizar tanto o medicamento quanto o álcool no organismo.

Além disso, o álcool tem efeito diurético e pode fazer com que a concentração do antibiótico no corpo diminua mais rapidamente do que o normal, prejudicando seu efeito entre uma dose e outra (estamos falando da dose do remédio, não da "cachaça", ok?). A bebida ainda prejudica a imunidade e irrita o sistema gastrointestinal, o que também pode acontecer com o uso do medicamento. Por todos esses motivos, o melhor é evitar beber durante o tratamento. O líquido mais indicado para acompanhar a ingestão de antibiótico é a água.

Usar um antibiótico que sobrou de tratamento anterior

O erro é grave com qualquer medicamento —mas, com os antibióticos, em especial, o perigo é dobrado. Há vários riscos envolvidos: alergia, diarreia, dores no estômago, intoxicação e o não tratamento da doença são só alguns deles.

E além do favorecimento do surgimento de superbactérias —que já falamos—, tomar o medicamento à toa acaba afetando as bactérias naturais do nosso corpo e, muitas vezes, elas tornam-se nocivas e passam a causar doenças.

"Não é porque um medicamento funcionou em um tratamento anterior que ele deve ser usado novamente para o mesmo problema. Por causa de todos os riscos citados, quando você estiver doente, é imprescindível se consultar com um médico, que irá determinar a substância, a dose e o tempo de uso correto do tratamento", diz Ribeiro.