Coisa de velho? Jovem também pode ter doença que é comum no idoso
Artrose, diabetes, hipertensão, catarata, Alzheimer. É longa a lista de doenças com alta incidência em idosos que também podem acometer os mais jovens. No entanto, isso não quer dizer necessariamente que todo envelhecimento precoce seja natural, portanto incontornável, ou idêntico ao dos mais velhos.
Natan Chehter, geriatra da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), explica que, embora possam ter o mesmo nome e características parecidas, a maioria das doenças observadas nos idosos e que podem atingir jovens não costumam ser exatamente as mesmas, podendo se diferenciar pela causa, pelo comportamento, diagnóstico e até tratamento.
"Hipertensão arterial no idoso é muito comum por aterosclerose, o acúmulo de placas de gordura, cálcio e outras substâncias nas artérias, enquanto no jovem as causas geralmente são outras, como obesidade e hereditariedade", diz Chehter.
"Já diabetes no idoso tem relação com alterações e envelhecimento do pâncreas. No jovem diabético tem mais a ver com mau funcionamento do pâncreas por questões genéticas, nascença e predisposição", complementa.
Cabeça duplamente impactada
Também nos jovens, ao contrário do que muitos podem supor, algumas doenças comuns nos idosos, principalmente as progressivas e incuráveis, podem ser muito mais difíceis de serem aceitas pelo que representam. É o caso, por exemplo, de patologias que promovem a degeneração de áreas específicas do sistema nervoso, incluindo tecidos e células cerebrais.
Chehter informa que o Alzheimer de início precoce (que pode se manifestar até antes dos 60 anos) é muito mais agressivo e menos compreendido do que o Alzheimer de início tardio que, segundo ele, é o que mais acomete os idosos, principalmente acima dos 65 anos.
Além dessa doença, o Parkinson também pode manifestar sinais cedo, como aconteceu com o ator de "De Volta para o Futuro" Michael J. Fox, que foi diagnosticado com a doença aos 30 anos, em 1991.
"A doença de Parkinson pode surgir de maneira igual nos mais velhos e nos jovens e os sintomas também são parecidos. Porém, a forma precoce por ser mais indolente, ou seja, mais devagar, costuma acometer as regiões motoras com tremores por muito mais tempo", informa Fabio Porto, neurologista do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
"Mesmo havendo tratamentos e intervenções precoces, os sintomas reduzem a qualidade e a expectativa de vida e o impacto, sem dúvida, é maior nos jovens, que podem ter que deixar o trabalho ou rever seus planos e seu papel na família. Por outro lado, por evoluir de forma lenta, a condição precoce demora a afetar outras regiões cognitivas ou causa poucos sintomas comportamentais ou neuropsiquiátricos. Muitas vezes, a pessoa fica bem por mais tempo", continua Porto.
Coração que envelhece cedo...
Rodrigo Noronha, cardiologista da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo explica que o coração do jovem também pode envelhecer antes do tempo certo e responsabiliza tanto as doenças cardiovasculares congênitas, de nascença, como os hábitos ruins.
"A pressão alta pode acometer os mais jovens principalmente pelo estilo de vida que eles levam. Sabemos que o sedentarismo, a obesidade e o vício em bebidas alcoólicas e cigarro contam muito nesse sentido, além de contribuírem para a diabetes e o colesterol", afirma.
"Porém, exercícios físicos em excesso também fazem mal e levam à miocardiopatia, doença que deixa o músculo cardíaco mais espesso, hipertrofiado e incapaz de funcionar direito".
A via final das doenças cardíacas em jovens, continua o cardiologista, leva a quadros dramáticos. "Um infarto no jovem é muito pior do que no idoso, que tem vasos mais desenvolvidos e circulações acessórias para o fluxo de sangue. O jovem não tem isso. Então, quando ele tem um infarto, o fluxo sanguíneo fica interrompido e grande parte da musculatura cardíaca fica sem circulação, levando à morte ou a uma inevitável insuficiência cardíaca", diz.
A boa notícia é que quando diagnosticadas cedo, além de acompanhadas e bem controladas, doenças crônicas como diabetes, colesterol alto e hipertensão apresentam bons resultados e permitem ao jovem levar uma vida praticamente normal, sem complicações.
O mesmo vale para a pouco conhecida hipercolesterolemia familiar, também relacionada à elevação do colesterol, mas muito mais perigosa e de origem genética, repassada de geração em geração.
Cuide-se desde sempre
Se existem doenças com causas desconhecidas e que independem de nós, há outras que como já sabemos são resultado de nossas ações ou que pioram por causa delas. Por isso, os médicos insistem na mesma tecla para que as pessoas cuidem desde cedo do estilo de vida (físico e mental) e da dieta para driblar os problemas citados e outros, como ósseos e mesmo oculares.
"Em se tratando de artroses e artrites existem maneiras de tentar diminuir o impacto que elas podem trazer e o controle das comorbidades [doenças associadas] é um deles. Não há cura e é muito difícil impedir o desfecho negativo de condições como essas, mas é possível melhorar a progressão, ainda mais quando o problema é tratado do início", informa o geriatra Chehter.
Jovens também podem sofrer de osteoporose. Enquanto a dos idosos está relacionada à idade, a deles é secundária e se evita com tratamento de condições que predispõem a perda de massa óssea, ingestão adequada de cálcio e vitamina D, exercícios físicos regulares e que estimulam o ganho de massa óssea na infância e adolescência, cessação de tabagismo e alcoolismo (vícios sem faixa etária) e prevenção dos fatores de risco para quedas e fraturas.
Lísia Aoki, oftalmologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, informa ainda que os atos de fumar e de não controlar a diabetes associados com obesidade, exposição à radiação ultravioleta sem proteção e uso de corticoides podem favorecer o desenvolvimento da catarata pré-senil.
A condição causa redução de transparência do cristalino do olho e nos jovens também pode estar relacionada a históricos familiares e lesões na região.
"Os sintomas são os mesmos em jovens e idosos. Basicamente, a catarata causa embaçamento visual e raramente pode levar a glaucoma secundário, e neste caso, além da baixa de acuidade visual, ocorre vermelhidão e dor. Devido aos fatores mencionados também pode evoluir mais rapidamente do que a catarata senil, por isso a importância de se levá-los tão a sério", orienta.
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