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Brasileiro recebe vacina Sputnik V na Rússia: "Tenho total confiança"

Fábio Aleixo é jornalista e vive em Moscou desde 2018 - Arquivo pessoal
Fábio Aleixo é jornalista e vive em Moscou desde 2018 Imagem: Arquivo pessoal

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

14/01/2021 14h03

Apaixonado por futebol, o jornalista Fábio Aleixo, 33, foi à Rússia cobrir a Copa do Mundo de 2018, como freelancer. "Eu já estava estudando a língua e já havia visitado o país algumas vezes. Quando o evento acabou, não tinha contrato fixo com nenhuma empresa e pensei: 'Por que não procurar trabalho por aqui?', lembra.

Apesar da diferença cultural e climática —hoje, por exemplo, enquanto o Brasil anota um clima mais quente em diferentes cidades, Moscou registra -21ºC— após quase três anos, Fábio diz que já se sente completamente em casa. E foi no novo lar escolhido por ele que surgiu a oportunidade que a maioria de seus conterrâneos brasileiros espera com ansiedade: a de poder imunizar-se contra a covid-19.

Atuando como produtor em língua espanhola em um canal local, ele pode inscrever-se para receber a vacina quando o processo foi aberto para profissionais de mídia, na segunda quinzena de dezembro de 2020.

"Na época, os testes de eficácia e segurança para maiores de 60 anos da Sputink V ainda não tinham sido concluídos. Em um primeiro momento, profissionais de saúde, de segurança e outros atuando na linha de frente foram prioridade. Pouco a pouco, a cada duas semanas mais ou menos, ampliavam esse leque", comenta.

Com alta capacidade de produção nas fábricas do Instituto Gamaleya e mais de 100 clínicas habilitadas, o brasileiro conta que a expectativa é que qualquer cidadão russo possa se vacinar a partir da semana que vem.

"Pelo site do governo de Moscou, os russos podem escolher um horário e o local de vacinação é indicado. Por ser estrangeiro, o canal onde eu trabalho fez os trâmites para mim. Antes de tomar a primeira dose, fiz o teste RT-PCR (para garantir que não estaria infectado no momento da vacinação) e de anticorpos (a Rússia deixa para vacinar depois quem tem anticorpos altos). Realizei os exames na terça-feira de manhã e à noite já estavam prontos. Ontem me vacinei", afirma Fábio.

"Minha confiança na vacina é total"

Para Fábio, não foi difícil decidir pela imunização. "Sinto que há um preconceito cultural com a Rússia, assim como é com a China e o imunizante CoronaVac. Mas pesquisei muito, tenho amigos que participaram dos testes e acredito totalmente que a Sputnik V é segura e eficaz."

O brasileiro avalia os esforços das autoridades russas para conter o avanço da pandemia e a comunicação do governo como ótimas.

"Embora a quarentena restrita tenha acabado em julho, a Rússia foi um dos primeiros países a fechar fronteiras, que seguem assim atualmente. Também construíram hospitais e o governo, que é pró-vacina, disponibilizou informações constantemente para a população. Hoje, as restrições incluem universidades e escolas fechadas, bares funcionando até as 23h e uso de máscara. Há fiscalização forte e multa para quem não cumpre as regras."

Reações após a vacinação

Na Rússia, quem vai tomar a vacina já é avisado: até 48 horas após a aplicação da dose, é comum sentir dor no local da aplicação, fadiga, dor de cabeça e febre.

Fábio recebeu a vacina por volta do meio-dia de quarta-feira e, às 21h, teve 38,5ºC de febre. "Foi uma sensação estranha, ter febre sem o nariz escorrendo, sem dor. Tomei paracetamol, que é o indicado pelos médicos, e agora estou bem", diz.

As recomendações, de acordo com o brasileiro, é não consumir álcool três dias após cada uma das doses.

Depois da segunda dose, que será tomada por ele em 21 dias, o Ministério da Saúde da Rússia emite um certificado em inglês e em russo confirmando que a pessoa está imune.

Como funciona a vacina russa

Vacina russa - explicação do vetor - Centro Gamaleya, RDIF (Russian Direct Investment Fund), 2020 - Centro Gamaleya, RDIF (Russian Direct Investment Fund), 2020
Imagem: Centro Gamaleya, RDIF (Russian Direct Investment Fund), 2020

A Sputnik V usa dois vetores de adenovírus —tipo 26 (rAd26-S) e tipo 5 (rAd5-S)—, que funcionam como um "veículo de lançamento" do coronavírus no organismo humano.

"Essa é a principal diferença em comparação com algumas outras candidatas, como a vacina de Oxford, que usa só um adenovírus. A estratégia, chamada de heteróloga, tem a vantagem de contribuir para uma resposta imune mais efetiva. Com as duas doses, você impede que a resposta imune seja modulada apenas contra o vetor (o adenovírus) e, ao mesmo tempo, estimula a resposta que nós queremos —contra a proteína S do Sars-Cov-2", indica Natalia Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do IQC (Instituto Questão de Ciência).

Vacina em duas doses

Vacina russa, explicação dose 1 - Centro Gamaleya, RDIF (Russian Direct Investment Fund), 2020 - Centro Gamaleya, RDIF (Russian Direct Investment Fund), 2020
Imagem: Centro Gamaleya, RDIF (Russian Direct Investment Fund), 2020

Vacina russa, explicação dose 2 - Centro Gamaleya, RDIF (Russian Direct Investment Fund), 2020 - Centro Gamaleya, RDIF (Russian Direct Investment Fund), 2020
Imagem: Centro Gamaleya, RDIF (Russian Direct Investment Fund), 2020

Imunizante gerou desconfiança, mas já está sendo usado em outros países

Em agosto de 2020, o presidente russo, Vladmir Putin, anunciou o registro da Sputnik V, mas sem antes ter concluído os testes de terceira fase do imunizante, o que fez com que a comunidade científica global olhasse para a vacina com desconfiança.

Na época, o VivaBem conversou com a médica Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), que explicou que a fase é considerada crucial, já que prevê testagem ampla em humanos. "Não é aceitável que nenhuma vacina ou medicamento seja aprovado sem que sejam respeitadas todas as etapas. É baseado nisso que podemos dizer se um medicamento é seguro. É quando realmente vamos ver em um número maior de pessoas, não só a segurança mas a eficácia dessa vacina", afirmou.

Hoje, no entanto, o imunizante já está sendo usado em países além da Rússia, como a Argentina e Belarus e foi aprovado em outros, como Bolívia e Venezuela. A aprovação significa que os resultados dos estudos foram apresentados aos órgãos responsáveis (como é a Anvisa no Brasil) e aceitos como concludentes.

De acordo com os russos, o pedido para uso emergencial no Brasil também deve ser apresentado à Anvisa em breve.