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Suplementos vitamínicos combatem estresse? Especialistas divergem

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Bárbara Therrie

Colaboração para o VivaBem

27/01/2021 04h00

Resumo da notícia

  • O uso de vitaminas tem sido associado à diminuição do estresse em diversos estudos
  • Entretanto, ainda não há um consenso científico que apoie o uso desses suplementos para este fim
  • Especialistas sugerem que essas vitaminas são encontradas em uma dieta balanceada, sem a necessidade de suplementação

Seja por um problema no trabalho, na escola ou no trânsito, todo mundo já ficou estressado em algum momento da vida. O tratamento para o estresse deve ser individualizado, mas conta tradicionalmente com o auxílio de uma mudança de estilo de vida, prática regular de atividade física, meditação, psicoterapia, medicamentos. Entretanto, o uso de vitaminas também tem sido estudado pela ciência como método terapêutico.

Em teoria, como as vitaminas do complexo B, vitamina E e vitamina D têm ações indiretas no sistema nervoso, consequentemente estariam envolvidas na regulação do estresse. Embora existam pesquisas sobre a associação de alguns nutrientes ao estresse, não há um consenso sobre eficácia e quantidade ideal de consumo.

"Quando buscamos artigos científicos falando de nutrientes que reduzem o estresse, existem recomendações gerais, porém não um nutriente específico para auxiliar na sua redução. Não existe comprovação científica direta sobre a redução do estresse com o uso de suplementos", afirma Andrea Pereira, médica nutróloga da Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein e presidente e co-fundadora da ONG Obesidade Brasil.

Mas Diego Freitas Tavares, médico psiquiatra com foco em transtornos do humor, coordenador do Ambulatório Integrado de Bipolares do Gruda (Grupo de Estudos de Doenças Afetivas) do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), diz que altas doses de vitaminas do complexo B têm sido sugeridas para melhorar os sintomas de estresse, como alterações de humor e os níveis de energia, por meio da redução nos níveis sanguíneos do aminoácido homocisteína, envolvido com o processo de inflamação do sistema nervoso e cardiovascular.

Um estudo feito com 60 pessoas com estresse relacionado ao trabalho mostrou que os participantes relataram menos sintomas, incluindo depressão, raiva e fadiga, em apenas 12 semanas de tratamento com um suplemento de vitaminas do complexo B, em comparação com o grupo que tomou placebo.

Além disso, uma revisão sistemática de oito estudos envolvendo 1.292 pessoas descobriu que tomar um suplemento multivitamínico e mineral melhorou vários aspectos do humor, incluindo estresse, ansiedade e disposição. Embora o suplemento contenha várias outras vitaminas e minerais, os autores da pesquisa sugeriram que suplementos com altas doses de vitaminas B podem ser mais eficazes na melhoria de aspectos do humor.

O professor doutor Durval Ribas Filho, presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), acredita na comprovação científica dessas substâncias ao citar alguns trabalhos de revisão sistemática que mostram que o uso do magnésio, da vitamina B6, da vitamina C e do ômega 3 combinado ao aminoácido triptofano. Segundo ele, as pesquisas indicaram uma melhora no quadro de estresse com o uso desses compostos.

Baseado nessa evidência, Filho afirma que já indicou algumas dessas substâncias para pacientes com crise de estresse e que houve um resultado positivo, mas alerta que cada caso é um caso, por isso o importante é sempre buscar ajuda de um especialista antes de ingerir qualquer um desses suplementos.

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Vitaminas são encontradas nos alimentos

Na opinião de Tavares, apesar das evidências das vitaminas do complexo B nos processos metabólicos que controlam o funcionamento cerebral, um dos órgãos afetados pelo estresse, isso não significa que seja necessário suplementar indivíduos saudáveis. Isso porque essas vitaminas são plenamente obtidas em uma dieta balanceada. "O que acontece é que em meio a uma situação estressora, as pessoas passam a se alimentar pior e isso pode contribuir para o aumento do estresse e até o aparecimento de transtornos cerebrais, como depressão, ansiedade, bipolaridade, em indivíduos com uma predisposição genética", diz.

Para encontrar boas doses de vitaminas que podem controlar o estresse na alimentação, Pereira sugere refeições que contenham vegetais e frutas, grãos inteiros e proteínas, como carne magra, frango, peixe, feijão, ovo, nozes, leite ou bebidas de soja, queijo ou iogurte, beber água regularmente, evitar cafeína e álcool excessivo e dormir de 7 a 8 horas à noite. "Alguns estudos ainda falam do chá verde como um fator no auxílio de redução de estresse, porém não há um consenso sobre dose e quantidade".

Ela acredita que dentro dessa alimentação há quantidades suficientes de nutrientes, não sendo necessária a suplementação, com exceção de casos específicos de pessoas que foram submetidas a cirurgias de estômago ou intestino.

"Todos os estudos, no geral, mostram que a dieta equilibrada —que é o maior desafio que nós temos — é ideal para redução e combate ao estresse", concorda o presidente da Abran. Mas ele considera que praticamente todas as pessoas têm dificuldade para ter uma nutrição balanceada, por isso o uso de suplementos de vitaminas e minerais pode ser interessante na manutenção do equilíbrio metabólico e hormonal.

De qualquer maneira, os especialistas dizem que uma vida equilibrada do ponto de vista nutricional e com menos sedentarismo é fundamental na prevenção não só do estresse, mas de várias doenças crônicas. "Procure profissionais que possam ajudar você nessa mudança", aconselha Pereira.