'Engordei durante namoro abusivo, mas um alerta médico me fez perder 45 kg'
A paulistana Katia Cristina Pires de Camargo, 43 anos, nunca teve uma relação saudável com a comida, mas seus hábitos alimentares pioraram muito nos anos em que teve um namorado abusivo —nessa época, chegou a pesar 117 kg. O ponto de virada foi quando um médico alertou que, se ela continuasse obesa, teria somente mais 10 anos de vida. A seguir, a engenheira civil conta como conseguiu enxugar 45 quilos sem remédio ou cirurgia
"Eu era bem ativa na infância e fazia muitos exercícios, mas mesmo assim desde criança meu peso foi acima do normal. O problema era que na minha casa comíamos muito e de forma bem errada. Nossa alimentação tinha muitas frituras, lanches, massas, produtos industrializados, refrigerante... Se deixassem, eu vivia de bife à parmegiana e sempre comia um doce depois das refeições. Isso, inclusive, mantive mesmo na fase adulta.
Minha família tinha o costume de jantar tarde e depois ainda nos enchíamos de besteiras. Lembro que, na adolescência, meu irmão e eu ficávamos 'beliscando' até de madrugada, enquanto assistíamos à televisão. Eu comia sem perceber. Abria um pacote de bolacha e, quando me dava conta, tinha acabado com ele, mas sem apreciar, sem sentir o gosto.
Na faixa dos 20 anos, fiz várias dietas e tomei remédio para emagrecer. Perdi bastante peso em todas as vezes, mas, quando parava com a medicação, engordava tudo novamente. A situação piorou muito durante um relacionamento abusivo que tive. Da mesma forma que eu não percebia a toxicidade da minha relação com a comida, não percebia a da com o meu ex-namorado.
Foram mais de 13 anos assim e engordei 50 kg nessa época. Cheguei a 117 kg. Meu namorado nunca me apoiava, muito pelo contrário, só me boicotava e me colocava para baixo. Quando eu desabafava sobre como me sentia por causa do excesso de peso, ele dizia que eu não era mais jovem ou bonita o suficiente para ter o corpo dos sonhos. Se eu falava em terminar, o discurso era: 'Você não vai encontrar outra pessoa que te queira desse jeito'.
Com tudo isso, o meu problema alimentar só foi crescendo, e ficou tão grande que começou a interferir no trabalho e na vida familiar. Atuo na área da construção civil e vivo em obras. Quando chegava em uma e tinha que subir uma escada, a sensação ao final era que eu ia ter um infarto, passava muito mal. Detalhes como esses comprometiam o meu desempenho profissional.
Meus superiores nunca falavam nada diretamente, mas eu sentia que as coisas não estavam bem. Sempre fui muito dedicada no trabalho, então, quando percebi que isso poderia me fazer perder o emprego, acendeu o alerta. Nessa fase eu também estava muito agressiva, infeliz, desconfiava das pessoas. Todos vinham me dar conselhos e eu não queria escutar, achava que não era uma ajuda real. Não tinha ânimo para nada, só queria dormir, vivia cansada e sentia até certa repulsa de mim mesma.
Sabia que tinha que fazer alguma coisa para mudar, mas não tinha forças. Sem incentivo do meu parceiro, acabava deixando para lá. O empurrão que eu precisava veio no final de 2017. Fiz um check-up anual de saúde e, quando o médico viu os resultados me perguntou: 'Até qual idade você acha que vai viver?'.
Eu estava com 41 anos e respondi que chegaria até uns 80 anos, pelo menos. Ele me disse que se eu continuasse como estava, com as taxas de colesterol, triglicérides e glicemia altíssimas, os hormônios da tireoide totalmente descompensados e com tantos quilos a mais, a minha expectativa de vida seria de mais uns 10 anos, no máximo.
Fiquei paralisada. Viver só mais dez anos era pouco tempo para tudo o que planejei. Foi aí que caiu a ficha e decidi tomar uma atitude, mas não queria cirurgia ou remédio, essas seriam minhas últimas opções. Fui atrás de algo natural, e na minha busca conheci o método 5S de emagrecimento, um tratamento multidisciplinar com reeducação alimentar, terapia em grupo etc.
Iniciei em fevereiro de 2018. No primeiro dia de mudança de hábitos, acho que devido à ansiedade, passei muito mal, a ponto de precisar ser socorrida e ir para o hospital de ambulância. Senti dor de estômago, dor no peito e minha pressão disparou.
Fiz uma bateria de exames, mas não deu nada errado. O médico que me atendeu disse que tudo não passou de uma crise emocional, provavelmente disparada por eu não ter seguido os meus velhos hábitos alimentares. Esse episódio foi a gota d'água e entendi de uma vez por todas que ou eu me comprometia com a minha saúde ou ia passar a vida sofrendo.
Escolhi o primeiro caminho. Foram seis meses de tratamento. Também voltei a praticar atividade física. Confesso que não é algo que eu gostava muito, mas entendi o quanto era importante. O bacana foi que encontrei uma academia que se encaixava perfeitamente ao que eu buscava: um local só com mulheres, sem julgamentos, com professoras bem atenciosas e aulas de 30 minutos, que era o quanto eu conseguia aguentar.
No primeiro mês, perdi 9 kg. Mas não foi nada fácil chegar a esse resultado. No início, fiquei bastante deprimida, comia chorando. Olhava o prato cheio de coisas saudáveis e me sentia péssima. Depois tive uma fase de agressividade. No terceiro mês, que chamo de o mês do perdão, comecei a me perdoar e a perdoar os outros.
A partir daí reavalie toda a minha vida e entendi que muita coisa estava me fazendo mal, não só a comida. Com o tempo, a minha autoestima foi aumentando e isso me deu coragem para terminar aquele relacionamento tóxico e que só me fazia mal.
Ao todo, consegui eliminar 45 kg com o tratamento multidisciplinar e vejo que ele não serviu apenas como uma reeducação alimentar, foi um divisor de águas na minha vida. Eu me senti muito feliz por não ter recorrido à bariátrica. Na época em que iniciei esse processo, uma amiga do trabalho fez a cirurgia. No final das contas, acabamos perdendo a mesma quantidade de peso, só que eu de uma forma natural.
Após mais de dois anos da mudança de hábitos, tenho conseguido manter o peso na casa dos 70 kg, só engordei um pouquinho na quarentena, mas está tudo sob controle. Durante muito tempo eu me senti insegura, achando que meu ex tinha razão, que ninguém ia me querer. Mas descobri que ele estava errado. Encontrei pessoas que se interessaram por mim.
Não estou namorando no momento, mas estou feliz e tranquila. O mais importante é que agora tenho força suficiente para saber o que é bom para mim em todos os sentidos, na vida amorosa e alimentar, e isso é libertador."
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