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Anticorpos contra o novo coronavírus podem mudar a cor do leite materno?

Reprodução Instagram / @breastfeedingaversion
Imagem: Reprodução Instagram / @breastfeedingaversion

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

03/02/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Influenciadora americana postou imagem com leite esverdeado por conta de presença de anticorpos contra a covid-19
  • Embora o leite materno tenha de fato anticorpos, isso não influencia na cor do líquido
  • Considerado "vivo", o leite materno também se adapta às necessidades do bebê

Uma foto comparando o leite materno antes e depois de a mãe ter sido infectada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) despertou curiosidade entre muitas mulheres.

A imagem, publicada no dia 16 de janeiro por uma influenciadora americana, traz duas amostras congeladas de leite materno: uma, esbranquiçada, extraída antes de a mãe ter sido infectada, e outra, de coloração esverdeada, após ela ter adoecido.

A suposição seria de que a cor estaria alterada por conta da produção de anticorpos da mãe, que estaria protegendo o filho contra aquele patógeno por meio da amamentação. Seria isso possível?

Variações de cor são comuns

Embora, de fato, o leite materno passe anticorpos da mãe para o bebê, a presença ou não deles não influencia na cor do leite. "Essa variação tem relação com fatores como a alimentação da mãe e a ingestão de suplementos, e não a presença ou não de anticorpos", explica a pediatra Patty Terrível, especialista em aleitamento materno do Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros e membro do Departamento de Aleitamento Materno da SPSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo).

De acordo com a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), os tons azulados e esverdeados do leite materno normalmente se devem ao consumo de vegetais verdes ou alimentos que tenham corante nessa cor. Já o consumo de cenoura, abóbora e vegetais na cor laranja poderiam deixar o leite mais amarelado, por conta da concentração de betacaroteno.

Até mesmo o consumo de beterraba, gelatinas, sucos e refrigerantes pode interferir na coloração do líquido —e nada disso é indicativo de que algo está errado ou que a amamentação precisa ser suspensa. "São raros os casos em que a mãe precisa parar de amamentar", afirma Rossiclei de Souza Pinheiro, membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP.

Outra possibilidade é encontrar o leite rosado ou amarronzado, indicando a presença de sangue nele. "Nesse caso, é importante que a mulher investigue se o seio está machucado ou se há algum outro problema de saúde, mas a amamentação pode e deve continuar, pois não vai prejudicar o bebê", diz a especialista, que recomenda que a mãe procure um médico ou o Banco de Leite mais próximo caso as dúvidas persistam.

Leite "vivo"

A variação mais comum de cor do leite materno pode ser vista em uma única mamada. O leite anterior, que sai no início, tem coloração de água de coco, serve para saciar a sede do bebê e é rico em anticorpos. Já o leite posterior é rico em gorduras, fornece calorias ao bebê e costuma ser mais amarelado.

Os médicos também costumam dizer que o leite é "vivo", já que consegue se adaptar às necessidades de cada bebê. "Se ele nasce prematuro, por exemplo, o leite costuma ser mais calórico, para que ele se desenvolva e ganhe peso", explica Terrível.

Isso vale também para os anticorpos: quando a mãe que amamenta está doente, seu organismo automaticamente inclui células específicas para ajudar a combater aquele patógeno no leite materno —estudos já mostraram que isso inclui também os anticorpos para a covid-19. Por isso é tão importante que ela continue a amamentar mesmo doente.

Pinheiro lembra ainda que essas propriedades benéficas continuam por todo o período de amamentação. "O leite não vira água, ele não enfraquece depois que o bebê cresce", explica ela, que reforça que a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) para que a amamentação siga até a criança completar dois anos ou mais.