É verdade que beber água depois de tomar sorvete evita dor de garganta?
A maioria das crianças e dos adolescentes brasileiros certamente já recebeu dos pais a orientação de beber um copo d'água depois de tomar sorvete. A justificativa é que a ação evita dor de garganta. Mas será mesmo ou esse é só mais um dos tantos mitos de saúde propagados ao longo dos tempos?
Se você escolheu a segunda opção, acertou. Apesar de a água ter uma infinidade de efeitos benéficos para o organismo como um todo —regular a temperatura corporal, eliminar toxinas e estimular o trânsito intestinal são alguns deles—, não há comprovações científicas de que ela previna infecções ou irritações.
E mais: também não existem provas de que o sorvete (ou qualquer outra comida ou bebida gelada) possa causar esses problemas.
Sendo assim, o que o líquido faz ao ser ingerido logo depois de um produto frio é apenas equilibrar a temperatura na garganta, aliviando a sensação gélida. Nada mais. Porém, é preciso salientar que se a pessoa já estiver com um quadro infeccioso, dependendo da sua sensibilidade, o gelo pode piorar o quadro.
O que causa dor de garganta?
A dor de garganta é um sintoma e não uma doença, provocada por um processo inflamatório infeccioso ou irritativo da mucosa da parte posterior da cavidade oral, e costuma atingir a faringe, as amígdalas ou a laringe.
Os principais agentes causadores são vírus e bactérias, mas também entram na lista fungos, refluxo gastroesofágico, câncer, poluição, ar seco, tabagismo, alergias, respiração pela boca, uso excessivo da voz, tumores e traumas locais, entre outros.
Além da dor, pode ser acompanhada de ardência, dificuldade para engolir, vermelhidão e inchaço locais, rouquidão, perda da voz, tosse, dores de cabeça, no corpo e reflexas no ouvido e no pescoço, febre, pus nas amígdalas, mal-estar, falta de apetite, pigarro e indisposição.
No geral, o problema é autolimitado, ou seja, se resolve sozinho em poucos dias —de três a sete, mais ou menos. Mas há casos mais sérios, em que a ajuda médica é indispensável, sobretudo quando os afetados são crianças, idosos e pacientes imunodeprimidos, a febre passa dos 38º e dura mais de 48 horas, a dor é intensa e persistente e a pessoa fica muito debilitada e com dificuldades para se alimentar.
Quanto ao tratamento, ele vai variar de acordo com a causa. Nos quadros leves, analgésico, antitérmico, anti-inflamatório e pastilha quase sempre são as recomendações para aliviar o incômodo. Já nos provocados por bactérias, faz-se necessário introduzir antibióticos. Além disso, neste período é importante beber bastante água para hidratar a região e não fumar.
Consumir produtos gelados não está proibido para quem tem dor de garganta. Mas, como adiantamos, em algumas pessoas isso pode agredir ainda mais a mucosa e afetar a defesa local, piorando a dor. Em outras, no entanto, sorvetes e bebidas frias melhoram o desconforto, mesmo que momentaneamente. Não à toa, esses itens são indicados para quem faz cirurgias odontológicas e de retirada de amígdalas.
Como prevenir infecções
Para evitar infecções de garganta —e de outros tipos— o melhor a fazer é cuidar da saúde, com a adoção de hábitos nutricionais saudáveis, prática regular de atividade física e controle de doenças de base.
Também é imprescindível lavar bem as mãos e com frequência, especialmente ao voltar da rua e após usar o banheiro, evitar ambientes não ventilados e cheios, manter a casa arejada, ter boas noites de sono, combater o tabagismo, o etilismo e o estresse e manter a vacinação em dia.
Fontes: Guilherme Catani, otorrinolaringologista do Hospital IPO (PR); Gustavo Mury, otorrinolaringologista do Hospital Cema (SP); e Karen Vitols Brandão, otorrinolaringologista e secretária-adjunta da ABLV (Academia Brasileira de Laringologia e Voz).
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