Acne é coisa de adolescente? Não! Adultos também têm; entenda as causas
Resumo da notícia
- Acne adulta difere da acne comum tanto na região em que aparece, como por causas e tratamento
- Entre as causas estão: sensibilidade a hormônios, questões emocionais e até hereditariedade
- Tratamento pode exigir produtos de uso tópico, medicamentos orais e mudança de hábitos
A acne é uma das doenças de pele mais comuns no mundo todo e a incidência só vem aumentando, especialmente em mulheres, segundo a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia). Quando espinhas e comedões abertos ou fechados (cravos) persistem ou aparecem na idade adulta, em geral após os 25/30 anos, são chamadas de acne adulta. Como atinge mais as mulheres do que os homens, é uma condição conhecida no meio científico como Acne da Mulher Adulta (AMA).
"A acne se forma a partir de uma inflamação na glândula sebácea e costuma ocasionar lesões onde existem mais receptores de hormônios", explica Rafael Soares, dermatologista da Associação Médica Brasileira (AMB).
No caso da acne adulta, aparecem na parte inferior do rosto ("zona U" - mandíbula, queixo e pescoço), no decote e na região superior das costas. Diferente da acne mais jovem (também chamada de acne "vulgar"), que se manifesta na "zona T" da face (testa, nariz e queixo).
Inclusive, "o tratamento da acne adulta também é mais longo e em alguns casos até mais severo", aponta a dermatologista Bárbara Carneiro, da Associação Brasileira de Medicina Estética.
Se o paciente já tem a pele oleosa desde a adolescência, é mais comum ter uma inflamação ou outra na pele depois de adulta. "Mas se as acnes começarem a aparecer frequentemente após os 30 anos, pode ser sinal de outros problemas de saúde, tornando-se imprescindível a avaliação dermatológica", alerta Nina Rigoni, dermatologista especialista pela SBD e da Clínica Carvalho Concept (SP).
As principais causas são:
- Sensibilidade aos hormônios masculinos (testosterona e derivados);
- Excesso de oleosidade;
- Questões emocionais (como estresse);
- Condições hormonais (como a Síndrome do Ovário Policístico);
- Cortisona;
- Excesso de iodo e complexo B;
- Produtos oleosos (maquiagem, cosmético, hidratante, protetor solar);
- Má alimentação;
- Tabagismo;
- Hereditariedade.
"Normalmente está associada ao estilo de vida, com a alimentação inflamatória, muita gordura animal, açúcar, sono de má qualidade, pouca ou nenhuma atividade física e pouca ingestão de líquidos", explica Patricia Silveira, dermatologista natural.
Estudos apontam diversas causas que podem levar à formação da acne adulta. Segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Dermatologia, os fatores ainda não foram totalmente elucidados, mas existem alguns desencadeadores ou agravantes, como exposição à radiação ultravioleta, estresse, obesidade, dieta, tabagismo, distúrbios do sono, cosméticos, medicamentos, lavagem excessiva da pele, possível resistência à bactéria P. acnes e doenças endócrinas.
Na adolescência, a acne é causada pela produção dos hormônios sexuais, que interferem na regulação das glândulas sebáceas. Já a acne adulta, de acordo com Soares, tem como causa principal uma sensibilidade aumentada aos hormônios masculinos na pele. Isso acontece tanto em homens como em mulheres e não necessariamente tem a ver com a quantidade de hormônios produzida pelo corpo. Nas mulheres, pode ter desenvolvimento de pelos na área.
"Além disso, o excesso de maquiagem, cremes inadequados (acne cosmética) ou a falta do hábito de lavar adequadamente o rosto, maus hábitos alimentares e, atualmente, o uso abusivo de suplementos e vitaminas, podem gerar um quadro de acne no adulto", aponta Rigoni.
Impacto psicológico não deve ser menosprezado
O impacto psicológico da acne é geralmente significativo e amplamente subestimado. O estresse na vida profissional e privada, a ansiedade e a qualidade do sono, em particular, apresentam relação recíproca com a susceptibilidade e a gravidade da doença. É o que diz também um estudo publicado no periódico científico Journal of the German Society of Dermatology.
Por isso, o tratamento deve incluir uma abordagem abrangente e holística da paciente como um todo, seus fatores de estilo de vida individuais e o impacto da acne em sua qualidade de vida.
Acne adulta no homem tem incidência menor
Os números variam, mas, em geral, a porcentagem de incidência da acne adulta nas mulheres costuma ser maior do que nos homens, como aponta estudo publicado no periódico The Journal Clinical and Aesthetic Dermatology. Quando acontece nos homens, tendem a ser mais grave. Segundo Silveira, costumam aparecer mais nas costas e no pescoço.
"Nos homens, o principal fator é a produção do sebo", explica Carneiro. Pode ser mais severa, porém ter menor duração que nas mulheres. Tende a ser causada mais pelo uso constante de corticoides, suplementos alimentares e anabolizantes esteroides.
É o que sugerem alguns estudos, como o publicado no Dermatology Online Journal, que aponta que suplementos dietéticos também foram associados à acne, como os que contêm vitaminas B6 e B12, iodo e soro de leite, bem como suplementos para construção muscular (como o whey protein), que podem estar contaminados com esteroides anabólicos androgênicos.
Tratamento tem várias frentes de atuação
O tratamento para acne adulta pode ser feito por meio do uso de produtos tópicos (passados diretamente nas regiões afetadas), como retinoides, ácido azeláico, alfahidroxiácidos, niacinamida, lipohidroxiácidos e peróxido de benzoíla. Também podem ser utilizados peeling químico e luz de led azul.
Há ainda opção do tratamento via oral, com remédios ou suplementação que variam dependendo da causa. De acordo com Soares, ajustar os índices hormonais também é importante. Por isso, é fundamental passar com um especialista para avaliar o quadro. Nunca se automedique.
"A acne da mulher adulta tem melhor resposta com indicação de medicações de ação antiandrógena, entre elas o anticoncepcional e a espironolactona", explica Rigoni. A alimentação adequada e rica em alimentos com efeito biológico (pré e probióticos) também pode ajudar a reduzir a inflamação.
Na dermatologia natural, o tratamento versa mais em relação ao estilo vida mais saudável, com a alimentação e uma dieta antioxidante e cuidados para a pele. "Tem alguns suplementos ricos em antioxidantes, vitaminas, minerais, sementes, cremes fitoterápicos, óleos essenciais que ajudam no processo de desinflamação da pele", explica Silveira.
Suplementação ajuda?
O tema ainda é controverso entre os especialistas. Para Soares, a suplementação não resolve porque ainda não há registro de que exista algum composto com a capacidade de reduzir essa sensibilidade da pele, mas existem fitoterápicos que têm capacidade de atuar nos hormônios, como o saw palmetto e a crisina, que auxiliam na menor ação deles na pele.
Silveira ainda menciona a prímula como coadjuvante, mas lembra que é importante sempre haver um acompanhamento dos níveis hormonais.
Já para Carneiro, a ingestão de zinco, magnésio, vitamina A, C, E, selênio e ômega 3 podem ajudar no processo. "Isso porque é possível diminuir a oleosidade e inflamação da pele, além de aumentar a imunidade, melhorar a cicatrização e a circulação, bem como regularizar os hormônios, se for o caso".
Silveira segue uma linha parecida, acreditando que alguns suplementos vitamínicos e minerais podem ser complementares ao tratamento, que exige uma mudança de hábito geral da vida da pessoa.
Para Rigoni e Luísa, atualmente, o uso de probióticos tem tido resultados favoráveis, porque modulam a flora intestinal e diminuem a inflamação da pele. Entretanto, não isoladamente, ou seja, sempre em associação aos tratamentos convencionais.
Fontes: Bárbara Carneiro, dermatologista e membro da Associação Brasileira de Medicina Estética; Maria Luísa, dermatolgista do Hospital Santa Paula (SP); Nina Rigoni, dermatologista especialista pela SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e da Clínica Carvalho Concept (SP); Patricia Silveira, dermatologista natural pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e membro da SBS; e Rafael Soares, dermatologista e especialista em nutrologia da Associação Médica Brasileira.
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