Síndrome do pôr do sol: confusão mental pode afetar pessoas com demência
A síndrome do pôr do sol pode até parecer uma expressão poética, mas trata-se de uma confusão mental que ocorre com as pessoas com demências no final do dia. Sendo assim, o indivíduo não reconhece a sua casa, anda sem rumo pelos cômodos, não sabe mais quem são os seus familiares, fica agitado, irritado e muito confuso.
Frequentemente, a pessoa pede para ir para casa mesmo morando no mesmo local há anos e pergunta "quem é você?" para um parente mais próximo. Geralmente, nesses momentos, não consegue raciocinar direito ou falar com clareza. Além disso, pode perder o controle, começar a gritar ou não conseguir dormir.
"Não é considerada uma doença, mas um fenômeno que acontece em quem tem algum quadro demencial. Há alterações comportamentais como alucinações, agressividade e delírios. É bastante comum em quadros de Alzheimer e exige muita paciência e compreensão dos cuidadores", explica Paulo Camiz, geriatra e professor da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
A síndrome do pôr do sol afeta bastante a qualidade de vida da pessoa com demência e de seus cuidadores. Durante essas agitações, podem ocorrer agressões e até mesmo autoagressão, já que o indivíduo costuma ficar violento sem motivo.
Quais são as causas?
As causas não estão totalmente esclarecidas. Mas a exaustão no final do dia faz com que a pessoa com demência fique mais cansada e agitada ao entardecer. A doença também altera o raciocínio e o relógio biológico, o que dificulta diferenciar o dia da noite.
Além disso, quem passa por uma hospitalização ou mudança brusca da rotina fica mais propenso a desenvolver a síndrome. Outra questão apontada pelos especialistas é que os medicamentos usados para controlar a demência diminuem os efeitos até a noite. Há casos também que ocorrem devido a desequilíbrios hormonais como a diminuição da melatonina, que ajuda a dormir melhor.
Os pesquisadores acreditam que a síndrome do pôr do sol acelera o declínio mental de quem tem demência. "Os sintomas costumam aparecer por volta das 17h, quando a luz solar diminui. E essa confusão mental não deve ser confundida com uma birra do idoso. Ele realmente se sente perdido e essas horas são as mais difíceis. Geralmente, a condição indica uma piora do quadro da demência", completa Omar Jaluul, geriatra do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).
O que pode ser feito para diminuir o problema
A síndrome do pôr do sol é um grande desafio para os cuidadores de pessoas com demência e, provavelmente, eles vão se deparar com ela em algum momento.
De acordo com Camiz, os remédios para dormir devem ser usados em último caso, apenas quando a pessoa começa a se machucar ou ferir os outros.
"O ideal é que os cuidadores adequem o ambiente, compreendendo o que está acontecendo e também se adequem a esses comportamentos. A recomendação é evitar conflitos ou discutir com a pessoa com demência. É importante sempre tranquilizá-la e manter a calma", completa o geriatra.
Algumas mudanças comportamentais podem ajudar. Veja abaixo algumas sugestões:
- Reduza o barulho do ambiente: desde conversas até sons de eletrodomésticos;
- Planeje atividades ao longo do dia, principalmente durante o horário em que costumam surgir os sintomas de agitação;
- Mantenha uma rotina. É importante ter horário para acordar e fazer as refeições, por exemplo. A demência dificulta o desenvolvimento e a lembrança de novas rotinas. Sair da rotina é estressante, causa confusão e raiva;
- Inclua, se possível, exercícios físicos ao longo do dia. Uma simples caminhada já faz a diferença;
- Monitorize o conteúdo de televisão ou vídeos agressivos ou perturbadores, que podem ser vivenciados pelo idoso como se fossem experiências reais e pessoais;
- Mantenha as luzes acesas durante o entardecer para que o idoso não sinta muito a diferença;
- Minimize o estresse. Deixar o ambiente mais calmo com música ou incentivar a leitura de livros é benéfico para quem tem os sintomas da síndrome;
- Cuide da higiene do sono. É importante manter horários regulares para acordar e dormir. Essa atitude ajuda a melhorar o sono. Também é recomendado que o idoso evite tirar longas sonecas durante o dia para não perder o sono durante a noite;
- Fique atento a possíveis dores e desconfortos físicos que contribuem com a agitação e a confusão.
A hora de buscar ajuda
Algumas vezes, quando as mudanças comportamentais não são eficazes, pode ser necessário o uso de medicamentos.
"O tratamento medicamentoso varia de acordo com cada caso. Podem ser indicados remédios como sedativos para a pessoa com demência dormir melhor e também antipsicóticos para diminuir os sintomas de agitação", destaca Jaluul.
A síndrome do pôr do sol é uma situação que causa um desgaste emocional muito grande tanto para quem tem a demência quanto para quem cuida. É fundamental que o cuidador também cuide de si mesmo para conseguir lidar com o ente querido com paciência e dar o apoio que ele precisa neste momento difícil.
De acordo com Juliana Yokomizo, psicóloga e colaboradora do Proter (Programa Terceira Idade) do IPq-HC (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas) da FMUSP, cuidar de um familiar com demência acaba sendo uma função extra, ou seja, a pessoa precisa manter todas as suas atividades do dia a dia, mais a função de cuidar. Isso, por si só, já aumenta as chances de desgaste.
"Dependendo da personalidade do cuidador, do tipo de vínculo com o paciente e do grau de proximidade, o burnout ou sobrecarga do cuidador é rapidamente instalada. O ideal seria que o cuidador buscasse ajuda antes da instalação desse quadro, para ajudar a prevenir e desenvolver estratégias de resiliência e manejo", destaca a psicóloga.
Por isso, é importante buscar ajuda profissional para lidar com a carga emocional de cuidar de um paciente com demência. Um cuidador deve procurar ajuda profissional para si próprio sempre que se sentir sobrecarregado nos cuidados.
"Isso se reflete em sensações de dor física, desânimo, estresse, irritação, ansiedade e outros sintomas emocionais. Além da psicoterapia, há profissionais de saúde que também orientam e ajudam no manejo dos sintomas de demência", finaliza Yokomizo.
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