Liraglutida controla glicemia, apetite e é indicada para diabetes tipo 2
Resumo da notícia
- Trata-se de um antidiabético e antiobesidade utilizado por meio de solução injetável
- É considerada efetiva e segura, especialmente por sua proteção cardiovascular
- Ela deve ser mantida sob refrigeração antes de usar; após aberta, em temperatura ambiente
- O efeito colateral mais comum é a náusea, o que é considerado tolerável e passageiro
No mercado desde 2010 nos Estados Unidos, a liraglutida foi aprovada no Brasil no ano seguinte com a mesma indicação: o tratamento do diabetes tipo 2. Em 2017, ela passou a ser usada também na terapia da obesidade.
O que é liraglutida?
Trata-se de um antidiabético, e é o primeiro fármaco antiobesidade da classe dos incretinomiméticos, também conhecidos como agonistas do receptor GLP 1 (por ser parecido com o hormônio GLP-1, exerce seu efeito no receptor).
Este tipo de fármaco tem grande semelhança com um hormônio produzido pelo corpo humano e age da mesma forma para estimular a liberação de insulina.
Devido às suas características, o fármaco deve ser comercializado sob receita médica.
Em quais situações ela deve ser usada?
Esse medicamento é considerado bastante seguro. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado para que se obtenha o melhor resultado.
A medicação pode ser administrada para o tratamento ou alívio de sintomas das condições abaixo descritas, em associação à dieta hipocalórica e à prática de exercícios físicos, e até outros medicamentos, quando necessários, especialmente nos quadros em que medidas comportamentais não resultam na redução da glicemia e na perda de peso. Confira:
- Diabetes tipo 2
- Obesidade
- Sobrepeso
Entenda como a liraglutida funciona
A liraglutida possui 97% de semelhança com o GLP-1 humano, hormônio que é produzido no intestino e tem importante ação no pâncreas. Ela promove a secreção de insulina e inibe a secreção de outro hormônio, o glucagon, de uma maneira dependente da glicemia, ou seja, sem acarretar hipoglicemia quando usada isoladamente.
Como o GLP-1 tem um importante papel tanto no controle da glicemia como na redução do peso, o aumento do seu nível tem um efeito benéfico tanto no diabetes tipo 2 como na obesidade. A explicação é de Rosângela Réa, professora de endocrinologia e coordenadora da Unidade de Diabetes do SEMPR do Hospital de Clínicas da UFPR.
Assim, o fármaco é capaz de atuar em quatro frentes:
- Aumenta a quantidade de insulina produzida e reduz os níveis de açúcar no sangue somente quando ele estiver elevado;
- Reduz o glucagon - que age no fígado para produzir mais açúcar, diminuindo também sua concentração na circulação sanguínea;
- Retarda o esvaziamento gástrico, fazendo que a digestão seja mais lenta, o que também controla a disponibilidade de açúcar na corrente sanguínea;
- Atua no SNC (Sistema Nervoso Central) nos receptores relacionados ao controle do apetite.
O tempo para o aparecimento dos efeitos desejados pode variar, mas, em geral poderão ser mais bem observados após 16 semanas desde o início da terapia, no caso da perda de peso. No diabetes, já na 3ª semana é atingida a dose terapêutica e, a partir daí, já se identificam os benefícios.
Conheça as apresentações disponíveis
Victoza® e Saxenda® são as marcas de referência da liraglutida. A depender das condições de saúde de cada pessoa (diabetes ou obesidade), ela pode ser usada de forma crônica (contínua). Além disso, as doses indicadas são diferentes para uma e outra enfermidade.
Atualmente a única apresentação disponível é a injetável, que deve ser mantida no refrigerador quando a embalagem está fechada. Em breve, será lançada a versão de uso oral.
A solução injetável contém 6,0 mg —com sistema de aplicação de 0,6 mg, 1,2 mg, 1,8 mg, 2,4 mg ou 3,0 mg.
A medicação não consta da Rename 2020 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais).
Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?
Na opinião de Alexei Volaco, professor adjunto de endocrinologia da Escola de Medicina da PUC-PR, a liraglutida é uma das melhores indicações para o tratamento de doenças crônicas como o diabetes e a obesidade.
Ela confere segurança cardiovascular, e ainda é efetiva na perda de peso, no controle da glicose, além de apresentar baixo risco de hipoglicemia —dado o seu mecanismo inteligente.
Entre as desvantagens, os especialistas consultados destacam o fato de ser um medicamento injetável de uso diário. A isso, Volaco acrescenta a reduzida acessibilidade: "O principal inconveniente é o preço. Como toda doença crônica deve ser tratada continuamente, a liraglutida é cara para os padrões brasileiros e, portanto, não é uma terapia para todos", completa.
Saiba quais são as contraindicações da liraglutida
Ela não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo, ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Fique também atento na presença das seguintes condições:
- Gravidez
- Lactação (amamentação)
- Problemas no fígado ou rins
- Hipertireoidismo
- Insuficiência cardíaca
- Diabetes do tipo 1
- Problemas graves no estômago ou intestino
- Doença inflamatória intestinal
- Pancreatite
Crianças e idosos podem usá-la?
Sim. Recentemente o medicamento passou a ser indicado para a população pediátrica, a partir dos 12 anos. Os especialistas afirmam que a liraglutida, no momento, é a única medicação aprovada para o tratamento da obesidade na adolescência.
Dada a segurança e efetividade do medicamento, especialmente em relação ao benefício cardiovascular, ele também pode ser indicado para idosos.
Estou grávida ou amamentando, posso usar a liraglutida?
O medicamento é contraindicado para gestantes e lactantes. A razão para isso é que não há estudos de segurança que excluam a possibilidade de danos ao feto e ao bebê.
Qual é a melhor forma de utilizá-la?
Atenda as orientações de seu médico quanto à forma de aplicação, dose recomendada e a titulação —que é o escalonamento progressivo da dose para evitar efeitos colaterais, especialmente a náusea.
O medicamento deve ser injetado sob a pele (área subcutânea) no abdome, parte superior do braço e parte frontal e lateral superior da coxa. A liraglutida não deve ser administrada por via intravenosa ou intramuscular.
Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?
Não. A liraglutida, em geral, é utilizada uma vez ao dia, na mesma hora diariamente.
O que faço quando esquecer de usar o remédio?
Use-o assim que lembrar, desde que não tenha passado mais de 12 horas da última injeção. Se este for o caso, retome o tratamento no dia seguinte, no mesmo horário destinado para a administração da liraglutida.
Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.
Quais são os possíveis efeitos colaterais?
Este medicamento é tido como bem tolerado, seguro e eficaz quando usado na forma adequada. O efeito colateral mais comum é a náusea.
Algumas pessoas poderão observar as seguintes manifestações:
Muito comuns e comuns
- Náusea
- Diarreia
- Constipação
- Indigestão
- Tontura
- Fadiga
- Dor de cabeça
- Falta de apetite
- Perda de peso
- Infecções nasais e da garganta
- Hematomas no local da injeção
Incomuns ou raras
- Pulso acelerado
- Erupção cutânea (alergias)
- Mal-estar
- Desidratação
- Cálculo biliar
- Atraso no esvaziamento estomacal
Interações medicamentosas
Algumas medicações não combinam com a liraglutida. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito.
Avise o médico ou farmacêutico, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas. Essa lista é apenas um exemplo, e não exclui outros fármacos com o mesmo efeito.
- Outros antidiabéticos (como glimepirida ou glibenclamida)
- Outros miméticos de incretina (exenatida, sitagliptina, dulaglutida, saxagliptina etc.)
- Insulina
- Anticoagulantes orais (varfarina)
- Hormônio sintético tireoidano (levotiroxina)
Até o momento há pouca informação sobre a interação com fitoterápicos. No entanto, informe seu médico, caso faça uso contínuo de algum deles.
Devo evitar consumir algum tipo de alimento?
Em geral, não há restrição alimentar, exceção feita às bebidas alcoólicas. De acordo com Danyelle Cristine Marini, diretora do CRF-SP, esse tipo de bebida poderia levar à hipoglicemia ou hiperglicemia, especialmente entre pessoas com diabetes.
"Esse efeito pode ser mais significativo quando se está de estômago vazio ou após exercícios, e pode se manifestar mesmo quando a quantidade de álcool não é grande", esclarece a especialista.
Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:
- Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
- Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
- Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
- Utilize o medicamento na posologia indicada;
- Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
- Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
- Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
- Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
- Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
Fontes: Rosângela Réa, médica endocrinologista, professora de endocrinologia e coordenadora da Unidade de Diabetes do SEMPR (Serviço de Endocrinologia e Metabologia) do Hospital de Clínicas da UFPR (Universidade Federal do Paraná), líder nacional do estudo com a liraglutida no Brasil; Alexei Volaco, médico endocrinologista, professor adjunto de endocrinologia da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Danyelle Cristine Marini, diretora do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo), professora do curso de medicina na Unifae (Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino/São João da Boa Vista) e nas Faculdades Integradas Maria Imaculada (Mogi Guaçu/SP); Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP. Revisão técnica: Rosângela Réa e Amouni Mourad.
Referências: Singh AK, Singh R. Pharmacotherapy in obesity: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials of anti-obesity drugs. Expert Rev Clin Pharmacol. 2020 Jan;13(1):53-64. doi: 10.1080/17512433.2020.1698291. Epub 2019 Dec 22. PMID: 31770497;
Ostawal, A., Mocevic, E., Kragh, N. et al. Clinical Effectiveness of Liraglutide in Type 2 Diabetes Treatment in the Real-World Setting: A Systematic Literature Review. Diabetes Ther 7, 411-438 (2016). https://doi.org/10.1007/s13300-016-0180-0.
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