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Recebi o diagnóstico de HIV. E agora? Saiba quais serviços procurar

David Oliveira, 29, comunicador digital, foi diagnosticado com HIV aos 25 anos - Arquivo pessoal
David Oliveira, 29, comunicador digital, foi diagnosticado com HIV aos 25 anos Imagem: Arquivo pessoal

Bárbara Therrie

Colaboração para VivaBem

28/04/2021 04h00

Até os 25 anos de idade, David Oliveira, comunicador digital, hoje com 29, nunca tinha feito um teste de HIV, segundo ele, por preconceito. "Não me considerava uma pessoa suscetível a essa infecção, os parceiros e parceiras com os quais me relacionava não aparentavam ser 'doentes' que tivessem o vírus e pudessem me transmitir".

Em meio ao tratamento de uma pneumonia, Oliveira fez vários exames de sangue, entre eles, o de HIV. Ele conta que, de forma fria e indelicada, ouviu da enfermeira da UBS (Unidade Básica de Saúde) que o exame de HIV deu reagente e que ele deveria procurar os últimos dez parceiros com quem teve relação sexual para informar a situação.

Na hora meu mundo caiu, me veio a imagem do Cazuza, a palavra Aids, pensei que ia morrer, mas não queria morrer.

"É importante que nesse momento a pessoa receba o resultado por um profissional capacitado, com uma boa escuta, que possa dar apoio emocional, orientação e encaminhamento, pois muitas dúvidas precisam ser esclarecidas", pondera Bethania Cunha, psicóloga e aconselhadora da Clínica do Homem no Recife pela AHF Brasil (Aids Healthcare Foundation), organização global que atua na prevenção, diagnóstico e tratamento de HIV/Aids.

O paciente deve manter a calma e compreender que o diagnóstico de HIV está longe de ser o fim do mundo ou uma sentença de morte como muitos acreditam, é o que reforça Wandson Padilha, diretor da SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade) e médico do Ambulatório de Atenção Integral a Saúde de Pessoas Trans e Travestis de Petrolina, em Pernambuco.

De acordo com ele, com o tratamento adequado, a pessoa com HIV viverá como qualquer outra que tem uma doença crônica, como diabetes e hipertensão, por exemplo. Ela terá a possibilidade de se relacionar, ter filhos, se divertir, trabalhar e viver sua vida.

O que fazer?

O primeiro passo após receber o diagnóstico é procurar atendimento no local adequado para dar início ao tratamento.

Esse lugar pode variar: em alguns municípios o acompanhamento é feito na própria UBS com o médico de família e comunidade. Em outros, é realizado pelo infectologista no CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) ou no SAE (Serviço de Assistência Especializada).

Existe uma rede nacional para o atendimento desses pacientes com vários serviços espalhados pelo país, que podem ser consultados no site: www.aids.gov.br.

A segunda etapa consiste na realização de exames que determinarão a carga viral, ou seja, a quantidade de vírus circulante no organismo e exames que indicam a quantidade de linfócitos de defesa existentes.

"Através da contagem de células CD4, CD8 e a relação entre elas, é possível verificar o estado imunológico em que o indivíduo se encontra", explica Leila Azevedo, infectologista, gerente de Atenção a Saúde do CEDAP (Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa), unidade da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, referência no diagnóstico e tratamento de HIV/Aids e membro da diretoria da Sociedade Baiana de Infectologia.

Tratamento o mais rápido possível

Após a coleta dos exames, o paciente deve iniciar o tratamento com os medicamentos antirretrovirais, ingeridos por via oral, que impedirão a entrada do vírus nas células de defesa, com isso, a medula vai gradativamente produzindo novas células e recuperando a imunidade da pessoa vivendo com HIV.

Além disso, o tratamento correto impede que a pessoa desenvolva a doença, a Aids, evita também o surgimento de infecções oportunistas, reduz a mortalidade, aumenta a expectativa de vida e diminui a transmissibilidade do vírus.

"Com o uso contínuo e regular dos medicamentos, a pessoa atinge a carga viral indetectável, ou seja, com o vírus sob controle, ela não transmite o HIV para outros indivíduos", complementa a infectologista.

Aceitar o diagnóstico e procurar rede de apoio

Aceitar e acolher o resultado positivo de HIV é importante para a adesão ao tratamento. "O paciente precisa tomar consciência dos sentimentos e sensações que o resultado lhe desperta e assumir o diagnóstico, só assumindo o que tem ele desenvolverá o autocuidado", diz a psicóloga do Recife.

Um sentimento comum de quem recebe o diagnóstico é se sentir sozinho, mas é essencial a pessoa saber que existem vários serviços de saúde e organizações da sociedade civil que realizam ações de assistência, prevenção, diagnóstico e tratamento.

Esses serviços oferecem apoio psicológico e social, cuidados e orientações por enfermeiros, atendimentos médicos em infectologia, ginecologia, pediatria e odontologia.

Há também uma rede estruturada de farmácia com controle e distribuição de antirretrovirais, orientações farmacêuticas, realização de exames de monitoramento, distribuição de materiais e medicamentos, atividades educativas para adesão ao tratamento e para prevenção e controle de outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).

Ter uma rede de apoio bem estabelecida foi fundamental para David Oliveira encarar o tratamento de forma leve. "Escutar que eu era forte e admirado me fez ressignificar todo o meu sofrimento. O apoio dos meus familiares e amigos me ajudou na aceitação, autoestima e empoderamento".

Segundo a psicóloga, o medo mais citado pelos pacientes é do preconceito, de ser discriminado e de não ser aceito, e ela cita algumas formas de amenizá-lo:

  • trabalhar seu próprio preconceito
  • ter carinho consigo mesmo
  • manter ou guardar sigilo que lhe dê tranquilidade de circular entre seus pares sem se sentir ameaçado
  • conectar-se com seus objetivos de vida
  • investir em suas realizações
  • buscar conhecimento e participar de redes sociais de grupos de pessoas vivendo com HIV

Estigma social ainda é pesado

Nesse sentido, o médico de família e comunidade reforça a importância de desmistificar o diagnóstico. "A pessoa que recebe o diagnóstico de HIV recebe junto o peso do estigma social, que na maioria das vezes é mais danoso e prejudicial que o próprio vírus, bem como o sentimento de culpa, que de modo algum deve ser reforçado, visto que não é real".

Ele afirma que nossa sociedade ainda tende a marginalizar a pessoa que vive com HIV, o que gera um grande sofrimento para o paciente.

As pessoas ainda acham que ter HIV e ter Aids são a mesma coisa. Aids é a síndrome que se desenvolve quem não faz o tratamento adequado e consiste numa queda de imunidade que deixa a pessoa suscetível ao desenvolvimento de doenças oportunistas. A maioria das pessoas diagnosticadas precocemente e que faz o tratamento correto não desenvolverá a Aids. Desmistificar isso é importante para que mais diagnósticos sejam feitos.

David Oliveira, comunicador digital 2 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Após o diagnóstico, David Oliveira virou ativista do movimento HIV/Aids
Imagem: Arquivo pessoal

Em busca de informação para saber como seria conviver com o vírus, Oliveira se tornou um militante ativista do movimento HIV/Aids.

Atualmente, ele participa da Rede de Jovens São Paulo Positivo e tem um grupo no WhatsApp em que acolhe, é acolhido, informa e impacta a vida de pessoas vivendo com HIV com palavras positivas.

Ele encoraja as pessoas a não ter preconceito, a fazer o teste de HIV e afirma: "Existe vida após o diagnóstico".