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Vício em pornografia afeta vida sexual e saúde mental; como identificar?

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Imagem: Getty Images/iStockphoto

André Aram

Colaboração para o VivaBem

11/06/2021 04h00

Desde que surgiu a pandemia, e com ela o isolamento social, intensificou-se um problema que atinge uma parcela da população (principalmente homens): o vício em pornografia. A dependência em conteúdo erótico pode ser descrita como uma busca obsessiva pelo prazer sexual através da visualização de material pornográfico e/ou masturbação. Esta última, quando associada à pornografia pode se tornar compulsiva, comprometendo o cotidiano e as relações sociais.

O mineiro Valmir*, 29, casado há três anos, admite passar entre 4 a 6 horas diariamente consumindo pornografia na internet, aliado a masturbação. A esposa desconhece o vício, que se agravou bastante com a pandemia: "Eu tinha muitos planos e a pandemia atrapalhou, como estou ficando mais em casa, o vício aumentou. Já cheguei a me masturbar 4 vezes em um dia".

Uma pesquisa realizada pela Netskope Security Cloud, empresa americana de software de segurança, apontou que no primeiro semestre de 2020 houve um aumento de 600% a sites pornográficos, em relação ao mesmo período em 2019. O relatório foi realizado com base em dados anônimos coletados pela Netskope.

Apesar de se enquadrar nesse aumento durante a pandemia, Valmir acredita que o problema o acompanha desde os 18 anos, mas só se tornou uma questão agora, já que tem atrapalhado sua vida sexual. Para ele, a pornografia e a masturbação substituem o desejo de fazer sexo com a esposa, mas não teve coragem ainda de buscar ajuda ou falar a respeito com ela.

Os problemas do excesso

Assim como uma droga, a pornografia satisfaz um desejo imediato por meio da masturbação/orgasmo, entretanto, o excesso pode trazer danos à saúde.

Para a psiquiatra Sônia Palma, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o vício em pornografia afeta o desempenho nas relações sexuais, o tempo perdido com conteúdo erótico pode acarretar um distanciamento da realidade e de seus compromissos diários, gerando um maior isolamento social e agravando um quadro depressivo, além de outros prejuízos. O que se iniciou como uma atividade prazerosa passa a ser procurada cada vez mais, até um ponto em que sua rotina diária e convívio social ficam prejudicados, de acordo com a psiquiatra.

O vício em pornografia também pode ter relação com a ninfomania. Também chamado de satiríase, esse transtorno psicológico em homens provoca um desejo exagerado por sexo, sem estar relacionado ao aumento na quantidade de hormônios sexuais. O desejo avassalador faz com que o homem tenha várias(os) parceiras(o) diferentes, sem sentir-se satisfeito sexualmente. Na busca pelo prazer, também inclui a masturbação frequente.

Em alguns casos, homens diagnosticados com satiríase estão mais propensos a atividades sexuais consideradas incorretas e anormais pela sociedade, e tendem a ter mais infecções sexualmente transmissíveis, não pela quantidade de parceiros, mas por "esquecer" do uso do preservativo no ápice da excitação. O diagnóstico deve ser feito por um psicólogo.

Pornografia: saiba quais são os prós e contras para sua vida sexual - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Vício gera consequências negativas no humor, autoestima, saúde, trabalho ou família
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Sou viciado?

Segundo Palma, existe na internet um teste com sete perguntas, com respostas sim ou não, sobre o vício em pornografia, usando critérios do DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais) e da OMS (Organização Mundial de Saúde). Essas perguntas podem dar uma noção do quanto uma pessoa pode estar comprometida com essa dependência e ajudam a triar o diagnóstico de vício. Em resumo, eles abordam:

  • Escalada: refere-se ao aumento do uso de pornografia para conseguir a mesma satisfação, ou a pessoa escalou para gêneros diferentes de pornografia ao longo do tempo;
  • Sintomas de abstinência: quando a pessoa interrompe o uso da pornografia e passa a experimentar sintomas físicos ou emocionais de abstinência, como: irritabilidade, ansiedade, agitação, dores de cabeça, suor ou náuseas;
  • Dificuldade de controlar o uso: às vezes faz uso de mais pornografia ou por mais tempo do que gostaria;
  • Consequências negativas: continua a usar pornografia, apesar de ter percebido consequências negativas no humor, autoestima, saúde, trabalho ou família;
  • Perda de tempo e de energia: perda significativa de tempo procurando, usando, escondendo ou se recuperando do uso de pornografia;
  • Desejo de parar: se já pensou em reduzir ou controlar o uso de pornografia, e quais tentativas malsucedidas foram feitas para parar ou controlar seu uso.

Tratamento inclui ajuda psicológica

O tratamento funciona basicamente como em qualquer outro tipo de vício: o ideal é que o dependente busque terapia com psicólogo e acompanhamento com psiquiatra, mas neste caso, ambos especializados em sexologia. O uso de medicamentos é indicado se o paciente apresentar comorbidades como ansiedade, depressão e outros transtornos. A duração do tratamento varia de acordo com o quadro clínico apresentado.

Segundo a psicóloga e sexóloga Tatiana Bovolini, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital e Maternidade Brasil - Rede D'or São Luiz ABC, é difícil para o ser humano admitir que tem um vício, seja ele qual for. Mas é importante que ele entenda que possui fraquezas e que nestes casos elas se tornaram algo maior em sua vida.

Robson*, 23, não se considera mais um refém do vício. Afirma que há dois anos conseguiu superar a dependência, mas revela ser uma luta diária, já o acesso à pornografia na internet é fácil. No passado, ele ficava 3 horas, em média, assistindo a filmes adultos, o que achava normal, mas notou que algo estava errado quando perdeu dois relacionamentos por isso.

O baiano credita sua "salvação" à religião evangélica: "Orei muito, em vez de ir no celular, lia a bíblia, comecei a malhar, e botei na mente o homem que queria ser no futuro, mas isso levou tempo, tive recaídas. Hoje estou curado e bem emocional, físico e espiritualmente", declara.

No caso de Valmir, apesar de também não ter buscado ajuda psicológica, ele tem apostado nos exercícios físicos e em banhos gelados para diminuir o consumo de pornografia.

Centros de Apoio

Alguns locais podem ajudar no tratamento. Veja a seguir:

Inpa

O Inpa (Instituto de Psicologia Aplicada), localizado em Brasília, oferece atendimento presencial e online para os que desejam abandonar o vício em pornografia virtual.

Safe Surfing

Possui objetivos variados, incluindo dependentes em pornografia. Todos os artigos e informações estão disponíveis em português.

D.A.S.A (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos - São Paulo)

Irmandade de ajuda mútua, para pessoas compulsivas de sexo, assim como apego sentimental desesperado. Dependentes de pornografia também podem buscar apoio no DASA, que conta com reuniões online via plataforma Zoom.

Instituto Delete - RJ

Núcleo especializado em Detox Digital e institucionalizado na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Conta com profissionais de saúde e outras especialidades.

*Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos entrevistados