Como as vacinas agem em quem tem o sistema imunológico ineficiente
Resumo da notícia
- Os imunossuprimidos são pessoas com o sistema imune deficiente seja por um doença congênita ou outras condições
- As vacinas podem ter respostas imunes mais baixas do que em uma pessoa saudável
- Em alguns casos, é preciso o reforço da dose, como no caso da hepatite B e, futuramente, talvez da covid-19
- Mesmo assim, imunizantes são essenciais para proteger pacientes contra diversas doenças
O sistema imunológico do nosso corpo é responsável por nos proteger de vírus, bactérias e outros agentes estranhos. Mas em algumas pessoas esse "exército protetor" pode não funcionar perfeitamente.
Há pessoas que nascem com uma falha neste sistema por causa de doenças congênitas, as chamadas de imunodeficiências primárias, ou algum problema genético. Existem também os casos das imunodeficiências secundárias, como pacientes com HIV, pessoas em tratamento de câncer ou quem passou por um transplante e necessita dos imunossupressores pelo resto da vida. O grau de imunossupressão divide-se em leve, moderado e grave.
Vacinas em imunossuprimidos: como funciona?
Por ter um sistema imunológico mais debilitado, a resposta imune para as vacinas, por exemplo, pode não ser a mais esperada. Mesmo com a resposta mais baixa do que em pessoas saudáveis, é de extrema importância que elas tomem todas as vacinas disponíveis —aqui, você pode conferir o calendário especial do CRIE (Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais).
"É uma questão polêmica. A depender do tipo de imunodeficiência, a pessoa terá pouca resposta à vacina. Mas qualquer resposta é melhor do que nada. Mesmo porque, por estarem nesta condição, esses pacientes têm maior possibilidade de evoluir com doença grave", explica Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), em referência ao imunizante contra a covid-19.
Mas isso também vale para outras vacinas, segundo Ronney Correa Mendes, membro do Departamento Científico de Imunização da Asbai e diretor clínico da Alergocenter Vacinação de São Luís (MA).
"De fato, a resposta desses pacientes às vacinas não vai ser igual, vai ser menor. Uns mais e outros menos. Curiosamente, em algumas pessoas quase não há diminuição, vai depender. Mesmo assim, ainda vale a pena. Um pouco de imunidade é melhor do que zero".
Reforço extra nos imunizantes
As vacinas contra a covid-19 ainda são recentes, mas as que estão em uso há mais tempo já possuem, inclusive, esquemas diferenciados. Como um reforço da dosagem, que já ocorre com o imunizante contra hepatite B. "A gente usa 0,5 ml na população geral, em três doses. Na população imunossuprimida, fazemos 1 ml em 4 doses. Como a resposta não é ótima, tentamos dar essa resposta imunológica mais robusta", explica Diniz.
Para a imunologista, mais para frente, talvez seja necessário também dar esse reforço da vacinação contra a covid-19, mas ainda não é capaz de prever quando. Inclusive, um estudo publicado no periódico Annals of Internal Medicine, no dia 15 de junho, já mostra que uma terceira dose do imunizante pode ajudar a proteger pacientes com sistema imune enfraquecido.
Os cientistas utilizaram uma amostra pequena de pacientes, foram 30 no total. Todos passaram por um transplante de órgãos e já tinham tomado duas doses das vacinas da Pfizer ou da Moderna. Eles descobriram que 24 participantes não criaram anticorpos contra a covid-19. Os seis restantes desenvolveram uma resposta baixa.
Após aplicarem novamente uma dose dos imunizantes da Pfizer, Moderna ou da Janssen, os níveis de anticorpos foram medidos duas semanas depois. Em pacientes que não tinham anticorpos no início, oito tiveram um aumento após a terceira dose da vacina. E nos seis pacientes que começaram com níveis baixos, todos tiveram aumento de anticorpos contra o coronavírus.
Algumas vacinas necessitam de cautela
Há também os imunizantes que devem ser evitados, como os de "vírus vivo" enfraquecido, que podem causar de fato a doença, como de febre amarela e a tríplice viral. Claro, há exceções, como quando há um surto da doença e, após decisão do médico, é levado em conta o risco/benefício.
"Os vírus ou as bactérias atenuados, nessa população, podem evoluir para a própria doença. Mesmo sendo vírus e bactérias enfraquecidos, o sistema imunológico deles também estará enfraquecido e, ao invés de produzir a resposta imunológica, ele pode evoluir para a doença, com surgimento de sintomas", explica Lorena.
Não é que essas pessoas não podem, nunca, tomar essas vacinas, mas é preciso precauções e cuidados específicos. Quem esclarece melhor é Mônica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários de Vacinação da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
"De um modo geral, as vacinas de 'vírus vivo' são contraindicadas para imunossuprimidos, mas é preciso avaliar caso a caso, cada vacina e cada situação. Às vezes, os benefícios ficam a favor da vacinação."
Para exemplificar, a médica cita a vacina de tríplice viral que pode, sim, ser aplicada em pessoas com HIV. Assim como a vacina contra catapora também pode ser feita em crianças com convalescência de leucemia.
Há ainda um componente importante para esse grupo, o "melhor momento da vacina". Levi dá mais um exemplo na prática: uma jovem que descobre o lúpus, doença autoimune, e que quer tomar a vacina contra HPV.
"Geralmente, a primeira parte do tratamento é mais agressiva para controlar a doença, com uma 'paulada' de imunossupressor. Não é o período ideal para fazer vacinação", esclarece a imunologista.
Já as vacinas de gripe, covid-19, pneumocócica, com o "vírus morto", são mais que indicadas a este público. Eles devem tomar.
Há mais formas de protegê-los
Os médicos já explicaram que, mesmo com um sistema imune mais fraco, essas pessoas devem, sim, ir atrás dos imunizantes. Mas existem outras formas que nós, pais, avós, amigos, professores e familiares, podemos ajudar essas pessoas.
Há uma estratégia chamada de "casulo", pensada especialmente para proteger os recém-nascidos contra diversas doenças, como a coqueluxe, mas que também pode ser utilizada em pessoas imunossuprimidas. Isso significa que quem convive com esse grupo (incluindo os bebês) precisa ter a vacinação em dia.
Inclusive, os CRIEs oferecem as vacinas de contactantes, isto é, para quem mora com uma pessoa imunossuprimida. Um exemplo é a vacina de gripe que tende a ser gratuita, especialmente para os idosos num primeiro momento. Mas quem vive com um paciente transplantado, por exemplo, pode conseguir acesso ao imunizante pelo CRIE antes.
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