Idoso com parceiro muito jovem? É bom tomar alguns cuidados com a saúde
Amor e atração não têm idade. Mas quando o assunto é o envolvimento de um idoso, seja homem ou mulher, com um parceiro 20, 30, 40 anos mais jovem, é preciso que ambos estejam cientes que, cedo ou tarde, sua saúde e disposição vão interferir na dinâmica da relação.
Claro que a sociedade e a tecnologia em prol da medicina avançaram muito e os tratamentos de reposição hormonal e medicações para impotência ajudam os idosos a não ficarem para trás.
"Entretanto, ainda assim a demanda de um parceiro jovem é diferente da de um parceiro maduro", aponta Paulo Camiz, geriatra e professor do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Segundo ele, sobre sexualidade, os jovens são naturalmente muito mais ativos e podem transmitir ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) que o idoso pode supor que pela idade não pega mais. Um grande equívoco.
Dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde sobre HIV/Aids, publicado em 2018, apontam que o número de pacientes com mais de 60 anos diagnosticados com HIV em 2007 era de 168. Em 2018, 627.
O último boletim, de 2020, reportou 38,5% de aumento no coeficiente de mortalidade por Aids em idosos de ambos os gêneros nos últimos dez anos. Para a maioria, o assunto sexo, o que inclui buscar informações e usar camisinha, ainda é tabu.
Alertas à saúde física e mental
Idosos são mais vulneráveis às ISTs —o impacto delas costuma ser maior no organismo deles do que em jovens—, por conta das mudanças biológicas inerentes ao envelhecimento e do aparecimento de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e alterações no colesterol.
O geriatra Camiz aponta que quando a diferença etária é muito alta, o mais velho também tende a se cobrar muito mais em termos estéticos e de desempenho físico e pode se prejudicar.
Se tomar remédio para o coração, a associação de nitrato, presente em muitas fórmulas, com o Viagra, por exemplo, pode causar queda brusca de pressão, AVC, infarto e até a morte.
Por isso, para tomar a pílula azul, é preciso se consultar com um médico. A indicação também vale para os idosos que desejam frequentar academia e se suplementar.
Alimentação, expectativas, rotina —o que inclui horários para acordar e dormir e ritmo para cumprir tarefas dento e fora da relação— devem ser alinhados considerando particularidades.
"Para a saúde e o casal não serem prejudicados, ainda mais devido a uma eventual projeção paterna, ou de filhos dentro da relação", explica Yuri Busin, doutor em neurociência do comportamento e diretor do CASME (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio).
Em se tratando do emocional...
Se com o acúmulo de anos, os idosos podem ter se "blindado" às decepções e desilusões amorosas, por outro lado, eventualmente se aparentam estar muito sensíveis, dependentes, em recuperação de cirurgia ou tratamento de alguma doença de risco, devem ser poupados de discussões, cobranças e situações que possam fazê-los se sentir infantilizados, retrógrados ou inferiorizados, como quando são alvos de comentários ou piadas na frente de outras pessoas.
"Se a pessoa se tolheu ao longo da vida inteira com medo de julgamentos, ou para atender expectativas da família e da sociedade, agora envelhecida, mas lúcida, autônoma e com a liberdade de se expressar e ser do jeito que é, não deve ser cerceada", afirma Natan Chehter, geriatra da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), acrescentando que para uma relação ser positiva, ambos devem querê-la e se sentirem seguros e felizes um com o outro.
Família deve acompanhar
Não é porque se tem mais de 60 anos que é preciso dar satisfações de sua vida íntima para os outros, ainda mais sendo alguém ativo e com as faculdades mentais preservadas.
Porém, filhos e amigos devem participar do que acontece com ele, principalmente para evitar que sofra algum tipo de abuso, coerção ou golpe e saber se tem descuidado da saúde. É esperado inclusive do idoso que namora uma interação maior e não o contrário.
Autora do estudo "Gênero e Velhice", Edivana dos Santos, psicóloga pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e mestre pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) aponta que, para o idoso, ter alguém representaria melhorias no aspecto social de sua vida.
"Ele terá alguém para se relacionar e possivelmente junto com a companheira, outras pessoas se aproximarão, como amigas, familiares e vizinhos, ampliando seu círculo social de amizades".
Quando isso não ocorre, então é importante um monitoramento, por vezes discreto, com telefonemas, ou até direto, com visitas surpresas, a depender da situação, para evitar que o idoso seja colocado em risco.
"Quem está próximo precisa ficar atento a qualquer mudança de comportamento, alterações de humor, tristezas repentinas, perdas de sono, de apetite, apatia, gastos excessivos e uso de álcool e drogas. Podem sinalizar problemas no relacionamento. Por isso, procure ter uma conversa assertiva ou peça ajuda", orienta Myriam Albers, psicóloga especializada pela Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) e da Clínica Maia (SP).
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